Como Conheci
Otoniel e Oziel
O ônibus do Expresso
Minuano gemia subindo pela BR-116 em direção a São Paulo. As curvas fechadas da rodovia pela
serra gaúcha entre Porto Alegre e Vacaria, disputando espaço entre caminhões e
automóveis faria a viagem monótona e sonolenta não fossem os penhascos e rios
que corriam pelo fundo dos vales que amedrontavam, e ao mesmo tempo encantava
os passageiros. A fumaça dos cigarros impregnava o ônibus e se misturava à
fumaça negra dos motores dos potentes caminhões. Depois de vinte e cinco horas
de viagem chegamos ao terminal de passageiros em São Paulo, um pequeno local,
porque a grande estação rodoviária atual era apenas um projeto no papel. Eu
tinha apenas dezessete anos de idade e corria atrás de um sonho: Preparar-me
para o ministério de pregação da Palavra de Deus.
Quando Deus dá um
sonho, até as hienas fogem de você!
A partir de São Paulo,
depois de duas horas de espera tomei um ônibus da empresa Pássaro Marrom com
destino a Pindamonhangaba. Na rodoviária da cidade de Pinda, em 1964, os táxis
eram charretes e raríssimos os automóveis. Sacolejando pela Rua São João Bosco
entre casarios antigos e loteamentos novos, chegamos ao antigo prédio em que se
instalara o IBAD – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus – em 1958. O
endereço nunca se apagará da memória: Rua São João Bosco, 1114.
Era 25 de março de
1964. Dali a alguns dias as aulas teriam início, mas houve um atraso devido a
demora do pastor Kolenda e esposa Doris que estavam nos Estados Unidos.
Logo a turma do segundo
ano chegou e entre eles estava Otoniel Moura de Paula. A turma do primeiro ano
foi chegando aos poucos, entre eles Oziel Moura de Paula, irmão de Otoniel. Uma
semana depois estourou a revolução militar, o que impediu da maioria dos alunos
matriculados para o primeiro ano chegarem. Nossa turma do primeiro ano foi a
menor de todos os anos da escola: oito alunos! Ao meu lado se sentava Oziel e
Elienai Cabral. Vestíamos paletó, camisa branca e gravata e o uso de sapatos
era obrigatório. Nada de chinelos.
A partir daí a missionária
Doris contava, então, com três jovens afinados na música: Otoniel, Oziel e
Elienai, que, juntamente com Eliel, que já estava graduado formaram um dos mais
belos quartetos do Instituto Bíblico.
Doris Lemos, esposa do
pastor Kolenda possuía um ouvido absoluto, a ponto de identificar para nós, ao
piano, em que tom estava cantando um pardal, e também tinha uma capacidade
didática para ensinar música. Em dois anos os alunos aprendiam a solfejar e a
fazer arranjos em quatro vozes sem o uso de instrumento algum, apenas usando as
notas das pautas musicais na clave de Sol, Dó e de Fá. Apenas usando a técnica.
Cantar em semitons é difícil, imagina, então cantar dividindo o semitom, arte
que somente ela conseguia. Uma das alunas que entrou para o Instituto Bíblico
em 1965 foi Otília de Paula, irmã da dupla Otoniel e Oziel, e, a partir daí a irmã
Doris contava com uma voz soprano médio feminina. Anos depois ingressou na
escola o Oséias de Paula.
A
música, “Eu Vivia no Pecado”
No ano de 1964 – último
ano de Otoniel em Pinda, um grupo de americanos visitou o Instituto Bíblico
numa turnê missionária. Encantados com os brasileiros, eles pediram ao Otoniel
e Oziel que cantassem uma música bem brasileira. Para surpresa de todos,
Otoniel pegou seu violão e, ao lado do poeta Oziel entoaram, para nós, alunos e
para os jovens americanos, “eu vivia no pecado”. Nascia ali a primeira canção
para o disco compacto que haveria de estourar no Brasil, começando pelo
programa do Josias Meneses na rádio Copacabana do Rio de Janeiro, e nascia ali
a dupla Otoniel e Oziel que revolucionaria a igreja Assembleia de Deus no
Estado do Rio de Janeiro com a fundação da União da Mocidade das Assembleias de
Deus do Estado do Rio – UMADER – que participei por vários anos até que viajei
para os Estados Unidos.
A partir de 1966 os
dois não pararam. Houve, sim, um intervalo de um ano em que Oziel precisou
prestar serviço militar e foi enviado pelas forças brasileiras para a República
Dominicana.
Depois postarei algo mais.
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