sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Frases sobre evangelização

Se o seu evangelho não está mexendo com os outros, é porque ainda não mexeu com você” (Curry R. Blake).

Eu só tenho uma vela de vida a ser consumida, e prefiro queimá-la numa terra plena de trevas do que num lugar onde já existem luzes suficientes” (John Keith Falconer).

Pregamos sobre a segunda vida (de Cristo), e metade do mundo nunca ouviu falar da primeira” (Oswald J. Smith).

O espírito de Cristo é espírito missionário; quanto mais perto dele nos achegamos, mais missionários nos tornamos” (Henry Martin).

Use o ministério para edificar as pessoas e não as pessoas para edificar o seu ministério” (Jacquelyn Heasley).

Nós os crentes somos devedores a todos os homens em todas as eras e lugares, mas, somos presunçosos para com os perdidos. Vivemos como em Laodicéia, mornos, miseráveis, e pobres. Por que tanta indiferença para com os perdidos? A condenação que pesa sobre nós é que sabemos que deveríamos viver melhor do que estamos vivendo” (Leonard Ravenhill). 

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A DIFERENÇA ENTRE IGREJA E REINO


A ORAÇÃO QUE JESUS ENSINOU:

Jesus nos ensinou a orar de maneira tão simples em Mateus 6.9-13. É uma oração completa e pode ser dividida assim:
1. Exaltando a santidade de Deus.
2. Exaltando e suplicando a chegada do governo de Deus.
3. Suplicando pelo alimento diário.
4. Suplicando para a solução dos relacionamentos interpessoais.
5. Suplicando para que Deus nos guarde dos perigos do Maligno.
6. Conclui: “Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre, amém!”.

Uma paródia atual: A igreja mudou a oração de Jesus e, parece que está orando assim:
Pai nosso que estás dentro de mim, interiorizado seja o teu nome, venha a nós a tua igreja, seja feita a nossa vontade tanto na terra como na igreja; os recursos financeiros nos dá hoje e perdoa as nossas faltas assim como tentamos perdoar a falta dos outros, e não nos deixes cair em tentação, pois tua é a igreja e tudo o que nela se contém. Amém.

INTRODUÇÃO:
Há uma grande confusão entre os cristãos a respeito do reino de Deus e a Igreja. As pessoas se perguntam se a igreja é o reino de Deus na terra, ou se devem esperar por um reino vindouro. Por ser um assunto difícil de ser entendido é que resolvi escrever este pequeno estudo. Comecemos pelas definições: A palavra “reino” vem do grego “basileia”, e o professor W.E.Vine define assim: “É primeiramente um nome abstrato que denota soberania, poder, domínio etc. (Ap 17.18)”. E está sempre ligada à presença de um soberano ou rei. Já a palavra “igreja” vem do grego “ekklesia” de ek, fora de, e klesis, um chamamento (vem de kaleo, chamar). De acordo com o W.E.Vine, era usada entre os gregos para falar de um corpo de cidadãos reunidos para considerar um assunto de Estado (Atos 19.39). Tem o sentido de “tirados para fora”, “congregados”. As assembléias, ou ajuntamentos, ou “igreja” eram reuniões que congregavam as pessoas em torno de uma proposta, ideias etc.
Orar o “Pai Nosso”, como Jesus ensinou implica em mudar três coisas: mudança de mentalidade; mudança no estilo de vida e mudança de conceito teológico.

I. Mudança de mentalidade.
Para se orar dizendo a Deus, “venha o teu reino”, é preciso ter mentalidade de reino. Portanto, é necessário uma mudança de mentalidade. O reino de Deus deve ocupar o primeiro lugar em nossas vidas. Temos que ter mentalidade de reino e não de democracia. No reino de Deus existe ordem e governo. Na democracia deveria existir ordem e governo, e quando tem governo, as próprias pessoas que o elegem são contra ele. No reino de Deus o governo emana de Deus e flui para Deus, portanto, tudo é de Deus, nada é nosso!

Mudar a mentalidade de “igreja” para “reino”. Uma coisa é trabalhar para a igreja, outra bem diferente é trabalhar na igreja com vistas ao reino de Deus.
Para que a nossa mente fique ainda mais esclarecida e entendamos bem a diferença entre o reino e a igreja, consideremos alguns aspectos:
A) A igreja é a assembléia daqueles que pertencem a Jesus Cristo, que aceitaram o evangelho do reino mediante a fé.
B) Podemos afirmar que o reino toma a sua forma na igreja, isto é, a igreja toma a forma do reino!
C) A igreja é o órgão do reino... É ela que vive e anuncia a chegada do reino de Deus a terra!
D) Precisamos entender que a igreja não é o reino de Deus, mas tem toda a constituição do reino, sua revelação, o seu progresso e sabe quando será a vinda total do reino a terra. Isto é, ela possui de antemão todos os direitos jurídicos que estabelecerão o reino de Deus na terra.
E) Precisamos entender que a igreja existe dentro do reino, porém, o reino não é restrito às fronteiras da igreja! O reino transcende a própria história. Podemos dizer, portanto, que o reino invade a história e afasta a tirania dos povos pela ação da igreja. Onde ela entra, o reino começa a penetrar em sua forma mais visível! Por exemplo, antes de Israel existir como nação, o reino se expressava na terra de outras formas, na vida de Noé, dos patriarcas, de Melquisedeque, etc.
F) Não somos herdeiros da “igreja”, mas herdeiros do reino. Isto é o que a Escritura fala, pois jamais encontramos a expressão “herdeiros da igreja”, mas repetidas vezes vemos a expressão “herdeiros do reino”.
G) A Escritura fala em “receber o reino”, mas não em receber a igreja. O reino se recebe, a igreja não!
H) Lemos sobre os “presbíteros da igreja”, mas jamais sobre “presbíteros do reino”. E estas diferenças devem levar-nos a refletir sobre a função de ambos.
I) Temos que destacar que a palavra “basileia” traduzida como reino ocorre 162 vezes; e no plural ela aparece somente em Mateus 4.8, Lucas 4.5, Hebreus 11.33 e Apocalipse 11.15. Por outro lado a palavra “ekklesia” ocorre 115 vezes, sendo 36 no plural e 79 no singular. Todas traduzidas como “igreja” exceto em Atos 19.32, 39-40 onde aparece como “assembléia”. Só o fato de termos menções diferentes em contextos diferentes devem levar-nos a pensar na função diferente de reino e igreja.
J) Lemos na Escritura sobre os “filhos do reino”, mas, nada sobre “filhos da igreja”.
K) Temos que entender que as características da ambos são diferentes. A igreja possui características diferentes do reino e vice-versa.
L) Os nomes e as citações de “a igreja”, nunca são usados para o reino. Isto pode ser visto nos seguintes textos onde a igreja tem várias definições, como corpo, lavoura, mas nunca reino (Ef 1.23; 2.21; 4.4,16; 5.30; Cl 1.24; 1 Tm 3.15).
M) A igreja tem o privilégio de reinar com Cristo, no reino futuro. Temos que entender que o reino, em todos os seus aspectos tanto atuais como futuros, se concentra em Jesus. O fato dos escritores falarem de “reino dos céus” e “reino de Deus” não altera o conteúdo do assunto. Isto é o que vemos nas parábolas que Mateus apresenta como “reino dos céus” enquanto outros evangelistas as apresentam como “reino de Deus.

II. Mudança no estilo de vida.
Orar, “venha o teu reino” implica numa mudança de estilo de vida: Todas as coisas que adquiro têm de estar alinhadas com o reino de Deus. O curso universitário e a profissão que adquiro, a casa em que resido e o carro que uso precisam estar alinhados com o projeto do reino de Deus na terra. Senão, estarão alinhadas com o meu projeto isoladamente, e não com o do reino de Deus. Até mesmo o estilo de vida da igreja, como a construção de casas, abrigos e templos precisam seguir as diretrizes do reino.

Qual o nosso procedimento?
A) Passamos a ver a igreja não com um fim em si mesma, mas agindo em função do reino de Deus! Com isso eliminamos aquela idéia localista, de que somos uma comunidade somente local, e leva-nos a uma integração com os irmãos na cidade e nos demais lugares. Onde há igreja, não vemos placa, cor, a denominação, mas vemos os irmãos agindo em função de Deus!
B) Passamos a ver e a respeitar a soberania de Deus em todas as coisas. Deus é soberano na história e foi esta soberania que nos alcançou. Ele cuidou de Israel e planejou nos incluir em seu propósito.
C) As organizações “a serviço da igreja” são, na realidade, a serviço do reino. As “para-eclesiásticas”, isto é, organizações a serviço da igreja, são na realidade, a serviço do reino, já que as pessoas que nelas trabalham são da igreja e agem em função do reino!
D) A igreja foi chamada para ser, aqui e agora o que Deus quer que a sociedade em peso seja. No projeto de Deus, há um povo que deve viver as demandas do reino, como se fosse o próprio reino estabelecido.
E) Nossa visão de reino nos ajuda a ter uma perspectiva cósmica da igreja; já não vemos somente o nosso “grupo”, mas, todos os “agentes” do reino na cidade. E isto adquire uma dimensão muito grande, pois nos vemos parte de um projeto de Deus que transcende a localidade, aos costumes, transcende as ênfases tanto de visão ou ação enlaçando-nos mutuamente no grande projeto de Deus que é o seu reino na terra!
F) Temos que entender que a igreja participará da entrega do reino de Deus, juntamente com Cristo (Sl 110.1; 1 Co 15.24; At 2.34,35; Ef 1.22). É aqui que ela entra como esposa do Cordeiro, pois, reinando com Cristo na terra, ela participará de forma grandiosa da entrega do reino ao Pai! Ela se torna igreja gloriosa, quando entende que não é igreja para si mesma, mas igreja em função de um projeto de Deus que é o reino Dele na terra! Aleluia!

III. Mudança de conceito teológico.
Ao orar “venha o teu reino” entendemos que o reino de Deus será estabelecido na terra, alinhado com as leis do céu: “assim como no céu”. A mudança de conceito teológico faz que os teólogos sejam mais sinceros com as verdades bíblicas, mais pragmáticos no ensino e mais diretos ao explicar o projeto de Deus, ainda que firam os conceitos da igreja institucionalizada.

A) Confusões teológicas que precisam ser esclarecidas sobre o reino.
A primeira confusão teológica procede da igreja Católica que enfatiza que a igreja por si só é o reino de Deus materializado na terra. Ela acredita que a igreja é o reino. Daí entende-se o esforço que a igreja Católica faz para ocupar todos os segmentos da sociedade. O Vaticano tornou-se Estado independente, domina o mercado financeiro, influencia politicamente as decisões dos países, e é o Estado que tem mais propriedades em todo o mundo, porque crê que a igreja é o reino na terra.
A segunda confusão teológica veio, consequentemente, com os reformadores. Esses, em contrapartida, puseram sua ênfase no sentido espiritual e invisível do reino interpretando Lucas 17.20: “O reino de Deus não vem com aparência exterior”. A reforma levou o entendimento de reino e igreja para outro extremo. Para a reforma, o reino é meramente espiritual!
Depois, em terceiro, veio o movimento pietista que colocou o reino num sentido muito individual, como a paz no coração do homem etc. O reino, então, adquiriu um sentido muito restrito, pequeno, ínfimo e individualizado.
Em quarto aparece o liberalismo teológico que, (especialmente sob a influência de Kant), deu uma conotação puramente moralista, dizendo que o reino é paz, amor, justiça e tranquilidade. Assim, onde há paz e amor, onde a justiça é praticada e houver tranquilidade, aí estará o reino.
Em quinto, temos, num outro extremo, aqueles que trazem o evangelho social e creem que através dele que o reino chegará a terra. Isto veio especialmente por parte dos norte-americanos e, em parte da teologia da libertação.

Temos que crer, e entender que, fundamentalmente o reino está presente na terra, trazendo salvação e a presença de Deus na história. É interessante observar a parábola que Jesus contou aos discípulos, já que eles pensavam estar perto o reino de Deus. Diz o texto que “Jesus propôs uma parábola, visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente” (Lc 19.11). Observe que a razão de Jesus proferir a parábola era porque eles entendiam que o reino estava para chegar imediatamente! E contou a história do homem nobre que partiu para uma terra distante e chamou seus servos...

A igreja é, portanto, a agência do reino e a ela cumpre o dever de trazer todas as coisas sob domínio e senhorio de Jesus Cristo. Não é o evangelismo nem a ação social divorciados entre si que trarão o reino. A igreja está proclamando que o reino virá, ao mesmo tempo em que vive o reino de Deus na terra!

A generosidade do povo de Deus:
A diferença entre o reino de Deus e o de Satanás

O reino de Deus e o de Satanás são opostos entre si. O reino de Satanás é um reino de individualismo, de mesquinhez e de ódio. Haja vista as obras da carne, conforme a lista de Romanos 1.30,31: “...caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia”. No reino de Satanás os súditos têm essas características. Imagine viver num reino onde a calúnia, a traição (perfídia) e a falta de misericórdia fazem parte do dia-a-dia das pessoas.
E mais: Gálatas 5.19-21 nota-se que no reino de Satanás impera a “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a esta”. Nem a pior das sociedades antigas ou das cidades apresentadas nos filmes de faroeste americano, ou a sociedade mais animalesca têm características iguais a estas. E é nesse reino de Satanás que a sociedade como um todo está inserida.

O reino de Deus é de amor, generosidade, cuidado e tolerância. Para entender alguns princípios do reino de Deus torna-se necessário examinar as leis que Deus deu ao povo de Israel no Antigo Testamento, cujo objetivo era o de ensinar a nação de Israel a ser amorosa, bondosa para com os órfãos, com as viúvas, com os pobres e com os estrangeiros. O que não significa que um súdito do reino de Deus seja pobre e miserável por ter que dividir com seu irmão os seus bens. O melhor amigo de Deus, Abraão, era um homem muito rico (Gn 13.1).

I. Por natureza, Deus é dadivoso e benevolente.
Deus não faz acepção de pessoas. Jesus deixou isso bem claro, quando exortou seus seguidores que o Pai celeste “faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam que Deus lhes dê alguma recompensa? Até os cobradores de impostos amam as pessoas que os amam! Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que estão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso!” (Mt 4.43-47 – NTLH). A questão é: Se amamos apenas os que nos amam, não teremos recompensa alguma de Deus. Qualquer pessoa ama os que lhe são chegados. Mas, no reino de Deus o amor é incondicional e devemos amar os que nos odeiam! Esse é o nível da perfeição de Deus.

A benevolência e generosidade de Deus foram mencionadas por Paulo.
Mas Deus sempre mostra quem ele é por meio das coisas boas que faz: é ele quem manda as chuvas do céu e as colheitas no tempo certo; é ele quem dá também alimento para vocês e enche o coração de vocês de alegria” (At 14.17). Os judeus usavam a expressão “chave das chuvas”, admitindo ser uma das chaves que Deus possui e que ele não entrega a ninguém. É a bênção de Deus à humanidade que Deus distribui para justos e injustos, e concede também aos gentios que vivem em sua ignorância. A expressão estações frutíferas se refere à primavera, verão (tempo da messe) e outono quando frutos diferentes aparecem. Enchendo nossos corações de alegria” (comentário sobre o texto, de John Gill na Bíblia On Line).

A) Para que não se orgulhassem, Deus deu ao povo de Israel leis que os levavam a ser generosos.
1. Ensinou-os a dar dízimos e ofertas (Dt 12.6; 14.22-26).
2. Deus os ensinou a deixar parte do que colhiam para os mais pobres da terra. Caso esquecessem um molhe de cereais no campo, não podiam voltar para buscá-lo. Era deixado para os estrangeiro, o órfão e para a viúva. Esta era a condição imposta por Deus para que o Senhor voltasse a abençoá-los (Dt 24.19).
3. Deus colocou regras para a colheita das árvores e plantas frutíferas (Dt 24.19-22).
4. Deveriam amparar seus irmãos que empobrecessem (Dt 15.7-8).
5. Tinham que ajudar o irmão pobre, nem que fosse no sexto ano e faltasse menos de num ano para que toda a dívida fosse perdoada (Dt 15.9-10).
6. Deus os lembrava que deviam se lembrar dos forasteiros e peregrinos “Não esqueçam que vocês foram escravos no Egito” (Dt 16.12; 24.18).
7. Não podiam cobrar juros: A teu irmão não emprestarás com juros, seja dinheiro, seja comida ou qualquer coisa que é costume se emprestar com juros” (Dt 23.19; Lv 25.35-38).
8. Deus estabeleceu que a cada sete anos fosse o “ano da remissão”. Veja os textos de Levitico Lv 25.2-6. No ano do descanso a terra não podia ser arada nem os frutos colhidos. A terra deveria descansar. Os animais eram soltos nos campos. Eles podiam comer do que espontaneamente nascesse, mas não podiam negociar os frutos colhidos daquele ano. No sexto ano Deus lhes permitia colher três vezes mais para comer nos dois anos seguintes: “Mas alguém é capaz de perguntar como é que haverá comida durante o sétimo ano, quando ninguém vai semear nem fazer a colheita. A resposta é que Deus abençoará a terra, e no sexto ano ela produzirá colheitas que serão suficientes para três anos. Quando vocês semearem os seus campos no oitavo ano, estarão comendo daquilo que colheram no sexto ano, e haverá bastante para comerem até a colheita do nono ano” (Lv 25.20-22).
9. As dívidas dos irmãos judeus eram perdoadas (Dt 15.2).
10. Os escravos eram alforriados (Dt 15.12).
11. No ano da remissão, todo hebreu que tivesse empobrecido e se tornado escravo era alforriado. Seu irmão-senhor deveria indenizá-lo pelos anos que trabalhou (Dt 15.12-14).
12. A lei da alforria a qualquer judeu que fosse escravizado. Se um hebreu se tornasse escravo de um não-judeu poderia ser resgatado por um de seus irmãos. O preço do resgate era estipulado pelos anos que faltassem para o jubileu que era a cada cinquenta anos (Lv 25.47-53). Caso não fosse resgatado por um de seus irmãos, no sétimo era automaticamente alforriado.
13. O que acontecia a cada cinquenta anos:
13.1. A cada cinqüenta anos ocorria o jubileu da terra (Lv 25.8-10).
13.2. Deus é o dono da terra (Lv 25.23), e no quinquagésimo ano a terra voltava ao antigo dono, geralmente para o líder da tribo (Lv 25.10-13; 27.24). “No Ano da Libertação todas as terras que tiverem sido vendidas voltarão a pertencer ao primeiro dono” (Lv 25.10-13).
13.3. A terra poderia novamente ser arrendada para outros, e o preço do arrendamento era o número de safras. Todas essas leis regiam a nação de Israel. A terra não podia ser vendida perpetuamente, porque pertencia a Deus.

B) Existem muitos textos que abordam a ajuda aos pobres e necessitados.
Examine estes:
Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. O Senhor o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama” (Sl 41.1-3).
Levanta-te, Senhor! Ó Deus, ergue a mão! Não te esqueças dos pobres... Tu, porém, o tens visto, porque atentas aos trabalhos e à dor, para que os possas tomar em tuas mãos. A ti se entrega o desamparado; tu tens sido o defensor do órfão” (Sl 10.12,14).
Tens ouvido, Senhor, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás, para fazeres justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem, que é da terra, já não infunda terror” (Sl 10.18).

Que o Senhor ouve o clamor do pobre e do oprimido é destaque em toda a Bíblia. Acredita-se que os irmãos da igreja de Atos levaram a sério os acontecimentos do dia de Pentecoste, porque acontecera no ano do jubileu da terra, redistribuindo as terras e remindo os escravos em Jerusalém. A generosidade dá oportunidade de abrir o coração a Deus para que ele dê mais ainda. O povo precisa descobrir que a generosidade traz a presença de Deus aos lares.

C) O cuidado de Deus com os pobres
O cuidado de Deus com o pobre, órfãos, viúvas e injustiçados é visto em toda a Bíblia. Deus tem especial predileção pelos pobres e desamparados. Qualquer sistema de governo seja de direita, de centro ou de esquerda que se preocupe com os pobres e com os injustiçados parece receber o aval de Deus ao longo da história. O Salmista afirma que Deus “se põe à direita do pobre, para o livrar dos que lhe julgam a alma” (Sl 109.31).
Nenhuma viúva ou órfão podia ser afligidos ou mal-tratados pelo povo de Israel (Ex 22.22), porque ele é o Deus “que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes” (Dt 10.18). Ou como afirma noutra parte: “... tu és o nosso Deus; por ti o órfão alcançará misericórdia” (Os 14.3).
Sob maldição ficavam os que pervertiam ou torciam o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva (Dt 27.19). Isso ainda vale para os nossos dias, senhores que fazem a política do Brasil. Um país que acolhe estrangeiros fugindo de sistemas políticos opressores ou em busca de melhoria de vida terá, sempre, os olhos de Deus sobre ele.
Jó confirma a palavra de Deus e afirma que “... assim, fizeram que o clamor do pobre subisse até Deus, e este ouviu o lamento dos aflitos” (Jó 34.28). Porque o próprio Deus declara que se apressará em julgar os que “defraudam o salário do diarista, e oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 3.5).
Deus afirma que voltaria a abençoar o povo se este parasse de oprimir o estrangeiro, o órfão e a viúva: “Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de recompensas. Não defendem o direito do órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas” (Is 1.23).
Mas, se deveras emendardes os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras praticardes a justiça, cada um com o seu próximo; se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses para vosso próprio mal, eu vos farei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais, desde os tempos antigos e para sempre” (Jr 7.6).
Assim diz o Senhor: Executai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor; não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar” (Jr 22.3).

Deus associa o cuidado dos marginalizados da sociedade e pobres ao direito do povo continuar residindo na terra de Israel.
Assim, a ordem era: “não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu próximo” (Zc 7.10). Ana, mãe de Samuel interpretou corretamente o pensamento do coração de Deus quando afirmou que ele “Levanta o pobre do pó e, desde o monturo, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do SENHOR são as colunas da terra, e assentou sobre elas o mundo” (1 Sm 2.8).
Quando a viúva do profeta falou a Eliseu que o marido morrera, e que os credores apareceram à porta para levar seus filhos como escravos, pelas dívidas deixadas pelo marido, Deus ouviu o clamor daquela viúva e multiplicou o azeite da botija, de tal sorte que ela vendeu o azeite, pagou as dívidas e ainda conseguiu recursos para sustentar a família (2 Rs 4.1-7).
Talvez esteja aí a razão do sucesso de Agar. Depois de ser mandada embora de casa com seu filho, apenas com um pouco de água e pão, Agar se desesperou no deserto ao vir seu filho clamar a Deus. “Deus, porém, ouviu a voz do menino” e Agar viu um poço de água. Com ela saciou a sede do rapaz. Pelo visto, Agar passou a viver junto daquele poço, porque “Deus estava com o rapaz, que cresceu, habitou no deserto e se tornou flecheiro” (Gn 21.17-21). Tenho plena certeza que Agar passou a vender a água de seu poço aos caravaneiros que vinham do Egito. Ali viveu com seu filho; ali o casou e ali criou seus doze netos, filhos de Ismael.

Sodoma foi destruída por não socorrer os pobres e necessitados.
Havia prostituição sexual em Sodoma, mas a destruição da cidade se deveu a um agravo maior: O desprezo aos pobres. “Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado” (Ez 16.49). Quer dizer: Deus condenou Sodoma porque era próspera, tinha abundância de tudo, mas os pobres da cidade viviam desamparados. Certamente injustiçados. Quando as leis de uma nação não protegem os pobres, e quando seus líderes usam o povo como massa de manobra para proveitos pessoais, Deus coloca essa cidade, Estado ou país sob condenação.
À luz desses episódios e textos do Antigo Testamento é possível conhecer o coração de Deus em relação aos pobres e necessitados. Se é assim, por que a igreja vem se omitindo no cuidado aos injustiçados, aos pobres e desamparados pela sociedade?

II. O ensino de Jesus e dos apóstolos no Novo Testamento.
Jesus se preocupava com os pobres. Os apóstolos lembraram a Paulo, o apóstolo dos gentios do que Jesus dissera. Paulo cita esta orientação em sua carta aos gálatas: “... Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer” (Gl 2.10).
Jesus fala dos que são perseguidos por amarem a justiça, dizendo que eles são bem-aventurados e que deles é o reino dos céus (Mt 5.10). O testemunho de seus discípulos a respeito de Jesus indica que ele se esforçou em ajudar os necessitados, porque, sendo ungido pelo Espírito Santo, “andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38). Jesus trabalhava com o que havia em suas mãos: Curava os enfermos e libertava as pessoas oprimidas pelo diabo. Essa opressão de que a Bíblia fala tem dois lados: Opressão espiritual e social. Os pobres da época de Jesus eram oprimidos socialmente pelo regime religioso dos hebreus, e pelo regime militar imposto por Roma. Precisavam pagar impostos aos romanos de toda sua produção, fossem grãos ou azeitonas. Sempre havia um publicano por perto, cobrador de impostos a serviço dos romanos que à porta da cidade recolhia os impostos!
O reino de Deus possui características diferentes do reino de Satanás. No reino de Deus deve imperar a justiça social, a distribuição de renda, o direito a terra e ao plantio, e o cuidado com os mais necessitados e abandonados pelo poder público.

A) Paulo, a fé e as boas obras.
É preciso entender as duas declarações de Paulo, de que ninguém é salvo pelas “obras da lei” e de que fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras.
Paulo fala na carta aos efésios: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10). Paulo está afirmando que a salvação vem pela fé e pela graça de Deus, mas que fomos criados em Cristo Jesus para a prática das boas obras. O texto que mencionei acima continua da seguinte maneira: Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2.11-15).

Isso quer dizer que a salvação implica também na prática das boas obras. Paulo, por certo está insinuando que a salvação é pela graça, mas o objetivo dessa graça é levar as pessoas nascidas de novo a exercerem seu papel na sociedade cuidando dos pobres e necessitados. A graça de Deus tem como objetivo nos educar para viver de maneira “sensata, justa e piedosamente”.
Fomos purificados de nossos pecados, porque Deus quer uma nação, um povo “exclusivamente seu, zeloso e de boas obras” (Tito 2.14).
Aqueles que pensam que boas obras é coisa da lei – e quando Paulo fala em obras da lei não está se referindo a obras de justiça social, e sim dos sacrifícios e ofertas para purificação dos pecados – precisam rever seu ponto-de-vista. Salvação pela fé e pela graça, e as boas obras a favor dos necessitados andam de mãos dadas. Obviamente que as boas obras não nos salvam – quer sejam as boas obras a favor dos necessitados ou obras da lei – como condição para a salvação, mas as boas obras contarão como nosso galardão no céu.
Se as boas obras antes da salvação não tivessem efeito algum, como explicar o fato de que Cornélio foi ouvido por Deus devido as suas orações, jejuns e boas obras? Antes de conhecer a salvação pela graça em Cristo Jesus, Cornélio é mencionado como homem “piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus”. E que lhe disse o anjo? “As tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus” (At 10.1-4). Pois bem, que expliquem os teólogos como as boas obras de Cornélio eram anotadas no céu antes de ser salvo por Jesus Cristo!

B) Acumulando para a eternidade.
1. Contribuir financeiramente, conforme Paulo, acumulamos tesouro nos céus.
Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida” (1 Tm 6.17-19).
O comentarista John Gill diz a respeito: Acumular tesouros nos céus, que durem eternamente. O que se acumula aqui fica para os outros, para os parentes e até para os estranhos, e não se sabe para quem; o que se acumula nos céus é para si mesmo. Dizem que o rei Mumbaz distribuiu as riquezas do seu pai para os pobres, quando vieram seus amigos e reclamaram. Ele lhes respondeu: “Meu pai entesourou aqui embaixo; eu entesourei lá em cima; o tesouro de meu pai ficou para os outros; eu acumulei lá em cima pra mim mesmo; meu pai acumulou para este mundo; eu acumulei tesouro para o mundo vindouro” (John Gill, na Bíblia on Line). São do reverendo Dr. Charles L. Heuser as palavras: “Ao morrer, você não leva consigo o dinheiro que economizou durante a vida, mas leva o dinheiro que doou. Você não leva a comida que estocou, mas leva a que dividiu com os outros. O que deu para ajudar os outros, você leva. O que você manteve consigo fica para trás”.
John Wesley em seu comentário do Novo Testamento afirma que esses textos são uma espécie de post script. Ele afirma que as pessoas ficam ricas se o mundo lhes permitir. E diz: “Não pensem que vocês são o tal, porque têm muito dinheiro. Não confiem nas riquezas, mas em Deus. As boas obras ficam como memorial diante de Deus!” (WESLEY, John, Explanatory Notes upon the New Testament, London, the Epworth Press, 1754, p 786).
Devemos incentivar e exortar os irmãos na prática das boas obras. É isto que diz o autor de Hebreus: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb 10.24). E é esse me objetivo: Estimulando os meus irmãos em Cristo a que amem mais e pratiquem boas obras, porque estas são o grande antídoto ao veneno do mundo.

C) Os apóstolos e a igreja praticavam as boas obras.
Os apóstolos também se empenhavam na prática das boas obras. Eles não apenas ensinavam, mas praticavam boas obras. O verdadeiro apóstolo, além de operar milagres, de zelar pela doutrina apostólica e de fundar novas igrejas deve se desprender financeiramente e lutar pela causa dos pobres e necessitados. Isto implica em confrontar os políticos, os partidos, e em desafiar as autoridades governamentais. Mas, não se vê apóstolos hoje desafiando os líderes políticos a cuidarem mais dos pobres e dos aposentados idosos. Ao contrário, os apóstolos de hoje têm aviões particulares e nem ligam para a comunidade pobre.
No Novo Testamento, dois apóstolos, Paulo e Barnabé subiram de Antioquia para Jerusalém carregando fardos de alimentos – certamente em lombos de mulas – para socorrer os cristãos pobres da Judéia (At 11.29-30). Dois apóstolos com fardos sobre mulas ou em carroças puxadas por burros.
Sei o que é carregar fardos pesados às costas, porque várias vezes carreguei sacolas com Bíblias que pesavam trinta quilos cada, pelas ruas Praga e de outras cidades da Europa Oriental para socorrer os irmãos que viviam sob o regime comunista. Mas, era compensador ver a alegria dos pastores que nos recebiam às ocultas altas horas da noite, quando chegávamos com a mercadoria. Não podíamos encostar o automóvel na frente da casa deles, e quando o fazíamos deixávamos o carro escondido em alguma garagem.
Onde estão os profetas e apóstolos que se levantam em defesa dos pobres e dos necessitados? Estão dormindo em camas confortáveis, dirigindo carros de luxo e hospedando-se em finíssimos hotéis, às vezes, à custa desses pobres que tanto precisam ser ajudados. O conforto é bom e faz bem, mas não se deve esquecer, jamais dos pobres e necessitados.
Até as viúvas que recebiam da igreja deveriam ter exemplo de boas obras (1 Tm 5.9-10). “Seja recomendada pelo testemunho de boas obras”.
1. Deus nos deu habilidades manuais. Coisas que podemos fazer com as mãos.
2. Esses ricos deveriam ser ricos em boas obras (v 18).
3. O que seria estar preparado para “toda a boa obra”? (2 Tm 2.21 e 3.17; Tt 3.1). Paulo explica mais adiante: “Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens” (Tt 3.8). O destaque deve ser ao da prática das boas obras (Tt 3.14).
Quem não pratica as boas obras é infrutífero! Os judeus dizem que quem não ensina um negócio ao filho, faz dele um ladrão.
Veja o comentário de John Gill sobre Tito 3.14: “Quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras. Não somente através do comércio honesto e legal, como alguns dizem ser o sentido dessa frase, de que um negócio é um trabalho, uma obra. E um trabalho honesto ou um emprego honesto é uma boa obra. Todos devem procurar ser honestos. Os judeus dizem que quem não ensina um filho a negociar, é como se o ensinasse a roubar. Por isso, os mestres eram acostumados a fazer negócios (Mc 6.3). Assim era Paulo – mesmo educado aos pés de Gamaliel – aprendeu uma profissão para suprir suas necessidades, e assistindo aos demais que estavam com necessidades. Podem com isto ajudar na pregação do evangelho, nos interesses de Cristo, ajudar os vizinhos, as igrejas e famílias. Existem quatro coisas que um homem deveria prestar atenção com todas as suas forças: A lei, boas obras, oração e negócios. Se é um mercador, que negocie; se um negociante, que negocie; se um guerreiro, que guerreie”.
Cristo ressuscitou a Dorcas e ela voltou a fazer as túnicas para os pobres (Atos 9.36-39). Por isso, o autor aos hebreus diz: Hebreus 13.20,21: “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre” (Hb 13.20-21).   
Uma das razões de Deus dar dons aos membros do corpo de Cristo é o de acabar com o individualismo e trazer o coletivismo. Isto faz que o reino de Deus contraste fortemente com o reino de Satanás.

CONCLUSÃO: A cultura do reino
A igreja não é o reino, mas deve espelhar e espalhar a cultura do reino de Deus. Que cultura é esta? E como pode ser vista?
Analise os seguintes pontos:
1. A cultura do reino tem princípios ou ensinamentos dos quais a igreja não pode abrir mão. Uma síntese da cultura do reino é fornecida por Jesus no Sermão do Monte (Mateus 5, 6,7). Outro aspecto da cultura do reino são as leis de muitos países ocidentais que se baseiam nos dez mandamentos de Êxodo 20, e leis civis que têm suas raízes nas leis dadas por Deus a Moisés. Ou abrem a Constituição com a frase “em nome de Deus”.
2. A música serve de bom instrumento para espalhar a cultura do reino para a sociedade. Os cânticos, muitas vezes saem das fronteiras da igreja e influencia a mentalidade do mundo. Muitas óperas, árias e peças musicais foram escritas por cristãos espalhando a cultura do reino. João Sebastian Bach, viveu para a igreja, e era membro da igreja Luterana e suas obras não ficaram restritas á igreja, porque fazem parte do reino.
O Messias de Handel tem uma letra que enaltece e engrandece a pessoa de Jesus Cristo, e influenciou a tal ponto a sociedade que o coro “aleluia!” é usado em comerciais mundanos e apelos gerais. Muitos cristãos nunca ouviram e leram simultaneamente toda a música de Handel.
Os spirituals, ou cânticos dos negros americanos são entoados ao mesmo tempo nasigrejas, shows de calouros, bares, casas noturnas e em restaurantes, porque atravessaram as fronteiras da igreja e espalharam o reino de Deus.
3. Pela arte. Quando se visitam as grandes catedrais da Europa, as estátuas em tamanhos normais mostram a cultura do reino; Um Davi, de Michelângelo, as pinturas de Rafael, as poesias de escritores famosos como João Milton, Castro Alves, os escritos de Monteiro Lobato, as obras de Rui Barbosa, são explosões da cultura do reino que invadem a sociedade.
4. Os grandes corais e orquestras também são explosões da cultura do reino que a igreja espalhou pela terra.
E poderia se falar em livros, como a série Nárnia, de C. S. Lewis; O Senhor dos Anéis deJohn Ronald Reuel Tolkien;  a Divina Comédia, de Dante e sua descrição do mundo dos mortos e do inferno; João Milton e o Paraíso Perdido; Mobby Dick, de Hermann Melville, filmes, como Deus não Está Morto, Cor Púrpura, para citar alguns, peças de teatro etc. em que a cultura do reino transcende a vida da igreja e alcança toda a sociedade. Até os quadrinhos dos Peanuts com Snoop e Charlie Brown têm verdades do reino nos textos.
Finalmente, a igreja espalha a cultura do reino pelo estilo de vida de seus membros, pela honestidade, amor, boas obras e relacionamentos interpessoais.



quarta-feira, 26 de agosto de 2015

João, evangelista


A missão de João

(Tradução de João A. de Souza Filho, do livro Church History de Philip Schaff). 

Pedro, apóstolo da autoridade aos judeus, e Paulo, apóstolo da liberdade aos gentios haviam completado sua obra na terra antes da destruição de Jerusalém – tarefa cumprida para aqueles dias e para os dias vindouros, cujos escritos permanecem e que jamais serão superados. Ambos eram mestres construtores. Pedro lançou os fundamentos; Paulo ergueu a estrutura da igreja de Cristo levantando-a contra os portais do inferno. Mas havia muito trabalho adicional a ser realizado, um trabalho de unidade e de consolidação. Esta missão foi deixada para o apóstolo do amor, amigo do peito de Jesus que se tornou o reflexo perfeito de Cristo até onde um ser humano pode ser, em santidade e pureza.

João não era um missionário ou um homem de ação, como Pedro e Paulo. Até onde se sabe, João pouco fez pela expansão do cristianismo, mas muito fez pela vida interior do cristianismo nos lugares onde este já havia sido estabelecido. Ele nada diz a respeito do governo, as formas, ritos da igreja visível (até mesmo seu nome não aparece em seu evangelho e nas epístolas por ele escritas), e destaca sempre a substância espiritual da igreja – a união vital dos crentes com Jesus Cristo e a comunhão dos crentes entre eles. Ele era apóstolo, evangelista, profeta da nova aliança tudo ao mesmo tempo. Viveu até o fim do primeiro século para que pudesse erigir o fundamento e a superestrutura da era apostólica conforme a revelação que teve de um novo céu.

Esperou em meditação silenciosa até que a igreja amadurecesse e pudesse receber seus ensinamentos sublimes. Isto fica evidente pelas palavras misteriosas de nosso Senhor a Pedro em referência a João: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me”. [1] Sem dúvida, o Senhor estava à frente do terrível juízo que caiu sobre os habitantes de Jerusalém. João viveu para ver tudo isto e seus ensinamentos e caráter permanecerão até os últimos estágios da história da igreja (antecipada e tipificada por Pedro e Paulo) até a vinda de nosso Senhor. No sentido mais amplo o Senhor ainda tarda em vir até o dia de hoje, e os escritos de João com sua profundidade e altura esperam pelo intérprete certo. O melhor virá depois. Na visão de Elias no monte Horebe o vento que soprava quebrando as rochas dos montes, o terremoto e o fogo precederam a voz suave de Deus (1 Rs 19.11-12).
A coruja de Minerva, a deusa da sabedoria começava seu vôo ao entardecer. A tempestade da batalha prepara o caminho para a festa da paz. O grande guerreiro da era apostólica tocou a nota chave do amor que traria harmonia às duas seções do cristianismo. E João somente concordou com Paulo quando revelou o coração interior do ser supremo murmurando com profundidade a maior de todas as definições: “Deus é amor” (1 Co 13.1; 1 Jo 4.8,16).  
João nos Evangelhos

João provavelmente era o filho mais novo de Zebedeu e Salomé, e irmão de Tiago, o mais velho, que se tornou o primeiro apóstolo a ser martirizado. [2] João talvez fosse dez anos mais jovem que Jesus e, conforme os testemunhos unânimes da antiguidade viveu até o reinado de Trajano, isto é, até depois de 98 d. C., e deve ter morrido depois dos noventa anos de idade. Era pescador e vendedor de peixes, provavelmente em Betsaida (como Pedro, André e Filipe). Seus pais, ao que parece viviam confortavelmente, e tinham servos na casa. Sua mãe é mencionada ao lado de um grupo de mulheres notáveis que seguiam a Jesus e o serviam com seus bens, e que compraram bálsamo para o seu sepultamento e foram as últimas pessoas a abandonarem a cena da crucifixão, e as primeiras a visitarem o sepulcro vazio. João era conhecido do sumo sacerdote e tinha uma casa em Jerusalém ou na Galileia para onde recolheu a mãe de nosso Senhor. [3]
Era primo de Jesus segundo a carne e sua mãe era irmã de Maria.[4] Este relacionamento, juntamente com o entusiasmo da juventude e o fervor de sua natureza emocional formaram a base de sua intimidade com o Senhor. Ele não possuía treinamento rabínico, como Paulo, e aos olhos dos sábios judeus era como Pedro e os demais discípulos galileus, tidos como “iletrados e incultos” (At 4.13). Mas ele passou pela escola preparatória de João Batista que concluiu sua missão profética testemunhando que Jesus era o “ordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo”, testemunho que mais tarde João, o apóstolo explicou com detalhes em suas epístolas. Foi este testemunho que o levou até as barrancas do rio Jordão naquela memorável entrevista, onde, meio século depois, ele se lembrou do episódio. [5] João não era apenas um dos Doze, mas o escolhido dos três escolhidos. Pedro se destacava tendo certa preeminência em público como amigo do Messias. João era conhecido no círculo íntimo como amigo de Jesus. Pedro sempre mirava o caráter oficial de Cristo e perguntava o que ele e os demais apóstolos deveriam fazer. João olhava diretamente para Jesus e queria sempre aprender o que o Mestre ensinava. Eles eram diferentes assim como Marta e Maria. Marta, ansiosa por servir, enquanto a meditativa Maria anelava aprender. João, sozinho com Pedro e seu irmão Tiago testemunharam a cena da transfiguração e também a cena do Getsêmane – a mais alta exaltação e a mais profunda humilhação na terra sofrida por nosso Senhor.

João reclinava no peito de Jesus durante a última Ceia e assimilou em seu coração aquelas maravilhosas palavras de despedida para usá-las no futuro. Ele seguiu a Jesus até o pátio da casa de Caifás. De todos os discípulos foi o único que permaneceu ao pé da cruz, e recebeu do Salvador que morria a incumbência de cuidar de sua mãe Maria. Esta foi uma cena única de delicadeza e carinho: A Mater dolorosa e o discípulo amado olhando para a cruz, enquanto o Salvador morrendo os uniu em filiação de amor maternal. É a complementação daquele tipo de amizade dos que recém nasceram espiritualmente e que se tornam mais fortes que os irmãos de sangue. Como João era o último dos apóstolos junto a cruz, assim também, ele e Maria Madalena foram os primeiros discípulos que correram à frente de Pedro, olhando para dentro da sepultura vazia na manhã da ressurreição. Foi o primeiro a reconhecer o Senhor ressuscitado quando ele apareceu aos discípulos nas margens do mar da Galileia (Jo 20.4; 21.7).

Parece que João era o mais jovem dos apóstolos, porque viveu mais que todos eles. Era também o mais dotado espiritualmente e o predileto de Jesus. João possuía um senso de religiosidade de ordem superior – não pensando em plantar, mas em irrigar. Não lutava por trabalho agressivo e externo, mas para entender o mistério de Cristo e a vida eterna do Senhor. Pureza e simplicidade de caráter, profundidade e afeição e uma faculdade espiritual perceptiva de alta intuição, eram seus traços de liderança os quais se tornaram nobres e consagrados pela graça divina. Não se vê registros de atos de violência na trajetória de João; ele cresceu silenciosa e imperceptivelmente em comunhão com o Senhor e seguiu o seu exemplo. De certa maneira era o antípoda de Paulo (o contrário). Ele ouvia mais e via muito mais; mas, falava menos que os outros discípulos. Absorveu os ensinamentos profundos do Mestre e os demais discípulos nem prestavam atenção nele. E mesmo, a princípio, não entendendo bem os demais discípulos ele os mantinha em seus corações até que o Espírito Santo lhes revelasse a mesma coisa. Sua intimidade com Maria deve tê-lo ajudado a obter uma visão interior do Mestre. Ele aparece sempre como o discípulo amado em íntima comunhão e amizade com o Senhor.  [6]

O filho do trovão e o discípulo amado

Existe uma contradição aparente entre os evangelhos sinóticos e o quadro de João em seus escritos, assim como existe diferença entre o Apocalipse e o quarto evangelho. Mas, quando se observa mais atentamente percebe-se que são dois lados de uma mesma moeda. Por exemplo, existe um paralelo entre o Pedro dos evangelhos e o Pedro das epístolas. O primeiro apresenta-se jovem, impulsivo, rápido, mudando de lado a toda hora, o outro amadurecido, submisso, refinado pela graça divina.

No evangelho de Marcos, João aparece como o Filho do Trovão (Boanerges) [7] Este sobrenome que foi dado a ele e ao seu irmão mais velho por nosso Senhor era, na realidade um epíteto de honra que apontava para sua missão futura, assim como o nome de Pedro foi dado a Simão. Trovão, para os hebreus era a voz de Deus. [8] Em seu bojo o nome traz a ideia de temperamento ardente, grande força e caráter veemente para o bem ou para o mal, conforme o motivo e o objetivo. O mesmo trovão que aterroriza, purifica o ar e faz a terra frutificar quando vem acompanhado de chuvas. Temperamento forte sob controle da razão e a serviço da verdade serve de grande meio de construção, assim como o mesmo temperamento quando descontrolado e dirigido erroneamente serve de poder destrutivo. O zelo ardente de João e sua devoção, apenas precisavam de disciplina e discrição para se tornar bênção e inspiração a igreja em todas as eras.
No início os filhos de Zebedeu não entendiam a diferença entre lei e evangelho, quando, num ímpeto de indignação queriam clamar fogo do céu para destruir um vilarejo de samaritanos que havia rejeitado a Jesus. Estavam prontos, como Elias, para clamar por fogo do céu. [9] Mas, alguns anos mais tarde João foi até Samaria para confirmar a conversão dos novos irmãos, e invocou sobre eles o fogo divino da vida e da luz, e o dom do Espírito Santo (At 8.14-17). O mesmo zelo por seu Mestre alcançou seu limite quando algumas pessoas faziam obras em nome de Cristo, e eram pessoas que viviam fora do círculo apostólico (Mc 9.38-40 cp. com Lucas 9.49-50).
O desejo dos dois irmãos, compartilhado pela mãe deles querendo assumir a mais alta posição do reino messiânico revela, ao mesmo tempo, quão fortes e fracos eram; possuíam um desejo nobre de estar ao lado de Cristo, ainda que significasse ficar próximo do fogo e da espada, e neles habitava a ambição permeado de egoísmo e orgulho. Foram repreendidos pelo Senhor, que descortinou diante deles a perspectiva de um batismo de fogo (Mt 20.20-24; Mc 10.35-41).
Esses episódios são consistentes com os escritos de João. Ele aparece em seus escritos como fofo e sentimental, mas também com muita força positiva de caráter. João possuía uma doce e amorosa disposição, ao mesmo tempo em que tinha uma sensibilidade delicada, sentimentos ardentes e fortes convicções. Esses traços, de maneira alguma são incompatíveis. Ele não tinha comprometimentos nem era meio termo quando o assunto era lealdade. Um fogo santo ardia em seu interior que o levava a se mover nas profundezas e não na superfície. No Apocalipse o trovão ribombou alto e forte contra os inimigos de Cristo e seu reino, enquanto, por outro lado encontram-se no mesmo livro episódios de descanso e calmaria, de paz e alegria e a descrição da Jerusalém celestial que só poderia nascer da pena descritiva do discípulo amado. No Evangelho e nas epístolas de João sentimos o mesmo poder, apenas controlados e contidos. Ele relata os mais duros discursos e as mais doces palavras do Salvador, conforme o mestre falava aos inimigos da verdade ou ao círculo fechado dos discípulos. Nenhum outro evangelista nos fornece uma visão profunda do antagonismo entre Cristo e a hierarquia judaica, e do crescente e intensivo ódio que culminou em derramamento de sangue. Nenhum apóstolo estabeleceu uma demarcação definitiva entre luz e trevas, verdade e falsidade, Cristo e anticristo como João. O evangelho de João e suas epístolas movem-se entre esse antagonismo irreconciliável. Ele não conhecia quaisquer comprometimentos entre Cristo e Baal. Com que horror ele fala a respeito do traidor e do ódio dos fariseus contra o Messias! De maneira severa João, nas palavras do Senhor ataca os judeus incrédulos e seus desejos assassinos apresentando-os como filhos do diabo.

E nas epístolas ele fala de cada pessoa que desonra a profissão de fé ao cristianismo, como mentiroso; cada um que odeia a seu irmão é assassino; cada um que peca propositalmente, João os chama de filhos do diabo, e ele aberta e sinceramente adverte sobre os falsos mestres que negam o mistério da encarnação chamando-os de anticristo e proíbe os crentes até mesmo de saudá-los (Jo 8.44; 1 Jo 16, 8, 10; 2.18 ss.; 3.8, 15; 4.1 e ss. ; 2 Jo 10,11). A medida de seu amor a Cristo era a medida de seu ódio pelo anticristo. Porque o ódio é o contrário do amor. É o amor invertido. Amor e ódio fazem parte da mesma paixão, apenas revelada em direções opostas. O mesmo sol que ilumina e aquece o ser vivo, apressa o apodrecimento do que está morto. Os artistas cristãos entenderam muito bem esse duplo aspecto de João quando o representam com o rosto de pureza feminina e ternura, mas sem fraqueza, e o retratam como uma águia enfurecida com suas asas abertas sobre as nuvens. [10]

O Apocalipse e o quarto evangelho.

Quando se investiga o caráter de João, não se tem dúvida alguma em afirmar que o autor do quarto evangelho e do apocalipse é a mesma pessoa.  [11] O temperamento é o mesmo em ambos os livros; uma natureza entusiástica e nobre capaz de emoções intensas de amor e ódio, com a diferença entre um homem vigoroso e amadurecido pela idade, entre o rugido da batalha e o repouso da paz. A teologia é a mesma, incluindo as mais importantes apresentações da cristologia e da soteriologia. [12] Nenhum outro apóstolo chama Cristo de Logos. O Evangelho é “o apocalipse espiritualizado” ou idealizado. Até mesmo a diferença de estilo que impressiona ao primeiro olhar desaparece sob investigação acurada. O grego do Apocalipse é o mais hebraísta de todos os livros do Novo Testamento, como é de se esperar da afinidade existente com a profecia dos hebreus, sem paralelo até mesmo nos clássicos gregos. O grego do quarto evangelho é puro e sem quaisquer irregularidades, contudo, João demonstra tanta familiaridade com tanta percepção da religião hebraica, e preserva dela os elementos mais puros. Seu estilo é simples como o de uma criança, e apresenta a sentença breve do Antigo Testamento. É apenas um corpo de gregos inspirados por uma alma hebraica. [13] A favor da diferença entre o Apocalipse e outros escritos de João é preciso levar em consideração a diferença necessária entre uma composição inspiracional profética e uma composição histórica e didática, e a diferença de tempo que é de uns vinte anos. O Apocalipse foi escrito antes da destruição de Jerusalém, e o quarto evangelho já no final do primeiro século, quando ele era bem velho. Foi então que sua juventude se renovou como a da águia à semelhança dos grandes poetas como Homero, Sófocles, Milton e Goethe.

Notas

I. O filho do trovão e o apóstolo do amor


Cito aqui as excelentes observações sobre o caráter de João feitas por meu amigo o Dr. Godet (Com. I. 35, tradução inglesa de Crombie e Cusin):
“Como explicar duas apresentações de caráter aparentemente tão opostas? Existem pessoas profundas e receptivas que se acostumaram a ficar encerradas dentro de suas próprias conclusões. Acontece que tais pessoas com o tempo deixam de ser mestres de si mesmas e suas emoções contidas explodem repentinamente e deixam as pessoas ao seu redor perplexas. Não seria o caráter de João algo deste tipo? Quando Jesus apelidou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges ou filhos do trovão (Mc 3.17), não consigo imaginar que Jesus queria – e os antigos escritores concordam – com este apelido sinalizar a eloquência que os distinguiria dos demais. Tampouco acredito que ao lhes dar este apelido, que Jesus quisesse perpetuar a lembrança daquele momento de impetuosa ira, como indica o texto.  Assim como a energia fica acumulada no meio das nuvens até que de repente se transforma em relâmpago e trovões, assim também ocorreu com aqueles dois apaixonados que, silenciosamente acumularam amor até que o coração transbordou e eles, repentinamente se dispuseram a lutar violentamente. Gostamos de imaginar João como alguém gentil, sem aquela natureza enérgica; gentil até mesmo nas fraquezas. Não é verdade que seus escritos nos instigam constantemente a amar? Não é verdade que o último sermão que ele prega é o de que devemos amar uns aos outros?
Verdade! Mas esquecemos outras apresentações bem diferentes durante os primeiros e os últimos tempos de sua vida, que revelam alguém decisivo, ferino, absoluto até mesmo violento em sua disposição. Se considerarmos todos os fatos aqui apresentados reconheceremos em João e Tiago pessoas sensíveis, ardentes pela salvação das almas, adoradores com um ideal que se entregaram sem reservas aquilo que sonharam e cuja devoção facilmente se tornou exclusiva e intolerante. Eles se sentiam repelidos por qualquer coisa que não se encaixasse com seu entusiasmo. Para eles era impossível ter o coração dividido naquilo que criam. Tudo em tudo! Isto era o que os movia! Aquilo que não é, pra eles não tinha sentido.

O Dr. Westcott (em seu Commentary pp. xxxiii) diz: “João sabia que estar com Cristo era estar com a vida e que rejeitar a Cristo significava a morte. E ele não hesitou em expressar o que sentia da velha dispensação. Aprendeu com o Senhor, enquanto o tempo passava, a ser mais paciente, mas não desaprendeu a devoção ardorosa que o consumia. Finalmente, com palavras de exortação, como um trovão ribombando acima do trono, João revelou a presença do fogo secreto. Cada página do Apocalipse vem inspirada com o clamor das almas que procede de debaixo do altar: “Até quando?”(Ap 6.10).  

II. A Missão de João

Dean Stanley (Sermons and Essays on the Apostolic Age, p. 249 ss. 3a. ed.) escreveu: “Acima de tudo, João falou sobre a união da alma com Deus, mas não era através de um processo simples de meditação oriental ou absorção mística; e sim pela palavra que agora, pela primeira vez tomou seu devido lugar na ordem do mundo – a palavra AMOR. A Paulo coube o dever de proclamar que o mais profundo princípio no coração do homem era a fé. A João coube proclamar que o atributo essencial de Deus é amor. No Antigo Testamento foi ensinado que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. E ainda deveria ser ensinado pelos apóstolos do Novo Testamento de que o “fim da sabedoria é o amor de Deus”. Gentios pagãos e judeus ensinavam, através da filosofia grega e das religiões orientais de que a divindade se satisfazia com sacrifícios e com torturas humanas. No entanto, a João coube ensinar que a plenitude ou o sinal dos filhos de Deus era “amai-vos uns aos outros”. Assim como o amor invade toda nossa concepção de amor, pelos ensinamentos de João, também invade a concepção de seu caráter. Nós ainda guardamos seu ensinamento: “Nós o amamos porque ele nos amou primeiro”.  “Amados, amemo-nos uns aos outros”, porque este é o mandamento de nosso Senhor Jesus, e se o obedecermos nada mais se faz necessário.


João no livro de Atos

No primeiro estágio do cristianismo apostólico, João aparece como um dos três pilares da igreja da circuncisão, ao lado de Pedro e Tiago, irmão do Senhor, enquanto Paulo e Barnabé representavam a igreja gentílica. [14] O que implica afirmar que naquele período ele não havia se projetado ao universalismo e liberdade do evangelho. No entanto, dos três ele era o mais liberal situando-se entre Tiago e Pedro de um lado e Paulo do outro, buscando futuramente a reconciliação entre judeus e o cristianismo gentio. Os judaizantes nunca apelaram a ele como fizeram com Tiago e Pedro (Gl 2.12; 1 Co 1.12). Não se vê sequer um traço de que tinha seguidores, ou o partido de João, como os que seguiam a Pedro e Tiago. Ele estava acima das intrigas e divisões. Nos primeiros capítulos de Atos ele aparece ao lado de Pedro, que era tido como o chefe dos apóstolos da nova religião. Ele cura com Pedro o paralítico à Porta Formosa; foi trazido perante o Sinédrio para testificar de Cristo. Foi enviado com Pedro pelos apóstolos de Jerusalém a Samaria para confirmar os novos convertidos orando para que eles recebessem o Espírito Santo, e retornou para Jerusalém com Pedro (At 3.1 e ss.; 4.1., 13, 19, 20; 5.19,20, 41, 42; 8.14, 17, 25).
Pedro aparece citado sempre na frente dos demais, toma a palavra e age primeiramente. João o segue em silêncio misterioso e dá a impressão de que acumula uma reserva de força que se manifestará em ocasião própria no futuro. Ele deve ter participado do primeiro concílio apostólico em Jerusalém, no ano 50, mas não aparece falando ou participando ativamente na discussão sobre a circuncisão e a questão de quem deveria fazer parte da comunidade. [15] Tudo está conforme o caráter daquele modesto e silente João apresentado nos evangelhos. Ao que parece depois do Concílio no ano 50 ele deixa Jerusalém. A partir daí o livro de Atos não mais o menciona nem a Pedro. Quando Paulo visitou pela última e quinta vez a cidade de Jerusalém (ano 58), parece que não viu a João e encontrou-se com Tiago apenas. [16]

João em Éfeso

As últimas atividades de João estão em seus escritos e deveremos considerá-las noutro capítulo. Seus escritos nos apresentam a história mostrando a espiritualidade imensuravelmente rica do homem interior. Ele não informa onde está no momento, onde reside nem de onde escreve. No entanto, o Apocalipse dá a entender que ele era o chefe das igrejas na Ásia Menor. [17] Esta tese é confirmada por muitos testemunhos dos pais da igreja que afirmam que João em seus últimos anos de vida residia em Éfeso. [18] Ele morreu muito velho durante o reinado de Trajano que começou no ano 98. Sua sepultura era sempre mostrada lá no segundo século. Não sabemos quando teria se mudado para a Ásia Menor, mas não deve ter sido antes do ano 63. Ao se dirigir aos presbíteros de Éfeso, e em suas epístolas aos efésios e colossenses; e também na segunda epístola de Paulo a Timóteo, Paulo não faz menção de João, e fala com a autoridade de um superintendente das igrejas da Ásia Menor. Possivelmente depois da morte de Paulo e Pedro, João tomou a si a responsabilidade de cuidar das igrejas orfanadas de seu líder; igrejas que enfrentavam perigos e perseguições. [19]
Éfeso, a capital pró-consular da Ásia, era o centro cultural, comercial e religioso da Grécia, famosa em tempos antigos pelos cânticos épicos de Homero, Anacreonte, e Mimnermus, lugar da filosofia de Tales, Anaxímenes, e Anaximandro, além de ser o centro de adoração a Diana. Em Éfeso Paulo labutou durante três anos (54-57) e estabeleceu uma igreja influente que serviu de farol para iluminar as trevas do ateísmo. Dali Paulo podia comungar com as numerosas igrejas que havia plantado nas províncias. Ali, experimentou alegrias e tribulações e viu como profetizara o perigo das heresias que se levantavam no meio da igreja (Veja sua despedida em Mileto, Atos 20.29-30 e as epístolas a Timóteo). As forças da ortodoxia e das heresias cristãs surgiram ali. Aproximava-se o momento da queda de Jerusalém, e Roma não era ainda uma segunda Jerusalém. Éfeso, pelo trabalho de Paulo e João tornou-se o centro da história da igreja na segunda metade do século e durante a primeira metade do século segundo. Policarpo, o mártir patriarcal e Irineu, o teólogo que se levantou contra o gnosticismo representam bem o espírito de João e testemunham a influência desse apóstolo na cidade. Somente ele poderia completar o trabalho de Paulo e Pedro dando à igreja a unidade compacta que ela precisava para se auto preservar contra as perseguições e as heresias.
Não fossem os escritos de João, nos últimos trinta anos do primeiro século haveria um vácuo na história da igreja. Parece com aquele período de quarenta dias entre a ressurreição e a ascensão, quando o Senhor ficou nos ares, entre o céu e a terra, sem tocar na terra em baixo, e aparecendo aos discípulos como um espírito de outro mundo. Mas, a teologia do segundo e do terceiro século, evidentemente, pressupõe os escritos de João e começa a partir de sua cristologia e não a partir da antropologia e soteriologia de Paulo, cujo ensinamento quase morreu até o surgimento de Agostinho na África. 

João em Patmos

João foi banido para a solitária, rochosa e arenosa ilha de Patmos no mar Egeu, a sudoeste de Éfeso. A base desta afirmativa está em Apocalipse 1.9: “Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”.  [20] Lá, recebeu “no espírito no dia do Senhor” as importantes revelações a respeito das lutas e vitórias do cristianismo. Mas, o fato de haver sido deportado para Patmos é confirmada por muitos testemunhos da antiguidade, como os de Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes, Tertuliano, Eusébio, Jerônimo etc. O fato ficou perpetuado nas tradições da ilha, o que em nada altera o seu sentido. “João – este é o pensamento de Patmos, a ilha o pertence, é o seu santuário. As pedras pregam sobre ele, e em cada coração, ele vive”. [21]
Não se sabe ao certo quando aconteceu o exílio, e depende das discussões sobre a data em que o Apocalipse foi escrito. Evidências externas apontam para o reinado de Domiciano no ano 95 d. C. e evidências internas apontam para o período do reinado de Nero ou logo após sua morte no ano 68. A tese prevalecente e a mais respeitosa se deve ao testemunho de Irineu cerca de 170 d. C. que afirma ter ocorrido o exílio no final do reinado de Domiciano que governou de 81 a 96. [22] Domiciano foi o segundo imperador romano que mais perseguiu os cristãos, e o exílio era sua forma preferida de punir alguém. Esses fatos sustentam esta tradição. Depois de fazer promessas de beneficiar o povo, Domiciano se tornou tão cruel e sanguinário quanto Nero, e o superou em hipocrisia chegando mesmo a se auto-deificar. Ele começava suas cartas assim: “Nosso Senhor Deus ordena” e exigia que as pessoas se dirigissem a ele dessa maneira. [23] Ele exigia que se fizessem estátuas de ouro e prata de sua imagem e que fossem colocadas nos santuários dos templos. E quando se mostrava generoso, aí que era mais perigoso. Não poupava a vida dos senadores nem dos cônsules, quando suspeitava deles ou impedissem que seus desejos ambiciosos fossem feitos. Ele procurava pelos descendentes de Davi e pelos amigos de Jesus, com medo deles, e aí descobria que eram pessoas inocentes e pobres. [24]
Muitos cristãos sofreram o martírio sob seu reinado, acusados de ateísmo – e entre estes estava seu primo Flávio Clemente, pessoa de dignidade consular, que foi morto, e sua esposa Domitila banida para a ilha de Pandateria próximo a Nápoles. [25] No entanto, uma evidência interna é o próprio livro de Apocalipse e a comparação com o quarto evangelho, favorece uma data bem anterior, antes da destruição de Jerusalém, durante o intervalo entre a morte de Nero (68) quando a besta, que é o império romano foi abatida, mas logo se ergueria pela ascensão de Vespasiano. Mantemos a tese de que João foi exilado para Patmos sob o governo de Nero, escreveu o Apocalipse logo após a morte deste (ano 68-69) retornou a Éfeso, completou seu evangelho e suas epístolas alguns anos mais tarde (talvez uns vinte anos) e dormiu em paz durante o reinado de Trajano no ano 98.
Tradições sobre João [26]


A lembrança de João marcou o coração da igreja, e vários incidentes com características semelhantes ou prováveis foram preservadas pelos pais da igreja.
Clemente de Alexandria, quase no fim do segundo século apresenta João como pastor fiel e devoto, quando, já velho, numa viagem as igrejas ele convenceu com amor seus primeiros convertidos que haviam se tornado ladrões, e pediu que eles voltassem para a igreja. Irineu dá testemunho do caráter do “Filho do Trovão”, ao relatar que ouvira dos lábios de Policarpo, que, num encontro no banho público de Éfeso o herege gnóstico Cerinto, que negava a encarnação de nosso Senhor, João se recusou a ficar com ele debaixo do mesmo teto, se não a casa cairia. O que lembra o incidente registrado em Lucas 9.49 e a exortação do apóstolo em 2 João 10-11. A história mostra a possibilidade de unir o amor mais profundo pela verdade com a denunciação do erro e da malignidade moral. [27]
Jerônimo o retrata como o discípulo do amor, que em velhice adiantada foi levado ao lugar de reuniões nos braços de seus discípulos repetindo vez após vez sem parar: “Filhinhos, amem uns aos outros”, acrescentando, “este é o mandamento do Senhor, e se somente este for obedecido, é suficiente”. Essas situações da tradição apostólica sobre João é crível e útil. Polícrato, bispo de Éfeso no final do segundo século relata (conforme Eusébio) que João estabeleceu na Ásia Menor a prática judaica de observar a Páscoa no dia 14 de Nisan, independente de cair num domingo. Este fato gerou muita controvérsia no segundo século e nas controvérsias modernas sobre a veracidade do evangelho de João. O mesmo Polícrato de Éfeso descreve João vestindo a sobrepeliz ou o peitoral de ouro do sumo sacerdote (Ex 28.36, 37; 39.30, 31). Era, possivelmente uma expressão figurada da santidade sacerdotal que João atribui a todos os discípulos (veja Ap 2.17), mas pelo qual se sobrepunha como patriarca. [28] Da falta de compreensão das enigmáticas palavras de Jesus (João 21.22) surgiu a lenda que João apenas adormeceu em seu sepulcro, gentilmente movendo a terra respirou aguardando a volta de Jesus. Conforme outra lenda ele morreu, mas imediatamente foi elevado ao céu, como Elias, para retornar com ele como anunciador do segundo advento de Cristo. [29]



[1] João 21.22, 23. Milligan e Moulton in loc. O ponto de contraste entre as palavras ditas a Pedro e João, respectivamente, não diz respeito a morte violenta ou ao martírio e uma partida tranquila, mas a respeito das lutas e tempestades do apostolado.
[2] O nome João, no hebraico quer dizer Jeová é gracioso. O discípulo que Jesus amava. Veja  João 13.23; 19.26; 20.2; 21.7, 20.
[3] Marcos 1.20; 15. 40 ss.; Lc 8.3; Jo 19.27. Godet (I. 37) acredita que a casa dele era no lago de Genesaré e por isso não estava presente quando pela primeira vez Paulo visitou Jerusalém (Gl 1.18, 19).

[4] Conforme a interpretação correta de João 19.25, aquelas quatro mulheres (não três) são ali mencionadas, como afirmam Wieseler, Ewald e Meyer. Lange, e outros comentaristas acreditam assim também. O escritor do quarto evangelho, com sua delicadeza peculiar nunca menciona seu nome, nem o nome de sua mãe e nem o nome da mãe de Jesus. Contudo, sua mãe deveria estar lá ao pé da cruz, conforme os evangelhos sinópticos e ele não a esqueceria.

[5] João 1.35-40. Os comentaristas concordam que os dois discípulos cujos nomes não são mencionados, um deles é João.

[6] Para uma simples comparação entre João e Salomé, João e Tiago e João e André, João e Pedro e João e Paulo veja a obra de Lange Com on John pp. 4-10.
[7] Em Marcos 3.17 o termo significa barulho forte da multidão, e tem o sentido de trovão no texto siríaco.
[8] “O Senhor trovejará com grande estrondo”. “O Senhor enviará trovões e chuvas”. Veja Ex 9.23; 1 Sm 7.10; 12.17, 18; Jó 26.14; Sl 77.18; 81.7; 104.7; Is 29.6 etc.

[9] Lucas 9.4-56. Alguns comentaristas acham que este incidente foi que sugeriu o apelido de Boanerges aos dois, mas, se assim fosse, haveria aí um epíteto de censura, e o Senhor não faria uma coisas dessas com o seu discípulo amado.

[10] Jerônimo cita um antigo epigrama sobre João: “More volans aquila, verbo petit astra Joannes”.
[11] O autor de Supernatural Religion, II.400 afirma: “Em vez da fúria e intolerância do espírito do Filho do Trovão encontramos (no quarto evangelho) um espírito que sopra apenas gentileza e amor”.
[12] Isto é mostrado na obra de Gebhardt Doctrine of the Apocalypse, e é substancialmente reconhecida por aqueles que negam ser João o autor do Apocalipse (a escola de Schleiermacher), ou como autor do Evangelho (a escola de Tübingen).

[13] Neste sentido as visões opostas de dois eruditos hebreus e juízes de estilo se reconciliam. Enquanto Renan olhando para a superfície afirma sobre o quarto evangelho: “O estilo de João nada tem de hebreu, nada de judaísmo nem talmúdico”. Ewald, ao contrário, penetrando mais profundamente diz: “É espírito verdadeiro e inspiracional. Nenhuma linguagem poderia ser mais genuinamente hebraica do que a de João”.  Godet concorda com Ewald quando afirma: “A vestimenta é grega, o corpo é hebraico”.

[14] Gl 2.9. Eles aparecem na ordem de seu conservadorismo.
[15] Ele é incluído entre os “apóstolos” reunidos em Jerusalém naquela ocasião. Atos 15.6, 22, 23 e é mencionado como um dos três pilares por Paulo na epístola aos Gálatas, no que diz respeito a mesma conferência.

[16] Atos 21.18. João deveria estar, possivelmente, na Palestina ou na Galiléia na terra de sua juventude. Conforme a tradição ele permaneceu em Jerusalém até a morte da virgem Maria, cerca de 48 d. C.
[17] Ap 1.4, 9, 11, 20 e capítulos 2 e 3. Fica evidente que somente um apóstolo poderia ocupar tão elevada posição e não um obscuro presbítero com o nome de João, como alguns querem afirmar.

[18] Irineu, discípulo de Policarpo (aluno de João) em sua carta a Florino (ver Eusébio História Eclesiástica V. 20), Clemente de Alexandria, Quis dives salvetur, c.42; Apolônio e Polícrato no fim do segundo século, em Eusébio Hist. Ecle. III. 31: V: 18, 24; Orígenes, Tertuliano, Eusébio, Jerônimo etc. Lucio, também, reputado autor dos Atos de João cerca de 130, em fragmentos recentemente publicados por Zahn, testemunham que João residiu em Éfeso e Patmos, e transferiu seu martírio de Roma para Éfeso. Lützelberger, Keim (Leben Jesu v. Nazara, I. 161 ss.), Holtzmann, Scholten, o autor de Supernatural Religion, (II. 410), e outros oponentes do evangelho de João ousaram remove-lo da Ásia Menor com argumentações negativas devido ao silêncio sobre ele em Atos, na carta aos efésios, colossenses, afirmando que não é mencionado nos papiros de Papias, Inácio e Policarpo, argumentam, sem prova alguma que João não esteve em Éfeso antes do ano 63. Mas, a velha tradição é conclusiva a respeito.  

[19] “A manutenção da verdade evangélica”, afirma Godet (I. 42), “exigia naquele momento ajuda ponderosa. Não é de surpreender que João, um dos últimos sobreviventes de entre os apóstolos deveria se sentir responsável em substituir naqueles países o apóstolo dos gentios, irrigando, assim como Apolo fez na Grécia, o que Paulo havia plantado”. Pressensé (Apost. Era, p. 424): “Nenhuma cidade poderia ser melhor escolhida como centro regional das igrejas e vigiar de perto o crescimento das heresias. Em Éfeso, João ficou no centro da missão de Paulo, e não muito longe da Grécia”.

[20] Bleek entende assim: João foi levado (numa visão) a Patmos com o propósito de receber uma revelação de Cristo. Ele acredita que existe uma tradição de que João foi banido para Patmos por um mal entendido desta passagem.

[21] Tischendorf, Reise in’s Morgenland, II.257 e ss. Uma caverna na montanha no sudoeste da ilha ainda é tida como o local da visão do Apocalipse, e no topo da montanha está o mosteiro de São João, com uma biblioteca com uns 250 manuscritos.
[22] Este ponto de vista prevaleceu entre os comentaristas e historiadores até recentmente e é defendido por Hengstenberg, Lange, Ebrard (e por mim mesmo em History of the Apostolic Church, § 101, pp. 400 ss.). É difícil desprezar o claro testemunho de Irineu, que aprendeu com Policarpo, que era ligado diretamente a João.
[23] Suetônio, Domit., c. 13: “Dominus et Deus noster hoc fieri jubet. Unde institutum posthac, ut ne scripto quidem ac sermone cujusquam appellaretur aliter”.
[24] Hegésipo em Eusébio Hist. Ecl., III., 19, 20. Hegésipo, no entanto, silencia quanto ao exílio de João, e este silêncio é usado por Bleek como argumento contra o exílio de João.
[25] Dião Cássio em seus escritos sobre João Xifilino, 67, 14.

[26] Essas tradições foram apresentadas de maneira agradável por Dean Stanley em Sermons and Essays on the Apostolic Age, pp. 266-281 (3ª. ed.). Compare com minha Hist. of the Ap. Ch, pp. 404 ss.
[27] Stanley menciona, apenas para ilustrar a magnificência de Jeremy Taylor, ao relatar a história, que imediatamente depois de João sair dali a casa de banho desabou e esmagou a Cerinto que ficou em ruínas.  (Life of Christ, Sect. xii. 2).

[28] Eusébio em História Eclesiástica, III. 31, 3; V. 24. Epifânio relata a mesma coisa, com um tom mais ascético, a respeito de Tiago, irmão do Senhor. “Como expressão figurada” afirma Lightfoot, “ou como fato literal, a nota aponta para São João como um veterano mestre, o chefe representativo de uma raça pontifical. Por outro lado é possível que não foi neste sentido que Polícrato o descreveu assim. E, se assim for, temos aqui, talvez, a mais antiga passagem descritiva de um autor cristão em que o ponto de vista sacerdotal do ministro é distintivamente apresentado. Mas, no Didaquê (capítulo 13) os profetas cristãos são chamados de “sumo sacerdotes”.

[29] Agostinho menciona a lenda, mas a contradiz em Trad. 224 in Ev. Joann.