Em cima do muro
João A. de Souza filho
Junho de 2014
Lucas registra o
episódio de Trôade em que Paulo, o pregador, se prolongou demasiadamente – sob
a ótica atual pregou muito tempo – e um moço que estava assentado à janela
“vencido pelo sono”, adormeceu e caiu do terceiro piso. Era meia noite. O jovem
devia estar cansado. Êutico, “levantado como morto” foi socorrido por Paulo
que, certamente orou por ele e o ressuscitou. Este último dado não aparece no
texto.
Possivelmente havia
outras pessoas “vencidas pelo sono” naquela reunião, mas não caíram da janela
porque estavam assentadas no auditório! As pessoas que costumam se assentar na
janela ou em cima do muro caem com mais facilidade. O que se percebe hoje na
igreja é exatamente isto: Existem muitas pessoas que não se posicionam, não têm
ponto de vista firme; e, consequentemente são levadas por todo vento de
doutrina, por homens que induzem ao erro, como afirma Paulo.
Mas não apenas isto.
São pessoas que não têm um posicionamento doutrinário – vivem no ré-té-té da
vida religiosa; para elas a vida cristã não passa de divertimento religioso, de
brincar com a fé como crianças que brincam com seus joguinhos. Divertem-se nos
cultos da igreja ao som da nova música; das mensagens de autoajuda, das
pregações vitoriosas e da promessa de possuir mais e mais a cada dia.
Os que estão em cima do
muro ou sentados na soleira da janela vivem na fé rasa, sem profundidade
bíblica; desconhecem os fundamentos da fé e criam sua própria exegese ou
interpretação da Bíblia. Consequentemente estão expostas à iminente queda. E as
igrejas estão cheias dessas pessoas. Quando alguém prega uma mensagem bíblica é
tido como arcaico, ultrapassado, porque as mensagens de hoje apelam às emoções,
não ao intelecto e a fé. Se um pregador se apega ao texto e usa um português
correto não é compreendido pelos que se assentam na janela.
E às vezes parece que a
maior parte do auditório está sentada sobre o muro, e, do alto da posição
privilegiada olham à direita e à esquerda, observando o mundo e a igreja. Num
momento são fieis ouvindo a Paulo pregar; no outro estão no mundo, despencando
janela abaixo, morrendo. Sim, porque os que se assentam sobre o muro não apenas
caem; morrem mais facilmente na fé.
Em cima do muro estão
pregadores famosos que não se posicionam e, como barcos à deriva vogam no
balanço do mundo. Êutico se multiplicou; são milhões agora que subiram para o
muro e abandonaram a ortodoxia da fé; abraçaram as novidades do
neopentecostalismo. Até as igrejas outrora bíblicas hoje aderiram aos projetos
modernos; porque de cima do muro tudo parece mais fácil.
Fé se tornou sinônimo
de aquisições; evangélico, sinônimo de status social; cantor gospel, fama e
dinheiro. Os pregadores bíblicos contam as moedinhas; os que pregam para os que
vivem sobre o muro se deleitam com o beneplácito da boa renda e da fartura.
Hoje, pelo que se vê é
preferível sentar-se sobre o muro a ficar no centro onde se ouve e se analisa a
Palavra de Deus. O mundo é mais bem
visto do alto do muro; mas a fé é vivida no centro da Palavra de Deus.
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