sábado, 16 de maio de 2020


Como Conheci Otoniel e Oziel

O ônibus do Expresso Minuano gemia subindo pela BR-116 em direção a São   Paulo. As curvas fechadas da rodovia pela serra gaúcha entre Porto Alegre e Vacaria, disputando espaço entre caminhões e automóveis faria a viagem monótona e sonolenta não fossem os penhascos e rios que corriam pelo fundo dos vales que amedrontavam, e ao mesmo tempo encantava os passageiros. A fumaça dos cigarros impregnava o ônibus e se misturava à fumaça negra dos motores dos potentes caminhões. Depois de vinte e cinco horas de viagem chegamos ao terminal de passageiros em São Paulo, um pequeno local, porque a grande estação rodoviária atual era apenas um projeto no papel. Eu tinha apenas dezessete anos de idade e corria atrás de um sonho: Preparar-me para o ministério de pregação da Palavra de Deus.
Quando Deus dá um sonho, até as hienas fogem de você!
A partir de São Paulo, depois de duas horas de espera tomei um ônibus da empresa Pássaro Marrom com destino a Pindamonhangaba. Na rodoviária da cidade de Pinda, em 1964, os táxis eram charretes e raríssimos os automóveis. Sacolejando pela Rua São João Bosco entre casarios antigos e loteamentos novos, chegamos ao antigo prédio em que se instalara o IBAD – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus – em 1958. O endereço nunca se apagará da memória: Rua São João Bosco, 1114.
Era 25 de março de 1964. Dali a alguns dias as aulas teriam início, mas houve um atraso devido a demora do pastor Kolenda e esposa Doris que estavam nos Estados Unidos.
Logo a turma do segundo ano chegou e entre eles estava Otoniel Moura de Paula. A turma do primeiro ano foi chegando aos poucos, entre eles Oziel Moura de Paula, irmão de Otoniel. Uma semana depois estourou a revolução militar, o que impediu da maioria dos alunos matriculados para o primeiro ano chegarem. Nossa turma do primeiro ano foi a menor de todos os anos da escola: oito alunos! Ao meu lado se sentava Oziel e Elienai Cabral. Vestíamos paletó, camisa branca e gravata e o uso de sapatos era obrigatório. Nada de chinelos.
A partir daí a missionária Doris contava, então, com três jovens afinados na música: Otoniel, Oziel e Elienai, que, juntamente com Eliel, que já estava graduado formaram um dos mais belos quartetos do Instituto Bíblico.
Doris Lemos, esposa do pastor Kolenda possuía um ouvido absoluto, a ponto de identificar para nós, ao piano, em que tom estava cantando um pardal, e também tinha uma capacidade didática para ensinar música. Em dois anos os alunos aprendiam a solfejar e a fazer arranjos em quatro vozes sem o uso de instrumento algum, apenas usando as notas das pautas musicais na clave de Sol, Dó e de Fá. Apenas usando a técnica. Cantar em semitons é difícil, imagina, então cantar dividindo o semitom, arte que somente ela conseguia. Uma das alunas que entrou para o Instituto Bíblico em 1965 foi Otília de Paula, irmã da dupla Otoniel e Oziel, e, a partir daí a irmã Doris contava com uma voz soprano médio feminina. Anos depois ingressou na escola o Oséias de Paula.  

A música, “Eu Vivia no Pecado”

No ano de 1964 – último ano de Otoniel em Pinda, um grupo de americanos visitou o Instituto Bíblico numa turnê missionária. Encantados com os brasileiros, eles pediram ao Otoniel e Oziel que cantassem uma música bem brasileira. Para surpresa de todos, Otoniel pegou seu violão e, ao lado do poeta Oziel entoaram, para nós, alunos e para os jovens americanos, “eu vivia no pecado”. Nascia ali a primeira canção para o disco compacto que haveria de estourar no Brasil, começando pelo programa do Josias Meneses na rádio Copacabana do Rio de Janeiro, e nascia ali a dupla Otoniel e Oziel que revolucionaria a igreja Assembleia de Deus no Estado do Rio de Janeiro com a fundação da União da Mocidade das Assembleias de Deus do Estado do Rio – UMADER – que participei por vários anos até que viajei para os Estados Unidos.
A partir de 1966 os dois não pararam. Houve, sim, um intervalo de um ano em que Oziel precisou prestar serviço militar e foi enviado pelas forças brasileiras para a República Dominicana.
Depois postarei algo mais.