quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Crise de integridade

Crise de Integridade

Soube recentemente que o Distrito Federal que compõe o Plano Piloto e as cidades ao redor tem cerca de 800 mil evangélicos ou 40% da população. Que diferença isto faz na sociedade brasiliense? Que diferença faz a grande percentagem de evangélicos em cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Anápolis e Goiânia com alto percentual de evangélicos?


O reflexo da infertilidade social dos evangélicos, e da falta de integridade pode ser visto na câmara dos deputados e no senado. Com raríssimas exceções, poucas são as vozes que gritam como João Batista no deserto e dizem a Herodes que ele é um corrupto!

O Brasil nesses dias vive as conseqüências da falta de integridade – é de se esperar que as pessoas que não têm temor de Deus ajam como queiram, sem respeitar o direito dos órfãos, das viúvas, dos aposentados, mas é inadmissível que muitos membros da chamada bancada evangélica estejam corrompidos pelo sistema político de Maquiavel. Tudo bem que na última eleição pra presidente da nação Lula tenha dito: “Eles não sabem do que somos capaz!” E que a Dilma tenha dito que apelaria até pro Diabo pra ganhar a eleição, mas não se pode admitir essa falta de integridade naqueles que se dizem nascidos de novo e que nos representam na Câmara Federal e no senado. Alguns ali na Câmara são pastores, bispos, líderes denominacionais que entraram no jogo sórdido e sujo das artimanhas de Maquiavel.

Mas, não podemos condenar apenas os políticos. Algumas das principais lideranças denominacionais estão presos ao sistema denominacional e tentam se livrar do odor de enxofre satânico que exala das estruturas podres de suas denominações. Em vez de exalarem o bom perfume de Cristo, exalam a murrinha do diabo. O mesmo jogo do engano e das sutilezas políticas invadiu as convenções, os concílios, os sínodos, os presbitérios – dê o nome que quiser – e transformaram suas denominações num grande partido político. Quando se reúnem, Deus fica bem distante do plenário!

As pessoas não cristãs quando olham para as denominações não a veem apenas como igrejas, mas como partidos políticos; e não respeitam os crentes como discípulos de Cristo e os têm como militantes de partidos políticos, como daqueles de que fazem parte.

Viajo constantemente pelo Brasil e quando perguntado sobre o que faço, respondo que sou escritor – o que de fato o sou – porque se disser que sou pastor, a pessoa ao meu lado vira a cara pra janela e não quer mais conversa comigo. Por que? Porque existe uma classe mal-cheirosa de pastores que rouba, e alardeia seus feitos, mostra sua ganância em luxuosos aviões, carros caríssimos importados e pela televisão não se cansam de pedir dinheiro.

Os membros das igrejas – muitos deles – não são culpados pela corrupção que grassa suas denominações, porque amam mais a Cristo e até ignoram o sistema de sua denominação. Diferentemente de seus líderes que tentam escorar as estruturas corroídas de cupim e de imoralidade de suas igrejas.

Os evangélicos vivem uma crise de integridade! Precisam se arrepender de seus pecados. A nação brasileira está do jeito que está porque as igrejas têm uma grande parcela de culpa elegendo pessoas sem caráter em troca de uma sandália ou de algumas telhas pra sua capelinha.

O joio cresceu no meio do trigo e só nos resta esperar a hora da ceifa quando o Pai disser, “separem o joio, queimem-no, e tragam o trigo para o meu celeiro”. Digo a você, meu irmão: Não se preocupe com esses imbróglios da política por onde escorre a maldade, a malignidade, a mentira e a coação.

Consagre-se mais a Deus; veja menos noticiário político; agarre-se à sua Bíblia e à oração, do contrário todos nós seremos varridos pelo Tsunami da imoralidade e da nefasta política.

Está na hora de haver uma grande revolução; não no mundo, mas na igreja; revolução de integridade e ética. Só assim a igreja, e não os políticos mudarão os rumos de nossa nação.   


terça-feira, 27 de outubro de 2015



Flashes da História da Igreja

O surgimento dos movimentos místicos.


“No século doze o espírito de profecia irrompeu simultaneamente nos conventos do Reno e no sul da Itália”, afirma Philip Schaff (Vol. V p 182). Assim começa a descrição de Schaff a respeito do início do movimento profético que ao longo dos anos haveria de culminar com a Reforma Protestante. Antes de Lutero, iniciando-se neste tempo, um movimento de avivamento ocorreu em toda Europa tentando colocar a Igreja novamente na trilha dos Pais do Novo Testamento.

Precisamos visualizar o período que vai de 1.100 a 1530 quando ocorreu a reforma protestante. Um movimento profético dentro da igreja minou o poderio e a força da instituição romana. O leitor deve analisar este período levando em conta que só existiam duas igrejas no mundo: a igreja Oriental ou Ortodoxa que se separou de Roma, conhecida como Igreja do Oriente e a igreja de Roma, que adotou o papado, conhecida como igreja do Ocidente. Em relação a segunda, todo e qualquer movimento espiritual que não obedecesse aos dogmas e normas da igreja romana era tido como herege, e portanto perseguido.

No entanto, foi dentro deste ambiente que pode ser visto o remanescente da igreja. Ainda que perseguidos irmãos e irmãos de todos os níveis sociais não abandonaram suas crenças, sendo perseguidos e mortos. Muitos  tiveram suas terras confiscadas pela igreja e tiveram que fugir de seus países, para serem novamente perseguidos noutras regiões.

É neste período que encontramos a figura de uma mulher que recebia do Espírito Santo revelações para a igreja da época. Convém lembrar que na ocasião, Roma ditava as doutrinas e preceitos da igreja com mão de ferro levando à forca e à fogueira os que considerava hereges. Para Roma, o movimento profético daquele período era herege e sectário e a Igreja perseguia todos quantos não andavam conforme sua linha doutrinária. Era um período negro na história da igreja e a cúpula de Roma vivia envolvida na riqueza e luxúria havendo abandonado a simplicidade da fé e da vida cristã.  Dentro deste negro quadro da história surgiu naqueles anos o movimento profético, e não titubeamos em afirmar que Francisco de Assis procede deste quadro espiritual. Enquanto ele é venerado como um santo, todos os demais da época foram tidos como hereges.

Alguns dos expoentes proféticos daquele tempo que rejeitavam e denunciavam a corrupção do clero foram Hildegard de Bingen, Elizabete de Schoenau e Joaquim, abade de Flore. Essas pessoas foram precursoras de um movimento profético que daria origem, anos depois a um movimento paralelo que agiria dentro da igreja de Roma, com líderes que não mais obedeciam as ordens de bispos e do Papa. Tais pessoas deram origem ao grande mover de Deus que afetaria Wicliff na Inglaterra e João Hus na Boêmia, pais espirituais dos Brethrem ou “irmãos” cujos remanescentes permanecem ainda entre nós na forma de diversas denominações ou grupos não denominacionais evangélicos.

Hildegard que viveu de 1098 a 1179 no convento beneditino de Disebodenberg, próximo de Bingen no Reno era mulher proeminente naqueles dias. Outra mulher, Heloisa era também muito conhecida, mas não por seu trabalho na igreja e sim por ligação com Abelardo. Juntamente com Elizabete de Turingia eram as mulheres mais proeminentes daqueles dias.  (M.Paris em Luard´s Ed. V 195 In Philip Schaff Vol V p 26). Documentos históricos indicam que era uma mulher de compleição física enferma, e ela mesma declarava ser o vaso divino para receber as visões de Deus desde tenra idade. Numa das cartas que escreveu a Bernardo de Clairvaiux (líder espiritual francês), ela afirma que tinha visões de Deus “não com os olhos físicos, mas com os olhos espirituais, com seu conhecimento interior” (Scivias, I. Praefatio, Migne, 197, 384).

Enquanto o clero se prostituía espiritualmente, o Espírito Santo levantava por toda a Europa homens e mulheres dando-lhes ouvidos espirituais e ousadia para agir dentro de uma igreja atarracada e corrompida em todos os sentidos. Hildegarde escreveu que quando tinha quarenta e dois anos de idade, uma forte e intensa luz surgiu do céu que se abriu sobre ela, entrou por seu cérebro, e penetrou em seu coração e peito como uma chama de fogo. O que via não era em sonhos nem enquanto dormia ou em transe nem em lugares ocultos, mas enquanto estava acordada e com plena consciência, usando seu ouvido e olhos interior conforme a vontade de Deus.  Bernardo de Clairvaux conhecia sua fama por receber tantos segredos divinos.

Naquela época surgia no sul da França um movimento considerado herege pela igreja entre os Albigenses colocado na cronologia da história da igreja como 1215. Anos, antes (ao redor de 1148) Hildegarde lamentava a precária condição do clero e anunciou que os Cátaros seriam usados para sacudir e purificar o cristianismo levando as pessoas a buscarem a salvação, não nos padres, mas em Cristo Jesus.

A partir dessa época – conhecida como era dos místicos – o fervor profético tomou conta da Europa. Não devemos esquecer que na mesma época na Irlanda viveu um abade místico com grandes manifestações do poder e cujas profecias sempre se cumpriram ao longo da história. Trata-se de São Malaquias poderoso fiel que profetizou o dia e local de sua morte que haveria de ocorrer em Clairvaux, no dia de finados. Apesar de não estar enfermo, como atestavam os médicos, morreu aos 54 anos nos braços de seu amigo Bernardo de Clairvaux. Malaquias ficou conhecido na história da igreja pelas profecias que fez sobre os papas em 1139 quando de sua visita a Bernardo de Clairvaux, ocasião em que  descreveu cada papa de 1143 até nossos dias e além. Naquele tempo o Papa era Inocêncio II (1130-1143). Até hoje, cada Papa da história segue o nome que ele deu em suas visões na Irlanda (Mais sobre ele pode ser lido em meu artigo “Os últimos Papas da História”).

Nós que vivemos numa época de grande burburinho espiritual em que a igreja parece haver perdido sua identidade espiritual precisamos recorrer a história para ver a ação do Espírito Santo na renovação da igreja.

Elizabeth of Schoenau, que morreu em 1.165 aos trinta e seis anos de idade era também uma mística contemporânea de Hildeberge e com ela trocava idéias. Também escreveu e conhecia pessoalmente a Bernardo de Clairvaux apesar de residir na Alemanha.

Dentro os vários profetas e místicos que surgiram na época, destaque-se Joaquim de Flor que morreu em 1202. Joaquim influenciou grandemente o sul da Europa através de seus escritos, especialmente pela interpretação que deu a uma ala da ordem fransciscana. Tal influência pode ser vista quando Ricardo, Coração de Leão estava na Sicília a caminho da Palestina. Ouvindo a fama de Joaquim, Ricardo o procurou em 1190. O abade interpretou para ele as profecias do Apocalipse afirmando que o anticristo já tinha nascido e que em breve seria elevado ao apostolado, levantando-se contra tudo o que é de Deus (De Hovedem, tradução inglesa, Vol II p 177). Enquanto viveu, Joaquim era tido como um profeta entre os seus pares.

Joaquim foi para aquela época, o que muitos profetas são em nossos dias. Ele se dedicou a interpretar historicamente as Escrituras. A respeito disso escreveu Philip Schaff:

Interligadas com as profecias aparecem as teorias de Joaquim sobre o desenvolvimento da história.  A era do Antigo Testamento teve seu auge e vigor e da mesma forma o Novo Testamento. Mas uma terceira era haveria de surgir. A base para esta teoria dos três períodos pode ser encontrada  na comparação do Antigo e Novo Testamento que revela o paralelismo entre os períodos da história do povo de Israel e os períodos da história da igreja. Tal paralelismo foi-lhe revelado numa noite de Páscoa e veio-lhe clara como a luz do dia.
A primeira das três Era foi a era do Pai, a segunda a do Filho – dos Evangelhos e dos sacramentos, e a terceira, a era do Espírito Santo que ainda haveria de vir. As três épocas eram representadas por Pedro, Paulo e João. A primeira a era da Lei, a segunda a da graça e a terceira de mais graça. A primeira ficou caracterizada pelo medo, a segunda pela fé e a terceira marcada pela caridade. A primeira foi a era dos servos, a segunda dos libertos, e a terceira dos amigos. A primeira trouxe água, a segunda vinho e a terceira óleo. A primeira foi a era dos casamentos e corresponde à carne; a segunda a dos sacerdotes, com os elementos de carne e Espírito mesclados; a terceira a dos monges, e era deveria ser completamente espiritual. Cada uma destas épocas tinha um começo, uma maturidade e um fim. A primeira começou com Adão e teve seu pico de maturidade em Abraão. A segunda começou nos dias de Elias e teve sua maturidade em Cristo. A terceira começou nos dias de São Benedito no sexto século. E sua maturidade estava acontecendo nos dias do próprio Joaquim. O cumprimento teria início em 1260 (Philip Schaff Vol. V p 184).    

Joaquim não era um sectário nem reformador, e costumava ser enérgico contra os vícios de Roma, e, como diz Schaff “era um místico vidente que estudava a Bíblia com muita paciência, e via no futuro a perfeita realização da Igreja espiritual, fundada por Cristo, livre dos formalismos e das disputas sangrentas pelo poder”. Anos depois vários religiosos sofreram por manter e defender os ensinamentos desse profeta, entre eles Gerardo de Borgo San Domino que escreveu precipitadamente um tratado intitulado Introdução ao Evangelho Eterno em que expunha os ensinamentos de Joaquim, declarando que os escritos de Joaquim eram, por si mesmos, o código do evangelho eterno, e que tinha a autoridade para a terceira era, assim como o Antigo e Novo Testamentos eram autoridades para as eras do Pai e do Filho. Tal fato gerou muita perseguição por um dos inimigos dos franciscanos, Willian de Sto. Amour e redundou na prisão de Gerardo que veio a falecer em sua masmorra dezoito anos depois.

Em 1263 o sínodo condenou os escritos de Joaquim que foi, por assim dizer, o profeta do milênio da idade média.
  


sexta-feira, 11 de setembro de 2015


Períodos da História da Igreja
(Extraído de Church History, by Philip Schaff, Vol. 1 – Introdução geral).


Apesar de toda confusão e dificuldade quanto aos detalhes dos períodos da história do cristianismo, os historiadores concordam entre si que estes podem ser divididos em três partes principais: Antiga, medieval e moderna. Ainda que não haja acordos sobre quando termina uma era e começa a outra.

Na realidade os períodos da história não são estanques, como se em 311 terminasse um período e começasse outro; os acontecimentos e eras se interpõem e uma era entra na outra imperceptivelmente.

I. História da igreja, do nascimento de Cristo até Gregório, o Grande, que vai do ano 1 ao ano 590 d.C.

Esta é a era da igreja Greco-latina ou a era da patrística, dos pais cristãos. Seu território cobre os países que beiram o Mediterrâneo – Oriente Médio, norte da África e Europa Oriental - simplesmente uma área do império romano e do domínio pagão. Nesta era foi lançado o fundamento, a doutrina, governo e adoração que se perpetuaria por toda a história. É a era de onde surgiram as várias confissões de fé.

A vida de Cristo e a vida da igreja apostólica são, de longe, a parte mais importante e requerem um tratamento em separado. Eles formam o terreno divino-humano da igreja, e inspiram, regulam e corrigem todos os demais períodos.

Então, o começo do quarto século com a ascensão de Constantino, o primeiro imperador cristão marca um período decisivo. É o cristianismo erguendo-se da acusação de ser uma seita até se tornar a religião prevalecente do império Greco-romano. Na história das doutrinas, o primeiro concílio ecumênico de Nicéia que aconteceu no meio do reinado de Constantino, no ano 325 d. C., é o ponto alto da época.

Dentro desse período existem outros três períodos da era patrística, que podemos designar como o período dos apóstolos, o período dos mártires e o período dos imperadores cristãos e dos patriarcas.

II. Cristianismo medieval, de Gregório I à época da Reforma, período que vai de 590 a 1517.

Geralmente a idade média é reconhecida como o período que vai de Constantino (306 ou 311); da queda do império romano no Oriente, no ano 476; de Gregório, o Grande, no ano 590, passando por Carlos Magno, ano 800. No entanto, este período, para alguns vai até a época da Reforma em 1517. Gregório, o Grande parece ser o ponto do clímax dessa divisão. Com Gregório, o Grande, o autor das missões anglo-saxônicas encerra-se o período dos pais da igreja, e o começo da era dos papas. Neste tempo ocorre a conversão das tribos bárbaras e, ao mesmo tempo o desenvolvimento do papado absoluto com a alienação ou divisão das igrejas do Oriente.

Vê-se aqui o caráter distinto da idade média: A transição da igreja a partir da Ásia e África para a Europa central e Oriental; deixando de ser uma igreja Greco-romana para se tornar mais abrangente entre os germânicos, os celtas e raças eslovênias; e assimilou a nova cultura da civilização moderna deixando para trás a cultura ancestral.

Neste período, o grande trabalho da igreja foi a conversão e educação dos pagãos bárbaros, que conquistaram e puseram por terra o império romano, mas que também foram conquistados e transformados pelo cristianismo. Essa tarefa foi realizada principalmente pela igreja latina, sob um governo constitucional firme que culminou com a eleição do bispo de Roma. A igreja grega, ainda que conquistasse as tribos eslávicas da Europa Oriental, especialmente durante o império russo, mesmo com um bom crescimento, sofreu pressões e foi reduzida pelo islamismo na Ásia e na África que foram berços do cristianismo (norte da África) e Constantinopla (atual Istambul na Turquia). Na Idade Media o desenvolvimento da hierarquia da igreja romana se tornou a igreja dos Papas, diferentemente da primitiva igreja de nossos pais e a igreja moderna dos reformadores.

No crescimento e queda da hierarquia romana três papas se destacaram como representantes de várias épocas: Gregório I ou Gregório o Grande (590 d. C.), que marca o surgimento da supremacia papal. Gregório VII ou Hildebrando (1049 d. C.) é o apogeu. Bonifácio VIII (1294) marca o declínio. Temos assim três períodos da igreja da era medieval. Poderiam ser chamados pela ordem de período missionário, período papal e período pré ou ante-reformatório do catolicismo.

III. Cristianismo moderno, da Reforma do século XVI até hoje (1517-1880).

A história moderna se move principalmente entre as nações da Europa e, a partir do século XVII se espalha pela America do Norte. O cristianismo Ocidental se divide agora em duas partes: Uma parte do cristianismo permaneceu no sistema antigo; a outra buscou um novo caminho, enquanto a igreja oriental se afastava cada vez mais do palco da história e parecia imperturbável, com exceção da Rússia moderna e da Grécia. A história da igreja moderna na época do protestantismo conflita com o romanismo, porque oferece liberdade e independência e se liberta da autoridade e tutela romana oferecendo um cristianismo mais pessoal em contraste com o sistema religioso de Roma.

Novamente aqui surgem três novos períodos que tomam o nome de Reforma, Revolução e Avivamento. O século XVI ao lado da era apostólica tornou-se o período mais frutífero da história da igreja, por ser o século da renovação da Igreja e da contra-reforma papal. É o berço de todas as denominações e seitas protestantes e também do moderno romanismo.

O século XVII é o período da ortodoxia escolástica, do confessionalismo polêmico e da estagnação comparativa. O movimento reformatório cessa no continente, mas move-se poderosamente através do puritanismo na Inglaterra e se estende até mesmo nas florestas das colônias americanas. O século XVII se tornou o mais frutífero da história da Inglaterra dando espaço para o surgimento das denominações dissidentes que foram levadas para a América do Norte e que cresceram mais que as igrejas históricas. Então, no século dezoito surgiram os movimentos pietistas e o avivamento metodista cuja prática entrava em conflito com a ortodoxia morta e o formalismo religioso da época. Enquanto isso, na igreja romana prevaleceu o movimento dos jesuítas que enfrentaram oposição do Jansenismo e do galicanismo. [1]

Na segunda metade do século dezoito tem início uma virada das ideias tradicionais que revolucionou o Estado trazendo infidelidade na igreja, especialmente na igreja católica da França e no protestantismo alemão. O deismo na Inglaterra, ateísmo na França, racionalismo na Alemanha, representam os vários graus da apostasia da era moderna que se distanciou do credo ortodoxo. O século dezenove apresenta, em parte, um desenvolvimento ainda maior dessas ideias e tendências destrutivas e negativas, mas com ela veio também o avivamento da fé e da vida cristã, e o começo de uma nova criação pela pregação do evangelho.  O avivamento pode ser datado a partir do terceiro centenário da Reforma em 1817.  Neste mesmo tempo, na América do Norte, ingleses e protestantes serviram de abrigo para todas as nações, igrejas e seitas do velho mundo com uma pacífica separação do poder temporal e do espiritual que veio sobre a igreja como um gigante cheio de vigor e promessas.

Temos, assim a soma de nove períodos da história da igreja como se vê a seguir:

Primeiro período:
A vinda de Cristo e o surgimento da igreja apostólica. Este período começa com o nascimento de Cristo, a encarnação até a morte de São João (1-100 d.C.).
Segundo período:
 Cristianismo sob intensa perseguição pelo império romano. Este período vai da morte de São João a Constantino, o primeiro imperador cristão (100-311 d. C.).
Terceiro período:
 O cristianismo em união com o império Greco-romano e no meio das tormentas do fluxo migratório das nações. Este período vai de Constantino o Grande até o Papa Gregório I (311-590 d.C.).
Quarto período:
 O cristianismo é implantado entre os teutões, entre os celtas e nações eslovacas. Vai de Gregório I a Hildebrando ou Gregório VII (590-1049 d. C.).
Quinto período:
A hierarquia papal domina a igreja ao lado da teologia escolástica. Este período vai de Gregório VII a Bonifácio VIII (1049-1294 d. C.).
Sexto período:
O declínio do catolicismo medieval e a preparação para os movimentos da Reforma. Vai de Bonifácio VIII a Lutero (1294-1517 d. C.).
Sétimo período:
A Reforma evangélica e a contra reação da igreja de Roma. Vai de Lutero ao tratado de Westfália (1517-1648 d. C.).
Oitavo período:
Esta foi a era do polemismo da ortodoxia e do confessionalismo exclusivo que veio acompanhado dos movimentos diversos. Do tratado de Wesfália até a revolução francesa (1648-1790 d. C.).
Nono período:
O aumento da infidelidade e os reavivamentos na Europa e na América com esforços missionários que cobriram todo o mundo. Vai da revolução francesa até o presente (1790-1880). Nota: O livro de Philip Schaff foi concluído em 1880!

Assim, o cristianismo atravessou várias etapas de sua vida terreal e a duras penas cresceu na maturidade em Cristo Jesus. Durante os séculos a igreja sobreviveu a destruição de Jerusalém, a dissolução do império romano, as perseguições que vinham de fora e as que vinham de dentro; as invasões dos bárbaros, as confusões de eras das trevas, a tirania papal, a infidelidade, a selvageria das revoluções, os ataques dos inimigos e os erros de seus líderes; o surgimento e queda de orgulhos reinos, impérios, das repúblicas, dos sistemas filosóficos e das organizações sociais sem fim.

E, pasmem! A igreja ainda vive com mais força que antes; com alcance maior ainda. A igreja está por trás do progresso das civilizações e dos destinos da humanidade. Ela marcha sobre as ruínas da sabedoria humana seguindo sempre em frente. Espalha silenciosamente as bênçãos celestiais de geração em geração, de país em país até os confins da terra. A igreja nunca morrerá. Nunca será decrépita, como são os homens, mas, semelhante ao seu divino fundador viverá no frescor da renovação de sua juventude e como um homem musculoso será inquebrantável sobrevivendo através dos tempos.

Denominações e seitas, doutrinas e formas humanas, governos e sistemas de cultos, depois de alcançarem seu propósito desaparecerão como a carne envelhecida, mas a Igreja Universal de Cristo em sua vida e substância divinal é muito forte para ser vencida pelas forças do inferno. Apenas mudará suas vestimentas terreais pelas vestes celestiais levantando-se da extrema humilhação para a exaltação e glória. Então, na vinda de Cristo ela ceifará a colheita final da história, e, como igreja triunfante celebrará no céu seu descanso de santidade e paz.    








[1] (Nota do Tradutor: O jansenismo foi uma doutrina religiosa inspirada nas ideias de um bispo de Ypres, Cornelius Jansen. Como movimento teve caráter dogmático, moral e disciplinar, que assumiu também contornos políticos, e se desenvolveu principalmente na França e na Bélgica, nos séculos XVII e XVIII, no seio da Igreja Católica, e cujas teorias acabaram por ser consideradas heréticas pela mesma, desde 16 de Outubro 1656, através da bula Ad Sacram subscrita pelo Papa Alexandre VII. Defendia uma interpretação das teorias de Santo Agostinho sobre a predestinação contra as teses tomistas do racionalismo aristotélico e do livre arbítrio. (Já o galicanismo foi um movimento que se originou na França e defendia uma administração da igreja de cada nação independente do controle papal- fonte Wikipedia).  

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Frases sobre evangelização

Se o seu evangelho não está mexendo com os outros, é porque ainda não mexeu com você” (Curry R. Blake).

Eu só tenho uma vela de vida a ser consumida, e prefiro queimá-la numa terra plena de trevas do que num lugar onde já existem luzes suficientes” (John Keith Falconer).

Pregamos sobre a segunda vida (de Cristo), e metade do mundo nunca ouviu falar da primeira” (Oswald J. Smith).

O espírito de Cristo é espírito missionário; quanto mais perto dele nos achegamos, mais missionários nos tornamos” (Henry Martin).

Use o ministério para edificar as pessoas e não as pessoas para edificar o seu ministério” (Jacquelyn Heasley).

Nós os crentes somos devedores a todos os homens em todas as eras e lugares, mas, somos presunçosos para com os perdidos. Vivemos como em Laodicéia, mornos, miseráveis, e pobres. Por que tanta indiferença para com os perdidos? A condenação que pesa sobre nós é que sabemos que deveríamos viver melhor do que estamos vivendo” (Leonard Ravenhill). 

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A DIFERENÇA ENTRE IGREJA E REINO


A ORAÇÃO QUE JESUS ENSINOU:

Jesus nos ensinou a orar de maneira tão simples em Mateus 6.9-13. É uma oração completa e pode ser dividida assim:
1. Exaltando a santidade de Deus.
2. Exaltando e suplicando a chegada do governo de Deus.
3. Suplicando pelo alimento diário.
4. Suplicando para a solução dos relacionamentos interpessoais.
5. Suplicando para que Deus nos guarde dos perigos do Maligno.
6. Conclui: “Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre, amém!”.

Uma paródia atual: A igreja mudou a oração de Jesus e, parece que está orando assim:
Pai nosso que estás dentro de mim, interiorizado seja o teu nome, venha a nós a tua igreja, seja feita a nossa vontade tanto na terra como na igreja; os recursos financeiros nos dá hoje e perdoa as nossas faltas assim como tentamos perdoar a falta dos outros, e não nos deixes cair em tentação, pois tua é a igreja e tudo o que nela se contém. Amém.

INTRODUÇÃO:
Há uma grande confusão entre os cristãos a respeito do reino de Deus e a Igreja. As pessoas se perguntam se a igreja é o reino de Deus na terra, ou se devem esperar por um reino vindouro. Por ser um assunto difícil de ser entendido é que resolvi escrever este pequeno estudo. Comecemos pelas definições: A palavra “reino” vem do grego “basileia”, e o professor W.E.Vine define assim: “É primeiramente um nome abstrato que denota soberania, poder, domínio etc. (Ap 17.18)”. E está sempre ligada à presença de um soberano ou rei. Já a palavra “igreja” vem do grego “ekklesia” de ek, fora de, e klesis, um chamamento (vem de kaleo, chamar). De acordo com o W.E.Vine, era usada entre os gregos para falar de um corpo de cidadãos reunidos para considerar um assunto de Estado (Atos 19.39). Tem o sentido de “tirados para fora”, “congregados”. As assembléias, ou ajuntamentos, ou “igreja” eram reuniões que congregavam as pessoas em torno de uma proposta, ideias etc.
Orar o “Pai Nosso”, como Jesus ensinou implica em mudar três coisas: mudança de mentalidade; mudança no estilo de vida e mudança de conceito teológico.

I. Mudança de mentalidade.
Para se orar dizendo a Deus, “venha o teu reino”, é preciso ter mentalidade de reino. Portanto, é necessário uma mudança de mentalidade. O reino de Deus deve ocupar o primeiro lugar em nossas vidas. Temos que ter mentalidade de reino e não de democracia. No reino de Deus existe ordem e governo. Na democracia deveria existir ordem e governo, e quando tem governo, as próprias pessoas que o elegem são contra ele. No reino de Deus o governo emana de Deus e flui para Deus, portanto, tudo é de Deus, nada é nosso!

Mudar a mentalidade de “igreja” para “reino”. Uma coisa é trabalhar para a igreja, outra bem diferente é trabalhar na igreja com vistas ao reino de Deus.
Para que a nossa mente fique ainda mais esclarecida e entendamos bem a diferença entre o reino e a igreja, consideremos alguns aspectos:
A) A igreja é a assembléia daqueles que pertencem a Jesus Cristo, que aceitaram o evangelho do reino mediante a fé.
B) Podemos afirmar que o reino toma a sua forma na igreja, isto é, a igreja toma a forma do reino!
C) A igreja é o órgão do reino... É ela que vive e anuncia a chegada do reino de Deus a terra!
D) Precisamos entender que a igreja não é o reino de Deus, mas tem toda a constituição do reino, sua revelação, o seu progresso e sabe quando será a vinda total do reino a terra. Isto é, ela possui de antemão todos os direitos jurídicos que estabelecerão o reino de Deus na terra.
E) Precisamos entender que a igreja existe dentro do reino, porém, o reino não é restrito às fronteiras da igreja! O reino transcende a própria história. Podemos dizer, portanto, que o reino invade a história e afasta a tirania dos povos pela ação da igreja. Onde ela entra, o reino começa a penetrar em sua forma mais visível! Por exemplo, antes de Israel existir como nação, o reino se expressava na terra de outras formas, na vida de Noé, dos patriarcas, de Melquisedeque, etc.
F) Não somos herdeiros da “igreja”, mas herdeiros do reino. Isto é o que a Escritura fala, pois jamais encontramos a expressão “herdeiros da igreja”, mas repetidas vezes vemos a expressão “herdeiros do reino”.
G) A Escritura fala em “receber o reino”, mas não em receber a igreja. O reino se recebe, a igreja não!
H) Lemos sobre os “presbíteros da igreja”, mas jamais sobre “presbíteros do reino”. E estas diferenças devem levar-nos a refletir sobre a função de ambos.
I) Temos que destacar que a palavra “basileia” traduzida como reino ocorre 162 vezes; e no plural ela aparece somente em Mateus 4.8, Lucas 4.5, Hebreus 11.33 e Apocalipse 11.15. Por outro lado a palavra “ekklesia” ocorre 115 vezes, sendo 36 no plural e 79 no singular. Todas traduzidas como “igreja” exceto em Atos 19.32, 39-40 onde aparece como “assembléia”. Só o fato de termos menções diferentes em contextos diferentes devem levar-nos a pensar na função diferente de reino e igreja.
J) Lemos na Escritura sobre os “filhos do reino”, mas, nada sobre “filhos da igreja”.
K) Temos que entender que as características da ambos são diferentes. A igreja possui características diferentes do reino e vice-versa.
L) Os nomes e as citações de “a igreja”, nunca são usados para o reino. Isto pode ser visto nos seguintes textos onde a igreja tem várias definições, como corpo, lavoura, mas nunca reino (Ef 1.23; 2.21; 4.4,16; 5.30; Cl 1.24; 1 Tm 3.15).
M) A igreja tem o privilégio de reinar com Cristo, no reino futuro. Temos que entender que o reino, em todos os seus aspectos tanto atuais como futuros, se concentra em Jesus. O fato dos escritores falarem de “reino dos céus” e “reino de Deus” não altera o conteúdo do assunto. Isto é o que vemos nas parábolas que Mateus apresenta como “reino dos céus” enquanto outros evangelistas as apresentam como “reino de Deus.

II. Mudança no estilo de vida.
Orar, “venha o teu reino” implica numa mudança de estilo de vida: Todas as coisas que adquiro têm de estar alinhadas com o reino de Deus. O curso universitário e a profissão que adquiro, a casa em que resido e o carro que uso precisam estar alinhados com o projeto do reino de Deus na terra. Senão, estarão alinhadas com o meu projeto isoladamente, e não com o do reino de Deus. Até mesmo o estilo de vida da igreja, como a construção de casas, abrigos e templos precisam seguir as diretrizes do reino.

Qual o nosso procedimento?
A) Passamos a ver a igreja não com um fim em si mesma, mas agindo em função do reino de Deus! Com isso eliminamos aquela idéia localista, de que somos uma comunidade somente local, e leva-nos a uma integração com os irmãos na cidade e nos demais lugares. Onde há igreja, não vemos placa, cor, a denominação, mas vemos os irmãos agindo em função de Deus!
B) Passamos a ver e a respeitar a soberania de Deus em todas as coisas. Deus é soberano na história e foi esta soberania que nos alcançou. Ele cuidou de Israel e planejou nos incluir em seu propósito.
C) As organizações “a serviço da igreja” são, na realidade, a serviço do reino. As “para-eclesiásticas”, isto é, organizações a serviço da igreja, são na realidade, a serviço do reino, já que as pessoas que nelas trabalham são da igreja e agem em função do reino!
D) A igreja foi chamada para ser, aqui e agora o que Deus quer que a sociedade em peso seja. No projeto de Deus, há um povo que deve viver as demandas do reino, como se fosse o próprio reino estabelecido.
E) Nossa visão de reino nos ajuda a ter uma perspectiva cósmica da igreja; já não vemos somente o nosso “grupo”, mas, todos os “agentes” do reino na cidade. E isto adquire uma dimensão muito grande, pois nos vemos parte de um projeto de Deus que transcende a localidade, aos costumes, transcende as ênfases tanto de visão ou ação enlaçando-nos mutuamente no grande projeto de Deus que é o seu reino na terra!
F) Temos que entender que a igreja participará da entrega do reino de Deus, juntamente com Cristo (Sl 110.1; 1 Co 15.24; At 2.34,35; Ef 1.22). É aqui que ela entra como esposa do Cordeiro, pois, reinando com Cristo na terra, ela participará de forma grandiosa da entrega do reino ao Pai! Ela se torna igreja gloriosa, quando entende que não é igreja para si mesma, mas igreja em função de um projeto de Deus que é o reino Dele na terra! Aleluia!

III. Mudança de conceito teológico.
Ao orar “venha o teu reino” entendemos que o reino de Deus será estabelecido na terra, alinhado com as leis do céu: “assim como no céu”. A mudança de conceito teológico faz que os teólogos sejam mais sinceros com as verdades bíblicas, mais pragmáticos no ensino e mais diretos ao explicar o projeto de Deus, ainda que firam os conceitos da igreja institucionalizada.

A) Confusões teológicas que precisam ser esclarecidas sobre o reino.
A primeira confusão teológica procede da igreja Católica que enfatiza que a igreja por si só é o reino de Deus materializado na terra. Ela acredita que a igreja é o reino. Daí entende-se o esforço que a igreja Católica faz para ocupar todos os segmentos da sociedade. O Vaticano tornou-se Estado independente, domina o mercado financeiro, influencia politicamente as decisões dos países, e é o Estado que tem mais propriedades em todo o mundo, porque crê que a igreja é o reino na terra.
A segunda confusão teológica veio, consequentemente, com os reformadores. Esses, em contrapartida, puseram sua ênfase no sentido espiritual e invisível do reino interpretando Lucas 17.20: “O reino de Deus não vem com aparência exterior”. A reforma levou o entendimento de reino e igreja para outro extremo. Para a reforma, o reino é meramente espiritual!
Depois, em terceiro, veio o movimento pietista que colocou o reino num sentido muito individual, como a paz no coração do homem etc. O reino, então, adquiriu um sentido muito restrito, pequeno, ínfimo e individualizado.
Em quarto aparece o liberalismo teológico que, (especialmente sob a influência de Kant), deu uma conotação puramente moralista, dizendo que o reino é paz, amor, justiça e tranquilidade. Assim, onde há paz e amor, onde a justiça é praticada e houver tranquilidade, aí estará o reino.
Em quinto, temos, num outro extremo, aqueles que trazem o evangelho social e creem que através dele que o reino chegará a terra. Isto veio especialmente por parte dos norte-americanos e, em parte da teologia da libertação.

Temos que crer, e entender que, fundamentalmente o reino está presente na terra, trazendo salvação e a presença de Deus na história. É interessante observar a parábola que Jesus contou aos discípulos, já que eles pensavam estar perto o reino de Deus. Diz o texto que “Jesus propôs uma parábola, visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente” (Lc 19.11). Observe que a razão de Jesus proferir a parábola era porque eles entendiam que o reino estava para chegar imediatamente! E contou a história do homem nobre que partiu para uma terra distante e chamou seus servos...

A igreja é, portanto, a agência do reino e a ela cumpre o dever de trazer todas as coisas sob domínio e senhorio de Jesus Cristo. Não é o evangelismo nem a ação social divorciados entre si que trarão o reino. A igreja está proclamando que o reino virá, ao mesmo tempo em que vive o reino de Deus na terra!

A generosidade do povo de Deus:
A diferença entre o reino de Deus e o de Satanás

O reino de Deus e o de Satanás são opostos entre si. O reino de Satanás é um reino de individualismo, de mesquinhez e de ódio. Haja vista as obras da carne, conforme a lista de Romanos 1.30,31: “...caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia”. No reino de Satanás os súditos têm essas características. Imagine viver num reino onde a calúnia, a traição (perfídia) e a falta de misericórdia fazem parte do dia-a-dia das pessoas.
E mais: Gálatas 5.19-21 nota-se que no reino de Satanás impera a “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a esta”. Nem a pior das sociedades antigas ou das cidades apresentadas nos filmes de faroeste americano, ou a sociedade mais animalesca têm características iguais a estas. E é nesse reino de Satanás que a sociedade como um todo está inserida.

O reino de Deus é de amor, generosidade, cuidado e tolerância. Para entender alguns princípios do reino de Deus torna-se necessário examinar as leis que Deus deu ao povo de Israel no Antigo Testamento, cujo objetivo era o de ensinar a nação de Israel a ser amorosa, bondosa para com os órfãos, com as viúvas, com os pobres e com os estrangeiros. O que não significa que um súdito do reino de Deus seja pobre e miserável por ter que dividir com seu irmão os seus bens. O melhor amigo de Deus, Abraão, era um homem muito rico (Gn 13.1).

I. Por natureza, Deus é dadivoso e benevolente.
Deus não faz acepção de pessoas. Jesus deixou isso bem claro, quando exortou seus seguidores que o Pai celeste “faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam que Deus lhes dê alguma recompensa? Até os cobradores de impostos amam as pessoas que os amam! Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que estão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso!” (Mt 4.43-47 – NTLH). A questão é: Se amamos apenas os que nos amam, não teremos recompensa alguma de Deus. Qualquer pessoa ama os que lhe são chegados. Mas, no reino de Deus o amor é incondicional e devemos amar os que nos odeiam! Esse é o nível da perfeição de Deus.

A benevolência e generosidade de Deus foram mencionadas por Paulo.
Mas Deus sempre mostra quem ele é por meio das coisas boas que faz: é ele quem manda as chuvas do céu e as colheitas no tempo certo; é ele quem dá também alimento para vocês e enche o coração de vocês de alegria” (At 14.17). Os judeus usavam a expressão “chave das chuvas”, admitindo ser uma das chaves que Deus possui e que ele não entrega a ninguém. É a bênção de Deus à humanidade que Deus distribui para justos e injustos, e concede também aos gentios que vivem em sua ignorância. A expressão estações frutíferas se refere à primavera, verão (tempo da messe) e outono quando frutos diferentes aparecem. Enchendo nossos corações de alegria” (comentário sobre o texto, de John Gill na Bíblia On Line).

A) Para que não se orgulhassem, Deus deu ao povo de Israel leis que os levavam a ser generosos.
1. Ensinou-os a dar dízimos e ofertas (Dt 12.6; 14.22-26).
2. Deus os ensinou a deixar parte do que colhiam para os mais pobres da terra. Caso esquecessem um molhe de cereais no campo, não podiam voltar para buscá-lo. Era deixado para os estrangeiro, o órfão e para a viúva. Esta era a condição imposta por Deus para que o Senhor voltasse a abençoá-los (Dt 24.19).
3. Deus colocou regras para a colheita das árvores e plantas frutíferas (Dt 24.19-22).
4. Deveriam amparar seus irmãos que empobrecessem (Dt 15.7-8).
5. Tinham que ajudar o irmão pobre, nem que fosse no sexto ano e faltasse menos de num ano para que toda a dívida fosse perdoada (Dt 15.9-10).
6. Deus os lembrava que deviam se lembrar dos forasteiros e peregrinos “Não esqueçam que vocês foram escravos no Egito” (Dt 16.12; 24.18).
7. Não podiam cobrar juros: A teu irmão não emprestarás com juros, seja dinheiro, seja comida ou qualquer coisa que é costume se emprestar com juros” (Dt 23.19; Lv 25.35-38).
8. Deus estabeleceu que a cada sete anos fosse o “ano da remissão”. Veja os textos de Levitico Lv 25.2-6. No ano do descanso a terra não podia ser arada nem os frutos colhidos. A terra deveria descansar. Os animais eram soltos nos campos. Eles podiam comer do que espontaneamente nascesse, mas não podiam negociar os frutos colhidos daquele ano. No sexto ano Deus lhes permitia colher três vezes mais para comer nos dois anos seguintes: “Mas alguém é capaz de perguntar como é que haverá comida durante o sétimo ano, quando ninguém vai semear nem fazer a colheita. A resposta é que Deus abençoará a terra, e no sexto ano ela produzirá colheitas que serão suficientes para três anos. Quando vocês semearem os seus campos no oitavo ano, estarão comendo daquilo que colheram no sexto ano, e haverá bastante para comerem até a colheita do nono ano” (Lv 25.20-22).
9. As dívidas dos irmãos judeus eram perdoadas (Dt 15.2).
10. Os escravos eram alforriados (Dt 15.12).
11. No ano da remissão, todo hebreu que tivesse empobrecido e se tornado escravo era alforriado. Seu irmão-senhor deveria indenizá-lo pelos anos que trabalhou (Dt 15.12-14).
12. A lei da alforria a qualquer judeu que fosse escravizado. Se um hebreu se tornasse escravo de um não-judeu poderia ser resgatado por um de seus irmãos. O preço do resgate era estipulado pelos anos que faltassem para o jubileu que era a cada cinquenta anos (Lv 25.47-53). Caso não fosse resgatado por um de seus irmãos, no sétimo era automaticamente alforriado.
13. O que acontecia a cada cinquenta anos:
13.1. A cada cinqüenta anos ocorria o jubileu da terra (Lv 25.8-10).
13.2. Deus é o dono da terra (Lv 25.23), e no quinquagésimo ano a terra voltava ao antigo dono, geralmente para o líder da tribo (Lv 25.10-13; 27.24). “No Ano da Libertação todas as terras que tiverem sido vendidas voltarão a pertencer ao primeiro dono” (Lv 25.10-13).
13.3. A terra poderia novamente ser arrendada para outros, e o preço do arrendamento era o número de safras. Todas essas leis regiam a nação de Israel. A terra não podia ser vendida perpetuamente, porque pertencia a Deus.

B) Existem muitos textos que abordam a ajuda aos pobres e necessitados.
Examine estes:
Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. O Senhor o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama” (Sl 41.1-3).
Levanta-te, Senhor! Ó Deus, ergue a mão! Não te esqueças dos pobres... Tu, porém, o tens visto, porque atentas aos trabalhos e à dor, para que os possas tomar em tuas mãos. A ti se entrega o desamparado; tu tens sido o defensor do órfão” (Sl 10.12,14).
Tens ouvido, Senhor, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás, para fazeres justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem, que é da terra, já não infunda terror” (Sl 10.18).

Que o Senhor ouve o clamor do pobre e do oprimido é destaque em toda a Bíblia. Acredita-se que os irmãos da igreja de Atos levaram a sério os acontecimentos do dia de Pentecoste, porque acontecera no ano do jubileu da terra, redistribuindo as terras e remindo os escravos em Jerusalém. A generosidade dá oportunidade de abrir o coração a Deus para que ele dê mais ainda. O povo precisa descobrir que a generosidade traz a presença de Deus aos lares.

C) O cuidado de Deus com os pobres
O cuidado de Deus com o pobre, órfãos, viúvas e injustiçados é visto em toda a Bíblia. Deus tem especial predileção pelos pobres e desamparados. Qualquer sistema de governo seja de direita, de centro ou de esquerda que se preocupe com os pobres e com os injustiçados parece receber o aval de Deus ao longo da história. O Salmista afirma que Deus “se põe à direita do pobre, para o livrar dos que lhe julgam a alma” (Sl 109.31).
Nenhuma viúva ou órfão podia ser afligidos ou mal-tratados pelo povo de Israel (Ex 22.22), porque ele é o Deus “que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes” (Dt 10.18). Ou como afirma noutra parte: “... tu és o nosso Deus; por ti o órfão alcançará misericórdia” (Os 14.3).
Sob maldição ficavam os que pervertiam ou torciam o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva (Dt 27.19). Isso ainda vale para os nossos dias, senhores que fazem a política do Brasil. Um país que acolhe estrangeiros fugindo de sistemas políticos opressores ou em busca de melhoria de vida terá, sempre, os olhos de Deus sobre ele.
Jó confirma a palavra de Deus e afirma que “... assim, fizeram que o clamor do pobre subisse até Deus, e este ouviu o lamento dos aflitos” (Jó 34.28). Porque o próprio Deus declara que se apressará em julgar os que “defraudam o salário do diarista, e oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 3.5).
Deus afirma que voltaria a abençoar o povo se este parasse de oprimir o estrangeiro, o órfão e a viúva: “Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de recompensas. Não defendem o direito do órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas” (Is 1.23).
Mas, se deveras emendardes os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras praticardes a justiça, cada um com o seu próximo; se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses para vosso próprio mal, eu vos farei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais, desde os tempos antigos e para sempre” (Jr 7.6).
Assim diz o Senhor: Executai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor; não oprimais ao estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar” (Jr 22.3).

Deus associa o cuidado dos marginalizados da sociedade e pobres ao direito do povo continuar residindo na terra de Israel.
Assim, a ordem era: “não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu próximo” (Zc 7.10). Ana, mãe de Samuel interpretou corretamente o pensamento do coração de Deus quando afirmou que ele “Levanta o pobre do pó e, desde o monturo, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do SENHOR são as colunas da terra, e assentou sobre elas o mundo” (1 Sm 2.8).
Quando a viúva do profeta falou a Eliseu que o marido morrera, e que os credores apareceram à porta para levar seus filhos como escravos, pelas dívidas deixadas pelo marido, Deus ouviu o clamor daquela viúva e multiplicou o azeite da botija, de tal sorte que ela vendeu o azeite, pagou as dívidas e ainda conseguiu recursos para sustentar a família (2 Rs 4.1-7).
Talvez esteja aí a razão do sucesso de Agar. Depois de ser mandada embora de casa com seu filho, apenas com um pouco de água e pão, Agar se desesperou no deserto ao vir seu filho clamar a Deus. “Deus, porém, ouviu a voz do menino” e Agar viu um poço de água. Com ela saciou a sede do rapaz. Pelo visto, Agar passou a viver junto daquele poço, porque “Deus estava com o rapaz, que cresceu, habitou no deserto e se tornou flecheiro” (Gn 21.17-21). Tenho plena certeza que Agar passou a vender a água de seu poço aos caravaneiros que vinham do Egito. Ali viveu com seu filho; ali o casou e ali criou seus doze netos, filhos de Ismael.

Sodoma foi destruída por não socorrer os pobres e necessitados.
Havia prostituição sexual em Sodoma, mas a destruição da cidade se deveu a um agravo maior: O desprezo aos pobres. “Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado” (Ez 16.49). Quer dizer: Deus condenou Sodoma porque era próspera, tinha abundância de tudo, mas os pobres da cidade viviam desamparados. Certamente injustiçados. Quando as leis de uma nação não protegem os pobres, e quando seus líderes usam o povo como massa de manobra para proveitos pessoais, Deus coloca essa cidade, Estado ou país sob condenação.
À luz desses episódios e textos do Antigo Testamento é possível conhecer o coração de Deus em relação aos pobres e necessitados. Se é assim, por que a igreja vem se omitindo no cuidado aos injustiçados, aos pobres e desamparados pela sociedade?

II. O ensino de Jesus e dos apóstolos no Novo Testamento.
Jesus se preocupava com os pobres. Os apóstolos lembraram a Paulo, o apóstolo dos gentios do que Jesus dissera. Paulo cita esta orientação em sua carta aos gálatas: “... Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer” (Gl 2.10).
Jesus fala dos que são perseguidos por amarem a justiça, dizendo que eles são bem-aventurados e que deles é o reino dos céus (Mt 5.10). O testemunho de seus discípulos a respeito de Jesus indica que ele se esforçou em ajudar os necessitados, porque, sendo ungido pelo Espírito Santo, “andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38). Jesus trabalhava com o que havia em suas mãos: Curava os enfermos e libertava as pessoas oprimidas pelo diabo. Essa opressão de que a Bíblia fala tem dois lados: Opressão espiritual e social. Os pobres da época de Jesus eram oprimidos socialmente pelo regime religioso dos hebreus, e pelo regime militar imposto por Roma. Precisavam pagar impostos aos romanos de toda sua produção, fossem grãos ou azeitonas. Sempre havia um publicano por perto, cobrador de impostos a serviço dos romanos que à porta da cidade recolhia os impostos!
O reino de Deus possui características diferentes do reino de Satanás. No reino de Deus deve imperar a justiça social, a distribuição de renda, o direito a terra e ao plantio, e o cuidado com os mais necessitados e abandonados pelo poder público.

A) Paulo, a fé e as boas obras.
É preciso entender as duas declarações de Paulo, de que ninguém é salvo pelas “obras da lei” e de que fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras.
Paulo fala na carta aos efésios: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10). Paulo está afirmando que a salvação vem pela fé e pela graça de Deus, mas que fomos criados em Cristo Jesus para a prática das boas obras. O texto que mencionei acima continua da seguinte maneira: Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2.11-15).

Isso quer dizer que a salvação implica também na prática das boas obras. Paulo, por certo está insinuando que a salvação é pela graça, mas o objetivo dessa graça é levar as pessoas nascidas de novo a exercerem seu papel na sociedade cuidando dos pobres e necessitados. A graça de Deus tem como objetivo nos educar para viver de maneira “sensata, justa e piedosamente”.
Fomos purificados de nossos pecados, porque Deus quer uma nação, um povo “exclusivamente seu, zeloso e de boas obras” (Tito 2.14).
Aqueles que pensam que boas obras é coisa da lei – e quando Paulo fala em obras da lei não está se referindo a obras de justiça social, e sim dos sacrifícios e ofertas para purificação dos pecados – precisam rever seu ponto-de-vista. Salvação pela fé e pela graça, e as boas obras a favor dos necessitados andam de mãos dadas. Obviamente que as boas obras não nos salvam – quer sejam as boas obras a favor dos necessitados ou obras da lei – como condição para a salvação, mas as boas obras contarão como nosso galardão no céu.
Se as boas obras antes da salvação não tivessem efeito algum, como explicar o fato de que Cornélio foi ouvido por Deus devido as suas orações, jejuns e boas obras? Antes de conhecer a salvação pela graça em Cristo Jesus, Cornélio é mencionado como homem “piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus”. E que lhe disse o anjo? “As tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus” (At 10.1-4). Pois bem, que expliquem os teólogos como as boas obras de Cornélio eram anotadas no céu antes de ser salvo por Jesus Cristo!

B) Acumulando para a eternidade.
1. Contribuir financeiramente, conforme Paulo, acumulamos tesouro nos céus.
Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida” (1 Tm 6.17-19).
O comentarista John Gill diz a respeito: Acumular tesouros nos céus, que durem eternamente. O que se acumula aqui fica para os outros, para os parentes e até para os estranhos, e não se sabe para quem; o que se acumula nos céus é para si mesmo. Dizem que o rei Mumbaz distribuiu as riquezas do seu pai para os pobres, quando vieram seus amigos e reclamaram. Ele lhes respondeu: “Meu pai entesourou aqui embaixo; eu entesourei lá em cima; o tesouro de meu pai ficou para os outros; eu acumulei lá em cima pra mim mesmo; meu pai acumulou para este mundo; eu acumulei tesouro para o mundo vindouro” (John Gill, na Bíblia on Line). São do reverendo Dr. Charles L. Heuser as palavras: “Ao morrer, você não leva consigo o dinheiro que economizou durante a vida, mas leva o dinheiro que doou. Você não leva a comida que estocou, mas leva a que dividiu com os outros. O que deu para ajudar os outros, você leva. O que você manteve consigo fica para trás”.
John Wesley em seu comentário do Novo Testamento afirma que esses textos são uma espécie de post script. Ele afirma que as pessoas ficam ricas se o mundo lhes permitir. E diz: “Não pensem que vocês são o tal, porque têm muito dinheiro. Não confiem nas riquezas, mas em Deus. As boas obras ficam como memorial diante de Deus!” (WESLEY, John, Explanatory Notes upon the New Testament, London, the Epworth Press, 1754, p 786).
Devemos incentivar e exortar os irmãos na prática das boas obras. É isto que diz o autor de Hebreus: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb 10.24). E é esse me objetivo: Estimulando os meus irmãos em Cristo a que amem mais e pratiquem boas obras, porque estas são o grande antídoto ao veneno do mundo.

C) Os apóstolos e a igreja praticavam as boas obras.
Os apóstolos também se empenhavam na prática das boas obras. Eles não apenas ensinavam, mas praticavam boas obras. O verdadeiro apóstolo, além de operar milagres, de zelar pela doutrina apostólica e de fundar novas igrejas deve se desprender financeiramente e lutar pela causa dos pobres e necessitados. Isto implica em confrontar os políticos, os partidos, e em desafiar as autoridades governamentais. Mas, não se vê apóstolos hoje desafiando os líderes políticos a cuidarem mais dos pobres e dos aposentados idosos. Ao contrário, os apóstolos de hoje têm aviões particulares e nem ligam para a comunidade pobre.
No Novo Testamento, dois apóstolos, Paulo e Barnabé subiram de Antioquia para Jerusalém carregando fardos de alimentos – certamente em lombos de mulas – para socorrer os cristãos pobres da Judéia (At 11.29-30). Dois apóstolos com fardos sobre mulas ou em carroças puxadas por burros.
Sei o que é carregar fardos pesados às costas, porque várias vezes carreguei sacolas com Bíblias que pesavam trinta quilos cada, pelas ruas Praga e de outras cidades da Europa Oriental para socorrer os irmãos que viviam sob o regime comunista. Mas, era compensador ver a alegria dos pastores que nos recebiam às ocultas altas horas da noite, quando chegávamos com a mercadoria. Não podíamos encostar o automóvel na frente da casa deles, e quando o fazíamos deixávamos o carro escondido em alguma garagem.
Onde estão os profetas e apóstolos que se levantam em defesa dos pobres e dos necessitados? Estão dormindo em camas confortáveis, dirigindo carros de luxo e hospedando-se em finíssimos hotéis, às vezes, à custa desses pobres que tanto precisam ser ajudados. O conforto é bom e faz bem, mas não se deve esquecer, jamais dos pobres e necessitados.
Até as viúvas que recebiam da igreja deveriam ter exemplo de boas obras (1 Tm 5.9-10). “Seja recomendada pelo testemunho de boas obras”.
1. Deus nos deu habilidades manuais. Coisas que podemos fazer com as mãos.
2. Esses ricos deveriam ser ricos em boas obras (v 18).
3. O que seria estar preparado para “toda a boa obra”? (2 Tm 2.21 e 3.17; Tt 3.1). Paulo explica mais adiante: “Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens” (Tt 3.8). O destaque deve ser ao da prática das boas obras (Tt 3.14).
Quem não pratica as boas obras é infrutífero! Os judeus dizem que quem não ensina um negócio ao filho, faz dele um ladrão.
Veja o comentário de John Gill sobre Tito 3.14: “Quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras. Não somente através do comércio honesto e legal, como alguns dizem ser o sentido dessa frase, de que um negócio é um trabalho, uma obra. E um trabalho honesto ou um emprego honesto é uma boa obra. Todos devem procurar ser honestos. Os judeus dizem que quem não ensina um filho a negociar, é como se o ensinasse a roubar. Por isso, os mestres eram acostumados a fazer negócios (Mc 6.3). Assim era Paulo – mesmo educado aos pés de Gamaliel – aprendeu uma profissão para suprir suas necessidades, e assistindo aos demais que estavam com necessidades. Podem com isto ajudar na pregação do evangelho, nos interesses de Cristo, ajudar os vizinhos, as igrejas e famílias. Existem quatro coisas que um homem deveria prestar atenção com todas as suas forças: A lei, boas obras, oração e negócios. Se é um mercador, que negocie; se um negociante, que negocie; se um guerreiro, que guerreie”.
Cristo ressuscitou a Dorcas e ela voltou a fazer as túnicas para os pobres (Atos 9.36-39). Por isso, o autor aos hebreus diz: Hebreus 13.20,21: “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre” (Hb 13.20-21).   
Uma das razões de Deus dar dons aos membros do corpo de Cristo é o de acabar com o individualismo e trazer o coletivismo. Isto faz que o reino de Deus contraste fortemente com o reino de Satanás.

CONCLUSÃO: A cultura do reino
A igreja não é o reino, mas deve espelhar e espalhar a cultura do reino de Deus. Que cultura é esta? E como pode ser vista?
Analise os seguintes pontos:
1. A cultura do reino tem princípios ou ensinamentos dos quais a igreja não pode abrir mão. Uma síntese da cultura do reino é fornecida por Jesus no Sermão do Monte (Mateus 5, 6,7). Outro aspecto da cultura do reino são as leis de muitos países ocidentais que se baseiam nos dez mandamentos de Êxodo 20, e leis civis que têm suas raízes nas leis dadas por Deus a Moisés. Ou abrem a Constituição com a frase “em nome de Deus”.
2. A música serve de bom instrumento para espalhar a cultura do reino para a sociedade. Os cânticos, muitas vezes saem das fronteiras da igreja e influencia a mentalidade do mundo. Muitas óperas, árias e peças musicais foram escritas por cristãos espalhando a cultura do reino. João Sebastian Bach, viveu para a igreja, e era membro da igreja Luterana e suas obras não ficaram restritas á igreja, porque fazem parte do reino.
O Messias de Handel tem uma letra que enaltece e engrandece a pessoa de Jesus Cristo, e influenciou a tal ponto a sociedade que o coro “aleluia!” é usado em comerciais mundanos e apelos gerais. Muitos cristãos nunca ouviram e leram simultaneamente toda a música de Handel.
Os spirituals, ou cânticos dos negros americanos são entoados ao mesmo tempo nasigrejas, shows de calouros, bares, casas noturnas e em restaurantes, porque atravessaram as fronteiras da igreja e espalharam o reino de Deus.
3. Pela arte. Quando se visitam as grandes catedrais da Europa, as estátuas em tamanhos normais mostram a cultura do reino; Um Davi, de Michelângelo, as pinturas de Rafael, as poesias de escritores famosos como João Milton, Castro Alves, os escritos de Monteiro Lobato, as obras de Rui Barbosa, são explosões da cultura do reino que invadem a sociedade.
4. Os grandes corais e orquestras também são explosões da cultura do reino que a igreja espalhou pela terra.
E poderia se falar em livros, como a série Nárnia, de C. S. Lewis; O Senhor dos Anéis deJohn Ronald Reuel Tolkien;  a Divina Comédia, de Dante e sua descrição do mundo dos mortos e do inferno; João Milton e o Paraíso Perdido; Mobby Dick, de Hermann Melville, filmes, como Deus não Está Morto, Cor Púrpura, para citar alguns, peças de teatro etc. em que a cultura do reino transcende a vida da igreja e alcança toda a sociedade. Até os quadrinhos dos Peanuts com Snoop e Charlie Brown têm verdades do reino nos textos.
Finalmente, a igreja espalha a cultura do reino pelo estilo de vida de seus membros, pela honestidade, amor, boas obras e relacionamentos interpessoais.