Church History –
Philip Schaff
Tradução
de João A. de Souza Filho
A conflagração romana e a perseguição sob o
império de Nero.
A grande tribulação (Mt
24.21).
“Então, vi a mulher
embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e,
quando a vi, admirei-me com grande espanto” (Ap 17.6).
Paulo e Pedro pregaram em
Roma, e suas pregações deram grande impulso ao crescimento do cristianismo.
O martírio que sofreram, no
final, trouxe resultados para na igreja, pois cimentou a união entre judeus e
gentios convertidos, e consagrou para Deus o solo da metrópole pagã. Jerusalém
crucificara o Senhor, e Roma decapitava e crucificava os chefes apostólicos
mergulhando a igreja de Roma num batismo de sangue. Roma se tornou, por bem ou
mal, a Jerusalém do cristianismo; e o monte do Vaticano o Gólgota do Ocidente.
Pedro e Paulo, à semelhança de Rômulo e Remo assentaram o fundamento de um
império espiritual maior e mais duradouro que o império dos césares. A cruz foi
substituída pela espada como símbolo de conquista e poder. [1]
A mudança, todavia resultou
no sacrifício de sangue precioso. O império romano, primeiramente, por suas
leis e justiça se tornou a protetora do cristianismo, sem saber de seu
verdadeiro caráter, e saiu em defesa de Paulo em várias ocasiões, como em
Corinto através do procônsul Gálio, em Jerusalém através do capitão Cláudio
Lísias e em Cesaréia foi ajudado pelo procurador Festo. Mas, agora,
apressava-se em direção a um conflito mortal com a nova religião, e em nome da
idolatria e patriotismo começou uma série de intermitente perseguição, que
terminou, por fim, no triunfo da bandeira da cruz na ponte Milvian. Antes, um
poder restritivo que mantinha afastado o surgimento do anticristo, [2]
assumiu, depois o papel de anticristo pela espada e pelo fogo. [3]
NERO.
A primeira dessas perseguições imperiais resultou no martírio
de Pedro e Paulo conforme a tradição eclesiástica teve lugar no décimo ano do
reinado de Nero, 64. d. C. e, a perseguição pela veio por Nero, o mesmo imperador
a quem Paulo recorreu, como cidadão romano num tribunal judaico.
No entanto, não era apenas uma perseguição religiosa,
como outras perseguições feitas por Nero; sua origem está na calamidade pública
da administração romana em que os cristãos foram culpados por tudo o que de
ruim acontecia em Roma.
Não se consegue imaginar o contraste enorme entre um
Paulo, puro e nobre e Nero, um dos maiores vilões e tiranos de todas as eras.
Os cinco primeiros anos do reinado de Nero (54-59) foram sob a orientação sábia
de Sêneca e Burro e contrastam enormemente com os outros nove anos de seu reinado
(59-68). Lemos sobre a vida de Nero com uma mistura de sentimentos, bons e
maus, por haver terminado seu governo num reino de horrores e de iniquidade.
Para o imperador, o mundo era uma comédia e uma tragédia em que ele era o ator
principal. Ele possuía uma insana paixão por aplausos do povo; dedilhava a lira
e entoava seus odes durante o jantar. Guiava sua carruagem nos circos, era
imitado nos palcos e exigia que os homens do mais alto escalão o representassem
em dramas ou em apresentações obscenas da mitologia grega.
Mas a comedia superou a tragédia. Cometeu crimes e
mais crimes até que seu nome se tornou sinônimo de monstro e iniquidade. O
assassinato de seu irmão Britânico; de sua mãe, Agripina, suas esposas Otávia e
Pompéia, de seu mestre Sêneca e de muitos romanos eminentes terminou com seu
próprio suicídio aos trinta e dois anos de idade. Com ele pereceu toda a
dinastia de Júlio César, e o império se tornou um troféu a ser perseguido por
seus soldados e aventureiros. [4]
A conflagração
em Roma
Para esse demônio em forma humana, o assassinato de
uma multidão de inocentes cristãos não passava de um esporte, de um passatempo.
O espetáculo infernal dói num tempo de grande conflagração de Roma, a mais
destrutiva e desastrosa a ocorrer em toda a história romana.
O inferno ocorreu na noite entre o dia dezoito e
dezenove de julho, [5]
entre as lojas de madeira na parte sudoeste, junto ao grande circo, próximo da
montanha Paladina. [6]
As labaredas de fogo levadas pelo vento não puderam ser
controlada pela brigada anti-incêndio nem pelos soldados, e ficou queimando
sete noites e seis dias. [7] E o fogo
recomeçou em outra parte da cidade, próximo ao campo de Marte e em três dias
devastou dois outros distritos da cidade. [8] Os
prejuízos eram incalculáveis. Somente quatro das 14 regiões em que a cidade era
dividida permaneceu incólume. Três áreas tornaram-se apenas ruínas, do interior
do grande circo até o monte Esquilino. As sete áreas restantes ficaram mais ou
menos destruídas. Templos veneráveis, edifícios monumentais do governo, desde a
República até o Império, as grandes obras da arte grega que haviam sido
coletadas durante séculos ficaram em cinzas e poeira. Homens e animais
pereceram nas chamas, e a metrópole do mundo assumiu uma aparência de túmulo
com milhões de pessoas se lamentando pela perda irreparável de seus tesouros.
Esta terrível catástrofe deveria estar na mente de São
João no Apocalipse quando escreveu o funeral e queda da Roma imperial (Ap 18).
A causa dessa conflagração permanece envolvida em
mistério. Havia rumores entre o povo de que Nero pusera fogo na cidade, que
queria se alegrar com o espetáculo de uma Troia em fogo, e para satisfazer sua
ambição de reconstruir Roma numa escala monumental e chamá-la de Nerópole. [9]
Quando o fogo irrompeu pela primeira vez Nero estava
nas praias de Antio, lugar de seu nascimento. Ele retornou quando o fogo estava
devorando seu palácio; fez enorme esforço para permanecer ali e reconstruir o
que restara até sua morte. Mas, não esqueceu de reconstruir sua residência
temporária antes de morrer, (domus transitoria) chamando de "Casa de ouro" (domus aurea), como marco
de sua obra magnificente e extravagante.
Perseguição aos cristãos
Para evitar a suspeita geral de que era um incendiário,
e ao mesmo tempo querendo divertir o povo com sua diabólica crueldade, Nero
colocou a culpa do incêndio de Roma sobre os cristãos, pois, desde a época do
julgamento público de Paulo e de seu incansável trabalho em Roma, Paulo era
diferenciado dos judeus como o genus tertium, ou como o mais perigoso rebento da raça judaica. Certamente, os
cristãos desprezavam os deuses romanos e eram leais a um rei mais elevado que
César, por isso, eram falsamente acusados de crimes cometidos em secreto. A
polícia e o povo, sob a influência do pânico terrível causado pela calamidade
estavam dispostos a crer em qualquer coisa e procuravam por culpados.
Que esperar de uma multidão
ignorante, quando até mesmo os mais cultos romanos como Tácito, Suetônio e
Plínio, estigmatizavam os cristãos como vulgares e pestilentos supersticiosos?
Para os romanos o cristianismo era pior que o judaísmo,
porque o judaísmo, pelo menos era uma religião antiga, enquanto o cristianismo
era algo novo, separado de qualquer nacionalidade em particular e buscava um
domínio universal. Alguns cristãos foram presos, confessavam sua fé e “eram tão
convictos”, afirma Tácito, “nem tanto pelo crime de incendiários como também de
odiar a raça humana”. Sua origem judaica, sua indiferença pela política e
assuntos públicos, seu desprezo aos costumes pagãos, culminaram num "odium
generis humani,", e por isso tentaram destruir a cidade, uma prova
plausível, o suficiente para justificar um veredito de culpa. Uma multidão
furiosa não para pra pensar e arrazoar e tem a tendência de cometer asneiras.
Acusados de incendiários, apoiados por uma falsa
acusação de misantropia e vícios impróprios, deram início a um festival de
sangue, que até mesmo os romanos pagãos nunca haviam presenciado. [10] Era a resposta dos poderes do inferno à
poderosa pregação de dois apóstolos que haviam sacudido o centro do paganismo.
“Uma grande multidão” de cristãos foi morta de maneira chocante. Alguns foram
crucificados, provavelmente como zombaria a punição sofrida por Cristo, [11] outros
foram colocados dentro de peles de animais selvagens e expostos à voracidade
das feras da arena.
A estratégia satânica alcançou seu clímax durante a
noite nos jardins imperais na colina do Vaticano (que abarcava, supõe-se, o
lugar onde hoje está a igreja de São Pedro): Homens e mulheres, cristãos,
cobertos de piche, óleo ou resina foram pregados em postes de madeira, ateados
fogo e queimaram como tochas para divertimento da multidão, enquanto Nero,
vestido de realeza, apareceu montado num cavalo de raça e demonstrava sua habilidade
artística como cavaleiro. Queimar as pessoas vivas era a punição que mereciam
os incendiários, mas apenas a engenhosidade deste monstro cruel, sob a
inspiração do diabo poderia inventar tão terrível sistema de iluminação
pública.
Este é o registro dos maiores historiadores pagãos, os
mais completos que existem – assim como a melhor descrição da destruição de Jerusalém
vinda da pena de sábios escritores judeus. Desta forma, os próprios inimigos
foram testemunhas da verdade do cristianismo. Tácito, incidentalmente menciona
neste contexto a crucifixão de Cristo sob Pôncio Pilatos, durante o reinado de
Tibério. Com o desprezo que este romano tinha pelos cristãos a quem conhecia
apenas por rumores e leituras, Tácito se convenceu da inocência deles de que
eram os culpados pelo incêndio de Roma. Apesar de frio estoicismo, não pôde
reprimir o sentimento de piedade por eles, porque foram sacrificados não pelo
bem do povo, mas pela ferocidade de um tirano perverso.
Alguns historiadores duvidam não da terrível
perseguição, mas de que os cristãos e não os judeus ou os cristãos sozinhos
foram os que sofreram. É difícil entender que inocentes cristãos, que
escritores contemporâneos como Sêneca, Plínio, Lucas e Pérsio ignoram, enquanto
têm conhecimento dos judeus, poderiam ser tão repentinamente os elementos de
tanta indignação popular. Supõe-se que Tácito e Suetônio, que escreveram cerca
de cinquenta anos depois dos acontecimentos, poderiam ter confundido os
cristãos com os judeus, que eram repudiados pelos romanos e justificaram a
suspeita de serem os judeus os incendiários, pelo fato de que o distrito onde
residiam não pegou fogo. [12]
Mas, a atrocidade era pública e não deixa margem para
erros. Tanto Tácito quando Suetônio distinguem bem as duas religiões, apesar de
conhecerem tão pouco sobre eles, sabiam que os cristãos eram assim chamados por
serem seguidores de Cristo, a nova religião. Além de que, Nero, conforme foi
observado anteriormente não tinha aversão pelos judeus, e sua segunda esposa
Pompeia Sabina, um ano antes da conflagração, havia demonstrado apreço especial
em favor de Josefo e o encheu de presentes. Josefo fala dos crimes de Nero, mas
nada diz sobre qualquer perseguição aos seus irmãos judeus. [13] Este
fato, isoladamente pode ser conclusivo. Não é de se duvidar que neste episódio
(como nas perseguições anteriores e depois), os fanáticos judeus, enraivecidos
pelo rápido crescimento do cristianismo, ansiosos de se livrarem de suspeitas,
levantaram a turba contra os odiados galileus, e que os pagãos romanos caíram
com redobrada fúria sobre esses supostos meio-judeus, levados por seus irmãos
estranhos. [14]
A extensão provável da perseguição
Os historiadores pagãos, se os julgarmos por seu silêncio,
parecem confinar a perseguição à cidade de Roma, mas escritores cristãos tempos
depois ampliam-na para as províncias. [15]
O exemplo dado pelo imperador na capital não deixaria
de influenciar as províncias, e seria a justificativa para o levante do ódio
popular. Se o Apocalipse foi escrito na época de Nero, ou logo após sua morte,
o exílio de João em Patmos deve estar ligado a esta perseguição. O Apocalipse
menciona os irmãos presos em Esmirna, o martírio de Antipas e fala do
assassinato dos profetas e santos e de todos os que foram mortos na terra. [16]
A epístola aos hebreus 10.32-34, que foi escrita na
Itália, provavelmente no ano 64 também faz alusão à perseguição sangrenta, e a
soltura de Timóteo da prisão (13.23). E Pedro em sua primeira epístola, que
pode ser datada no mesmo ano, imediatamente depois que a perseguição começou, e
pouco antes de sua morte, alerta os cristãos da Ásia Menor do fogo da
perseguição (tribulação) que virá sobre eles e dos sofrimentos que já
enfrentaram ou suportaram, não por terem cometido crimes, mas pelo bom nome dos
cristãos. [17]
O cristianismo que acabara de alcançar a idade de seu
fundador, parecia aniquilado em Roma. Com a morte de Pedro e Paulo a primeira
geração de crentes foi sepultada. As trevas devem ter caído sobre os discípulos
temerosos e a prepotência do poder deve tê-los afundado no pó como na noite da
crucificação trinta e quatro anos atrás.
Mas, a manhã da ressurreição não estava distante, e o
ponto onde Pedro foi martirizado se tornaria o local da maior igreja do
cristianismo e a residência de seus sucessores. [18]
O Apocalipse
resultante da perseguição de Nero
Nenhum dos apóstolos permaneceu vivo para registrar o
terrível massacre, a não ser João. Ele deve ter recebido notícias dessa
perseguição em Éfeso ou deve ter acompanhado Pedro a Roma e escapado da
terrível morte nos jardins de Nero, se dermos crédito à tradição antiga de que
ele foi miraculosamente preservado de ser queimado vivo com os demais cristãos
naquela infernal iluminação sobre o monte do Vaticano. [19] De
qualquer maneira ele também foi vítima da perseguição pelo Nome de Jesus e
descreve o horror do que teria visto no exílio na isolada ilha de Patmos na
visão do Apocalipse.
Este livro misterioso – tenha ele sido escrito entre
os anos 68 e 69 ou sob o reino de Domiciano em 95 – foi sem dúvida escrito para
a igreja daquela época e também para as gerações futuras, e deve ter sido
adaptado às condições em que viviam os cristãos sob o domínio romano,
fornecendo conforto substancial aos cristãos em tempos de perseguição. Devido a
proximidade desses eventos, os cristãos daqueles dias devem ter entendido claramente
seu conteúdo, diferentemente das gerações posteriores. João firma seu ponto de
vista na fundação histórica do velho império romano no qual ele vivera, da
mesma maneira como os profetas de Israel baseavam suas profecias a partir da
visão que tinham do reino de Davi e do cativeiro da Babilônia. João descreve a
Roma pagã daqueles dias como “a besta que sobe do abismo” e “como a besta que
emerge do mar, tendo dez chifres e sete cabeças (reis e imperadores), e a
descreve também como a grande meretriz que se assenta sobre muitas águas”.
Descreve Roma “como uma mulher vestida de escarlate,
cheia de nomes de blasfêmia, tendo sete cabeças e dez chifres”. Esta é a
“Babilônia, a grande, a mãe de todas as meretrizes e das abominações da terra”.
[20] O vidente
deve ter em mente a perseguição de Nero, a mais cruel de todas as perseguições,
quando ele viu a mulher “embriagada com o sangue dos santos e dos mártires de
Jesus” [21], e
profetizou sua queda como de grande alegria para “os santos, apóstolos e profetas”.
[22]
Comentaristas mais recentes encontram uma alusão
direta a Nero, como expressada em letras hebraicas (Neron Kesar), o número misterioso 666 sendo este a
quinta das sete cabeças da besta que foi esmagada, mas que retornaria novamente
do abismo na forma de anticristo. Mas, esta interpretação pode não estar
correta, e em nenhum caso pode-se atribuir a João a crença de que Nero se
ergueria literalmente dos mortos como o anticristo. Ele quis dizer que Nero, o
perseguidor da igreja era (como Antíoco Epifânio), o precursor do anticristo
que seria inspirado pelo mesmo espírito sanguinário das profundezas do inferno.
Num sentido similar Roma era uma segunda Babilônia, e João Batista outro Elias.
Notas
I. Os registros da perseguição de
Nero.
A) Registros
de historiadores pagãos.
Existem praticamente dois registros da primeira grande
perseguição imperial. O registro feito por Tácito, que nasceu cerca de oito
anos antes do evento e possivelmente tenha vivido até o tempo de Trajano (morto
em 117), e de Suetônio que escreveu sua obra XII. Caesares um pouco mais tarde, cerca de 120 d. C.
Dion Cassio, nascido cerca de 155 d. C. em sua História de Roma. A descrição de
Tácito em seu estilo gráfico e longe de ser suspeito de interpolações deixa
alguns pontos obscuros. Aqui está o registro do que ele fez em Anais,
XV. 44.
“Nem seus melhores homens, tão pouco nos limites do
império, nem a propiciação feita aos deuses poderia desculpar Nero da infâmia
de haver ordenado a conflagração. Por isso, na tentativa de parar com os
rumores e de se livrar da culpa, Nero acusou e puniu pessoas com as piores
torturas; pessoas que passaram a ser odiadas por seus crimes, comumente
chamadas de cristãos (subdidit reos, et quaesitissimis poenis affecit, quos
per flagitia invisos vulgus ’Christianos’ appellabat). O fundador desse nome, Cristus foi condenado à morte (supplicio
affectus erat) pelo procurador da Judeia Pôncio Pilatos, durante o reinado
de Tibério, mas a superstição perniciosa (exitiabilis superstitio),
reprimida por algum tempo, rompeu outra vez, não apenas na Judeia, a fonte do
mal, mas também na cidade de Roma, onde todo tipo de vileza e vergonha surge de
todos os quarteirões, e são encorajados (quo cuncta undique atrocia aut
pudenda confluunt celebranturque).”
Conforme Tácito, “primeiramente foram presos os que
confessavam a Cristo. [23] Depois,
conforme a informação uma vasta multidão (multitudo ingens), foram
condenados não tanto pelo crime de incendiar Roma, mas como pessoas que odiavam
a raça humana (odio humani generis). [24]
Morriam para divertir seus acusadores, pois este tipo de morte era praticado
como um esporte. Os cristãos foram costurados dentro de peles de animais
ferozes e devorados em pedaços pelos cães ou crucificados, presos em postes e
incendiados, e quando anoitecia era queimados vivos para iluminar a cidade (in
usum nocturni luminis urerentur). Nero ofereceu seus jardins – onde hoje
está o Vaticano – para este espetáculo e também desfilava numa carruagem de
corrida nesta ocasião, vestido com roupas de condutor de carruagem, segurando
os cavalos pelas rédeas.”
“Assim, as pessoas
começaram a mostrar compaixão pelo sofrimento dos cristãos, apesar de serem
odiados, porque notaram que de nada servia ao povo o espetáculo, mas sim, o
fato de que eram vítimas da ferocidade de um homem”. Os registros de Suetonio,
em Nero c. 16 são curtos e deixam a desejar. Afflicti suppliciis Christiani, genus
hominum superstitionis novae ac maleficaea. Suetônio não liga a
perseguição com a conflagração, mas com as leis policiais. Juvenal, o poeta
satírico menciona a perseguição, provavelmente como testemunha ocular, à
semelhança de Tácito com o sentimento existente de compaixão pelo sofrimento
dos cristãos” (Satiricon, I, 155).
“Falas da culpa de Tigelinio?
Também tu brilharás como aqueles que vimos
Pendurados nas estacas com as gargantas cortadas
“Queimando e soltando fumaça.”
B) Registros
de cristãos.
Clemente de Roma, quase no final do primeiro século
poderia estar se referindo a perseguição dos dias de Nero quando escreve da
“grande multidão de eleitos”, que sofreu torturas indignas como vítimas de
ciúmes, e das “mulheres cristãs que eram obrigadas a representar “Danaides” e
“Dirces”, Ad Corinth., c. 6. Eu não usei esta passagem no texto. (N. T.
Mulheres da mitologia grega).
Renan acrescenta e costura todo seu enredo numa
descrição gráfica da perseguição (L’Antechrist, pp. 163 ss., repetida
quase que literalmente em sua obra Hibbert Lectures). Conforme a lenda,
Dirce foi amarrada no dorso de um touro feroz e lançada à morte. A cena está
representada nas famosas obras em mármore no museu de Nápoles. Agora, quanto a
Danaides ela não fornece um paralelo adequado aos mártires cristãos, a menos,
conforme Renan sugere, que Nero tivesse em mente os sofrimentos do Tártaro. Tertulliano
(morto ao redor de 220 d. C.) menciona a perseguição nos dias de Nero em Ad
Nationes, I. ch. 7: “O nome que cristãos começou a ser conhecido no reinado
de Augusto; no reino de Tibério já era ensinado com clareza e publicidade. Sob
o reinado de Nero o nome foi desarraigado e condenado (sub Nerone damnatio
invaluit), e pode-se pesar seu valor pelo caráter do perseguidor. Se aquele
imperador fosse um homem pio, então os cristãos eram perigosos. Se Nero era
justo, se fosse puro, então os cristãos eram injustos e impuros. Se Nero não
fosse um inimigo do povo, seríamos então inimigos de nosso país: Que tipo de
pessoas somos que nosso perseguidor, ele mesmo, puniu os que o hostilizavam? Agora,
sendo que todas as demais instituições que existiam no governo de Nero foram
destruídas, mas, a nossa permaneceu, - então, comprova que éramos justos,
devido as atrocidades do autor das perseguições”.
Suplício Severo em Chron. II. 28, 29, fornece
um registro completo, retirado em sua maior parte dos escritos de Tácito. Ele e
Orosio (Hist. VII. 7) atestam sem exagero que Nero estendeu a
perseguição a todas as províncias romanas.
O retorno de Nero como Anticristo
Nero, devido a sua juventude, beleza e prodigalidade,
e a aberrante novela de sua iniquidade (Tácito o chama de “incredibilium
cupitor,” Anais XV. 42), obteve muita popularidade com a democracia
de Roma. Assim, depois de seu suicídio, espalhou-se um rumor de que ele não
morrera, mas que fugira para a Pérsia e que retornaria a Roma com um grande
exército para destruir a cidade. Três impostores com o nome Nero usaram essa
crendice e tiveram apoio durante o reinado de Oto, Tito e Domiciano. Trinta
anos depois, Domiciano tremia à menção do nome de Nero. Tacito.,
Hist. I. 2; II. 8, 9; Suetonio., Ner. 57; Dio Cassio, LXIV. 9;
Schiller, l.c., p. 288.
Entre os cristãos esses rumores assumiram proporções
hostis a Nero. Lactanio (De Mort. Persecut., c. 2) menciona as profecias
sibilinas afirmando que, assim como Nero era o primeiro perseguidor, ele seria
também o ultimo e precederia o advento do anticristo. (De Civil. Dei, XX.
19) menciona que durante este tempo duas opiniões eram comuns na igreja a
respeito de Nero. Alguns achavam que ele se ergueria de entre os mortos como o
anticristo, e outros de que ele não morrera, mas que se retirara para ser
revelado para restaurar o seu reino. A primeira hipótese era a mantida pelos
cristãos, a segunda pelos pagãos. Agostinho rejeitava ambas opiniões. Sulpício
Severo (Chron., II. 29) também menciona a crença (unde creditur) de
que Nero fora curado de seus ferimentos, e que retornaria no fim do mundo para
se tornar o “mistério da iniquidade” predito por Paulo (2 Ts 2.7).
A
revolta dos judeus e a destruição de Jerusalém (70 d. C.).
“Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus
discípulos: Mestre! Que pedras, que construções! Mas Jesus lhe disse: Vês estas
grandes construções? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada” (Mc
13.1-2).
Fontes:
Josepho: Bell. Jud., in 7 books; and Vita, c. 4–74. A história da
Guerra judaica foi escrita por ele como testemunha ocular cerca de 75 d. C.
Tradições rabínicas em Derenbourg:
Histoire de la Palestine depuis Cyrus jusqu’à Adrien.
Paris, 1867 (primeira parte de sua L’Histoire et la géographie de la Palestine
d’après les Thalmuds et les autres sources rabbiniques), pp.
255–295.
Tácito: Hist., II.
4; V. 1–13. Um mero fragmento, repleto de erros e insultos sobre os judeus
expulsos de Roma. O quinto livro, exceto este fragmento foi perdido. Enquanto o
judeu Josefo admira plenamente o poder e a grandeza de Roma, Tácito, o pagão,
trata os judeus e cristãos com ironia e escárnio, e prefere tomar as fontes de
suas informações dos egípcios hostis e preconceitos popular do que das
Escrituras, não como Filo e Josefo.
São escassos os períodos da história tão cheios de
vícios, corrupção e desastres como os seis anos entre a feroz perseguição de
Nero aos cristãos e a destruição de Jerusalém. A descrição profética dos
últimos dias feitas por nosso Senhor começou a ser cumprida diante da geração a
quem ele se dirigiu, “essa geração não passará”, e o dia do juízo parecia haver
chegado. Os cristãos criam dessa forma e com razão. Até mesmo para os ímpios
pagãos aquele período era de escuridão noturna. Sempre citamos a descrição de
Sêneca da terrível depravação moral e queda do reino de Nero com essas
palavras: “Continuo a descrever a riqueza dos desastres, cheias de batalhas e
de atrocidades, de discórdia e de rebelião, sim, terrível tempo para se obter a
paz.
Quatro príncipes [Galba, Oto, Vitélio, Domiciano]
foram mortos à espada. Três guerras civis, várias guerras contra os
estrangeiros, e algumas dessas guerras eram terríveis. Eventos favoráveis no
Leste [a subjugação dos judeus], e infelizmente algumas guerras no Oeste.
Ilírico perturbado; a Gália inquieta; a Britânia conquistada e depois perdida;
as nações da Samotrácia e Suevia levantando-se contra nós. Os persas exultantes
pela decepção do falso Nero. A Itália sofrendo as consequências da seca e das
frequentes calamidades. Cidades engolidas, queimadas em ruínas. Roma está
devastada pelas conflagrações; os velhos templos queimados, até mesmo o
capitólio foi incendiado pelos cidadãos; santuários violados e o adultério
correndo solto nas esferas políticas mais altas. O mar cheio de exilados. As
ilhas rochosas contaminadas pelos assassinatos. Pior ainda é a fúria na cidade.
Nobres, ricos, pessoas de honra, marcadas pelos crimes, pela falta de virtude e
destruição” (Hist. I c.2).
O
juízo iminente.
O mais desafortunado país desse período era a
Palestina, onde uma nação antiga e venerável trouxe sobre si mesma, sofrimento
e destruição indescritíveis. A tragédia de Jerusalém prefigura em miniatura o
juízo final, e em sua luz vemos representado discurso escatológico de Cristo
que previu o fim do começo. A paciência de Deus com o povo da aliança que
crucificou nosso Senhor atingiu seu ápice. Muitos se salvaram de maneira
especial, mas a massa do povo obstinadamente achou que poderia improvisar. Tiago,
o Justo, o homem capaz de reconciliar judeus com os cristãos foi apedrejado por
seus compatriotas de coração endurecido, exatamente as pessoas por quem ele
intercedia diariamente no templo, e, com ele a comunidade cristã de Jerusalém
havia perdido a importância que representava para a cidade. A hora da “grande
tribulação” e o medo do juízo se aproximava. A profecia do Senhor se cumpriu
literalmente: Jerusalém foi arrasada, seu templo queimado, e não ficou pedra
sobre pedra do templo (Mt 24.1-2; Mc 13.1; Lc 19.43-44; 21.6).
Bem antes da rebelião e da guerra judaica, sete anos
antes do cerco a Jerusalém (63 d. C.), um campesino de nome Josué, ou Jesus
apareceu na cidade e pelas ruas da cidade proclamava noite e dia: ‘Uma voz grita
pela manhã, uma voz clama pela noite! Uma voz vem dos quatro ventos! Uma voz de
chuvas contra Jerusalém e seu templo! É a voz contra os noivos e as noivas. Voz
contra todo o povo! Ai, ai de Jerusalém!’. “Os magistrados petrificados diante
de tais palavras, tomaram o profeta como um agente do mal e o açoitaram. Ele
não demonstrou nenhuma resistência e continuou a gritar: “Ai”. Levado diante do
procurador Abilno foi açoitado até que seus ossos fossem expostos, mas não se
defendeu; nem amaldiçoou seus inimigos, e simplesmente exclamava a cada
chicotada “Ai, ai de Jerusalém!”.
Diante do governador para onde foi levado, ficou
calado e não respondeu nada do que o governador lhe perguntou. Finalmente,
deixaram-no ir como um maltrapilho. Mas, ele continuou a clamar por sete anos e
cinco meses até que se rompeu a guerra, especialmente clamava durante as três
grandes festas, anunciando a chegada da queda de Jerusalém. Durante o cerco daqueles
dias ele cantava, junto aos muros seus cânticos de lamentações pela última vez.
De repente, gritou: Ai, ai de mim! e, uma pedra lançada pelos romanos atingiu
sua cabeça pondo fim a sua lamentação profética. [25]
A rebelião judaica
Sob os últimos governadores da Judéia, Félix, Festo,
Albino e Floro a corrupção moral e a dissolução de todos os laços sociais,
aliados a opressão e ao jugo romano aumentou a cada ano. Depois que Félix se
tornou governador, assassinos, chamados de “sicários” (palavra derivada de sica adaga), portando adagas e cometendo
crimes trouxeram perigo na cidade e no campo marchando por toda a Palestina. Além
disso, os judeus de espírito abatido, movidos de ódio por causa dos opressores
pagãos, tomaram o caminho da insolência política, do fanatismo religioso e
foram inflamados por falsos profetas e Messias, um deles, por exemplo, conforme
Josefo conseguiu um exército de trinta mil homens. Assim, cumpriu-se a profecia
de nosso Senhor: “Levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas que enganarão
a muitos”. Finalmente, no mês de maio do ano 66, sob o reinado do último
procurador, Gessio Floro (a partir do ano 65), tirano iníquo e cruel, a quem
Josefo diz que, posto como algoz dos que praticavam o mal; uma rebelião organizada
se rompeu contra os romanos, mas ao mesmo tempo uma terrível guerra civil
irrompeu entre os diferentes partidos dos próprios revoltados, especialmente
dos zelotes e moderados, radicais e conservadores.
O partido furioso dos zelotes tinha todo o fogo e
energia próprios daquilo que o fanatismo religioso poderia inspirar. Recentemente
alguém os comparou aos revolucionários montagnards franceses. À medida em que a
guerra avançava os zelotes começaram a dominar, controlaram a cidade e o templo
e introduziram um reino de terror. Mantinham acesa a chama da esperança
messiânica e viam na destruição o caminho da libertação. Notícias de cometas,
meteoros e todo tipo de sinais e prodígios eram interpretados como sinais do
Messias e de seu reinado sobre os pagãos. Os romanos reconheceram em Vespasiano
e Tito os seus Messias. Desafiar Roma naquela época, sem sequer um aliado, era
como desafiar o mundo com as armas. Mas, o fanatismo religioso, inspirado pela
lembrança das conquistas feitas pelos macabeus cegou os judeus e eles não viram
o inevitável fracasso dessa terrível e desesperada revolta.
A invasão romana
Nero, ao saber da rebelião enviou se melhor general,
Vespasiano, com um grande exército para a Palestina. Vespasiano começou sua
campanha no ano 67 a partir do porto sírio de Ptolemaico (Acco), e enfrentando
dura resistência avançou pela Galileia com um exército de sessenta mil homens.
Mas, eventos ocorridos em Roma o impediram de conquistar a vitória e foi
solicitado a retornar imediatamente. Nero havia se suicidado. Os imperadores
Galba, Oto e Vitélio sucederam a Nero um após o outro em rápidas sucessões.
Vitélio foi levado de um canil de Roma totalmente bêbado, arrastado pelas ruas
e vergonhosamente morto. Vespasiano, no ano 69 foi proclamado imperador universal
e restaurou a ordem e a prosperidade.
Tito, seu filho, que dez anos depois se tornaria
imperador, altamente reconhecido por sua gentileza e filantropia [26] assumiu a
liderança da guerra contra os judeus, e se tornou um instrumento nas mãos de
Deus para destruir a cidade santa e o templo. Seu exército tinha nada menos que
oitenta mil soldados bem treinados, e se acampou no Monte Scopo ao lado do
Monte das Oliveiras, tendo diante de si um panorama da cidade e do templo, que
eram magníficos olhando-se daquele ponto. O vale do Cedrom separava o exército
de Roma e a cidade de Jerusalém.
Em abril do ano 70 d. C., imediatamente depois da
Páscoa, quando a cidade de Jerusalém estava repleta de peregrinos o cerco
começou. Os zelotes rejeitaram quaisquer tentativas de acordo feitas por Tito e
não deram ouvidos as súplicas de Josefo, que acompanhava Tito como intérprete e
mediador, e eles ignoravam cada pessoa que falasse com eles em entregar as
armas. Os zelotes fizeram investidas pelo vale do Cedrom e pelo sopé do monte
infligindo grandes perdas entre as fileiras romanas. Quanto maior as
dificuldades, mais coragem os zelotes ganhavam. A crucificação de centenas de
prisioneiros (cerca de quinhentos por dia), apenas os encorajavam mais à
batalha.
A fome tomou conta da cidade e milhares morriam de
fome todos os dias, a ponto de uma mulher assar no forno seu próprio filho.[27] O choro
das mães e dos bebês, com toda a miséria que os cercava, não fazia os zelotes
desistirem. Não existe registro histórico de tão obstinada resistência diante
de tão grande desespero e bravura sabendo da morte iminente. Os judeus lutavam
não apenas para obter liberdade civil, vida, e dominar sua própria terra, mas
por aquilo que se constituía na glória e orgulho nacional, e que dava sentido à
sua história – sua religião, que mesmo diante desse estado caótico degenerativo
infundia neles um poder de resistência quase sobre-humano.
A destruição da cidade e do templo
Finalmente, no mês de Julho a fortaleza de Antonia foi
invadida durante a noite pegando os judeus de surpresa. Esta conquista aplainou
o caminho para a destruição do templo onde a tragédia ocorreu. Os sacrifícios
diários cessaram no dia 17 de julho, porque todos os judeus foram convocados
para defender o local. O último e mais sangrento sacrifício no altar dos
sacrifícios foi a morte de milhares de judeus que para lá acorreram. Conforme o
historiador Josefo, Tito queria preservar aquela imponente obra de arquitetura,
como troféu de sua vitória, e talvez por ser supersticioso e medroso. Quando as
chamas ameaçavam alcançar o Santo dos Santos, Tito passou pelo meio do fogo e
da fumaça, passando por cima de corpos mortos e vivos para apagar o fogo. [28] Mas, a
destruição já estava determinada por um decreto superior. Seus próprios
soldados estavam enfurecidos pela resistência judaica e ambicionavam pegar o
ouro do templo, por isso, não puderam ser impedidos em sua fúria por
destruição.
Primeiramente as salas anexas ao templo foram
incendiadas. Então, surgiu um incêndio na Porta Formosa (Porta de Ouro). Quando
as chamas se ergueram, os judeus gritaram em grande lamentação tentando apagar
o fogo, agarrando-se na esperança messiânica, confiando na declaração de um
falso profeta que afirmara que no meio da conflagração do templo, surgiria um
sinal de libertação do povo de Deus. As legiões disputavam uns com os outros
quem alimentaria ainda mais as chamas e o povo sentiu a força de sua ira agora
extravasada. Logo, toda aquela estrutura prodigiosa estava ardendo em fogo
iluminando os céus da cidade. O templo foi incendiado em dez de agosto do ano
70 d. C. no mesmo dia, em que a tradição judaica diz que o primeiro templo foi
destruído por Nabucodonosor. Josefo
escreveu: “Ninguém tem ideia do que aconteceu em toda parte ao vir o templo em
chamas. Os gritos de vitória e o júbilo dos soldados abafaram a lamentação do
povo, agora, cercados por fogo e pela espada por toda a montanha e pela cidade.
Dizem que os gritos podiam ser ouvidos na distante Peréia.
No entanto, a miséria era mais terrível que a
desordem. O monte onde o templo estava edificado ardia em fogo, e até as
estruturas do subsolo queimavam. O sangue derramado superava as chamas, e os
que foram mortos superaram em número aqueles que os matavam. O chão onde fora
construído o templo podia ser visto coberto de cadáveres, enquanto os soldados
perseguiam os fugitivos. Os romanos levantaram suas águias na parte oriental do
templo sobre o esqueleto que sobrara e queimaram oferendas aos seus deuses
proclamando Tito como Imperador com muita alegria e júbilo. E assim cumpriu-se a
profecia a respeito da desolação no lugar santo. [29]
Jerusalém foi totalmente destruída. Somente três
torres do palácio de Herodes – Hipico (ainda em pé) Fasael e Mariamne –
juntamente com uma parte do muro ocidental foram deixados como monumentos da
força da cidade conquistada. Aquela que era o centro da teocracia judaica e o
berço da igreja cristã foi destruída. Dizem que até mesmo Tito, um pagão,
declarou que Deus, por uma providência especial ajudou os romanos e expulsou os
judeus para longe daquela fortaleza impenetrável. [30]
Flávio Josefo que viu a guerra do início ao fim,
primeiramente como governador da Galileia e general do exército judaico e
depois prisioneiro de Vespasiano até se tornar companheiro de Tito agindo como
mediador entre os romanos e os judeus reconheceu neste trágico evento um juízo
divino, e admitiu aos seus degenerados patrícios, a quem antes estava ligado:
“Não hesito em afirmar o que me traz tanta dor: Creio que, se os romanos se
demorassem em punir esses vilões, a cidade seria engolida pela terra ou
desapareceria por um dilúvio ou ainda como Sodoma, consumida com fogo do céu.
Sim, porque a geração que vivia ali era mais iníqua do que aquelas que os
antecederam no passado. Por sua obstinação toda a nação se tornou em ruínas”. [31]
Assim, portanto, foi preciso que um dos melhores
imperadores romanos executasse as ameaças do juízo de Deus, a ponto dos sábios
judeus descreverem, mesmo sem muito conhecimento bíblico, que se tratava do
cumprimento da profecia da divina missão de Jesus Cristo, cuja rejeição trouxe
todo este infortúnio sobre aquela raça apóstata. A destruição de Jerusalém
seria um tema valioso para algum cristão, pois foi chamado de “a luta mais
sangrenta de toda história antiga”. [32] Mas agora
não havia um Jeremias para entoar canções de lamentações sobre a cidade de Davi
e de Salomão. O livro de Apocalipse, por certo, já deveria ter sido escrito e
predisse que os pagãos “pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses”. [33]
Um artista dos tempos modernos, Kaulbach, pintou este
tema numa das grandes obras que está no museu de Berlim. Mostra o templo
queimando e na parte da frente o sumo sacerdote suicidando-se com sua espada no
peito; ao seu redor, cenas de pessoas se lamentando e sofrendo. Logo acima, os
profetas antigos mostrando os oráculos que anunciavam este cumprimento. Logo
abaixo, Tito, juntamente com o exército romano aparece como o executor da ordem
divina. Mais embaixo, à esquerda, Assuero, a figura do judeu andarilho da lenda
medieval, fugindo da fúria diante da morte iminente. Logo à direita, um grupo
de cristãos partindo em paz da cena da destruição, e os filhos de Israel
suplicando-lhes por proteção.
O destino dos sobreviventes e o triunfo de
Roma.
Depois de um cerco de cinco meses toda a cidade estava
nas mãos dos vitoriosos. O número de judeus mortos durante o cerco, incluindo
aqueles que vieram do campo e se refugiaram na cidade, é exageradamente
apresentado por Josefo como sendo de um milhão e cem mil pessoas. Onze mil
pessoas morreram de fome depois do cerco. Noventa e sete mil judeus foram
levados a cativeiro e vendidos como escravos ou enviados para trabalhar nas
minas ou então foram sacrificados nos shows das guerras de gladiadores em
Cesareia, Berito, Antioquia e outras cidades. Os homens mais musculosos, fortes
e bonitos foram selecionados para desfilarem como cativos na cidade de Roma, e
entre os chefes defensores e líderes da revolta estavam Simon Bar-Giora e João de Giscala. [34]
Vespasiano e Tito celebraram juntamente a vitória, no
ano 71. Não foram poupados gastos para a festa. Coroado com lauréis e vestido
de roupas carmesins os dois conquistadores andaram vagarosamente em carruagens
separadas até o templo do capitólio de Júpiter saudados pelos gritos do povo e
da aristocracia romana. Marchavam precedidos dos soldados vestidos
elegantemente e atrás deles setecentos cativos judeus. As imagens dos deuses e
a mobília sagrada do templo – a mesa dos pães da proposição, o candelabro de
sete lâmpadas, as trombetas que anunciavam o ano do jubileu, os incensários e
os rolos sagrados da lei – foram apresentados na procissão e depositados no
recém construído templo da Paz – exceção à Lei e a cortina cor púrpura do
santuário que Vespasiano reservou para o seu palácio. [35]
Simon Bar-Giora foi lançado no despenhadeiro da Rocha
Tarpeiana; João de Giscala foi condenado à prisão perpétua. Moedas foram
cunhadas com a frase Judaea capta, Judaea devicta. Mas, nem Vespasiano ou Tito usaram o epíteto
vitorioso Judaeus; eles desprezavam aqueles que perderam sua terra
natal. Josefo viu o espetáculo pomposo da humilhação e da crucificação de sua
nação e descreveu o espetáculo sem derramar uma lágrima. [36]
Os cristãos ao olharem para aquela representação do templo e os cativos judeus
passando pelo arco triunfal de Tito, que ainda está entre o Coliseu e o Foro
ficaram pasmados diante do cumprimento da profecia divina.
A conquista da Palestina
resultou na destruição da comunidade judaica. Vespasiano se apossou da terra
como propriedade particular ou a distribuiu entre seus veteranos de guerra. O
povo, depois de cinco anos de guerra ficou reduzido à escravidão e extrema
pobreza, deixado sem um magistrado, sem governo, sem templo e sem país. A
renovação da revolta sob o falso Messias Bar-Cocheba piorou as coisas trazendo
mais destruição a Jerusalém e devastação da Palestina pelo exército de Adriano
(132-135).
Mas, os judeus ainda tinham
a lei e os profetas e a tradição sagrada nas quais se apegaram com tenacidade
indestrutível até o dia de hoje, mantendo acesa a esperança de um futuro
glorioso. Espalhados pelas nações da terra, recusando-se a misturar seu sangue
com qualquer outra raça, habitando em comunidades diferentes, marcados como
povo peculiar por seu estilo de vida em cada rito religioso. Pacientes, sóbrios
e criativos, prósperos apesar da opressão, ridicularizados e com medo, roubados
e mesmo assim ricos, massacrados, mas ressuscitando novamente, conseguiram
sobreviver à perseguição por séculos e viverão ainda nos séculos vindouros. Os
judeus são alvos da preocupação mundial – uma maravilha para o mundo.
Efeitos da
destruição de Jerusalém sobre a igreja cristã
Os cristãos de Jerusalém,
lembrando-se da advertência do Senhor abandonaram a cidade destinada ao juízo e
fugiram para a cidade de Pela em Decápolis, do outro lado do Jordão, no norte
da Peréia, onde o rei Herodes Agripa II perante o qual Paulo se apresentou lhes
ofereceu asilo. Uma antiga tradição afirma que uma voz divina ou um anjo
revelou aos seus líderes que deveriam fugir. [37]
Ali no meio de um povo gentio, a igreja da circuncisão foi reedificada.
Infelizmente pouco se sabe de sua história e estes nunca mais recuperaram sua
antiga importância. Quando Jerusalém foi reedificada como uma cidade cristã,
seu bispo foi elevado à dignidade de um dos quatro patriarcas do Oriente, mas
foi um patriarcado de honra, não de poder, e sucumbiram pela mera sombra da invasão
maometana.
A terrível catástrofe da
destruição da teocracia judaica deve ter produzido uma profunda sensação entre
os cristãos, mas, hoje não se tem ideia do que teria isso significado para
eles. [38] Não resta
dúvida que para os judeus foi uma grande calamidade, mas que trouxe grandes
benefícios ao cristianismo. Não somente deu grande impulso à fé, mas foi um
divisor de águas na relação entre os dois grupos religiosos, pois os separou
para sempre.
Obviamente que
Paulo já fizera esta separação indireta entre o cristianismo universal e seu
sistema de doutrinas. Mas, exteriormente ele sempre permitiu alguma acomodação
com o judaísmo, e mais de uma vez visitou o templo de Jerusalém. Ele não queria
que pensassem ser ele um revolucionário, nem antecipar o curso natural da
história, deixando tudo nas mãos da Providência. [39] Mas,
agora, a ruptura foi feita definitivamente pela ação tempestuosa da onipotência
divina. Deus mesmo destruiu a casa, onde até a época morara, a mesma casa em
que Jesus ensinou e onde os apóstolos haviam orado. Ele rejeitou seu povo
peculiar devido a sua obstinação e rejeição ao Messias.
Deus destruiu a fábrica da teocracia mosaica, cujo
sistema de adoração, por sua própria natureza estava associado exclusivamente
com o primeiro tabernáculo e mais tarde com o templo. Procedendo assim Deus
cortou as amarras que prendiam a igreja à economia judaica da velha aliança
tendo Jerusalém como seu centro. A partir daí, os pagãos não poderiam mais
associar os cristãos ao judaísmo, e sim tratá-los como uma nova religião,
também peculiar. A destruição de Jerusalém, portanto, marca aquela crise
momentânea na qual a igreja cristã como um todo se desprendeu totalmente da
crisálida do judaísmo, amadureceu e se mostrou independente em autoridade e
governo diante do mundo. [40]
Esta ruptura do judaísmo e seu formato religioso,
contudo, não a separou da revelação do espírito do Antigo Testamento. A Igreja,
agora, se tornou participante da herança de Israel. Os cristãos pareciam judeus
genuínos, filhos espirituais de Abraão que, seguindo a lei corrente dos judeus
e da religião mosaica, encontraram a Jesus que era o cumprimento da lei e dos
profetas, o fruto perfeito da velha aliança e o germe vivo de uma nova. O
começo e o princípio de uma nova criação moral. Esta foi a obra de João, o
apóstolo da completude.
N. T. Material
extraído do capítulo VI Tomo I de Church History de Philip Schaff (pp.
206-240).
Sim, você tem
permissão para usar desde que citando o nome do tradutor: João A. de Souza
filho
[1] Lange sobre os Romanos, p. 29. “Enquanto a luz e as trevas do judaísmo
estava centralizada em Jerusalém, a cidade teocrática de Deus (a cidade santa,
a assassina dos profetas), assim era a Roma pagã, a metrópole humanitária do
mundo, o centro de todos os elementos de luz e trevas prevalecente no mundo
pagão. E assim, a Roma cristã se tornou o centro de todos os elementos vitais
da luz e toda as trevas anticristãs da igreja cristã. Então, Roma, como
Jerusalém, não apenas possui um sentido histórico significante, mas é o retrato
universal da operação de todas as eras. Os cristãos de Roma, especialmente, se
põem como luz para as nações, o qual se parece a um ídolo de força e magia
àqueles que se submetem às suas leis”.
[2] Em e Ts 2.6-7 temos o retrato do império
romano em que o imperador era seu supremo representante. Esta interpretação vem
da era patrística (dos pais apostólicos) e alguns comentaristas modernos agora
reconsideram esta interpretação. As seitas medievais e muitos escritores
protestantes achavam que a grande apostasia era o papado e o impedimento da
chegada da apostasia no império germânico. Enquanto os comentaristas, por
vingança diziam que a apostasia era a Reforma protestante e o fator impeditivo
da chegada da apostasia era o papado. Eu creio numa repetição do crescente
cumprimento desta e de outras profecias com base histórica na era apostólica e
do velho império romano.
[3] Está bem representado em Apocalipse 13-18
depois da perseguição de Nero.
[4] Compare o quadro histórico de Renan sobre
Nero. Ele crê que não existe exemplo paralelo para este monstro e o chama de un esprit prodigieusement déclamatoire,
une mauvaise nature, hypocrite, légère, vaniteuse; un composé incroyable
d’intelligence fausse, de méchanceté profonde, d’égoïsme atroce et sournois,
avee des raffinements inouïs de subtilité."
[5] Tacito (Ann. XV. 41) fornece como data quarto decimo [ante]
Kalendas Sextiles ... quo et Senones captam urbem inflammaverant.
A data coincidia com a mesma em que Gálio incendiou Roma (Julho 19, ano 364 ou
453 anos antes), e era considerada um mau agouro. Ocorreu no décimo ano do
reinado de Nero, i.é, a.D. 64 Eusébio em sua Crônica de maneira errada aponta o
ano do incêndio como o ano 66.
[6] As arquibancadas do anfiteatro eram do
comprimento de oito estádios, com acomodação para 150.000 mil pessoas. Nero o reconstruiu para abrigar 250.000 e sob
o governo de Vespasiano a capacidade foi aumentada para sentar 385.000 pessoas.
O teatro era cercado por prédios de Madeira que abrigavam lojas (alguns judeus
tinham lojas ali), astrólogos, prostitutas e toda sorte de divertimento. Nero era
extravagante gastando muito para divertir o povo com Panem et Circenses, cf.
palavras de Juvenal.
[7] "Per sex dies septemque noctes," Suetônio. Nero,
38 sex dies,"Tacit. Ann. XV. 4
[8] A duração de nove dias foi comprovada numa
inscrição (Gruter, 61.3). O incêndio de Londres em 1666 durou apenas quarto
dias e varreu uma area de 436 hectares. O incêndio de Chicago durou apenas
trinta e seis horas, nos dias 8 e 9 de outubro de 1871, mas varreu quase toda a
cidade (2.114 hectares), e destruiu 17.450 prédios e as casas de 98.500 pessoas.
[9] Tácito XV. 39: "Pervaserat rumor ipso tempore flagrantis urbis
inisse eum domesticam scenam et cecinisse Troianum excedium." Suetônio.
c. 38: "Quasi offensus deformitate veterum aedificiorum et angustiis
flexurisque vicorum [Nero]incendit Urbem ... Hoc incendium
e turre Maecenatiana prospectans, laetusque ’flammae,’ut ajebat,
’pulchritudine,’Ilii in illo suo scaenico habitu decantavit." Ladrões
e rufiões foram vistos espalhando labaredas pelos prédios, e quando presos
afirmaram que obedeciam ordens. Plínio, o Velho, Xiphilinus, e o autor da
tragédia Otávia, também acusaram Nero de incendiário.
[10] Não se sabe a data certa do massacre dos
cristãos, Mosheim fixou a data em Novembro, Renan em Agosto do ano 64. Várias
semanas ou até meses devem ter passado desde o incêndio da cidade. Se a data da
crucificação de Pedro estiver correta deveria haver um intervalo de um ano desde
a conflagração que teria sido em 19 de julho do ano 64 e o martírio de Pedro no
dia 29 de junho.
[11] “Crucibus affixi,”, diz Tácito. Isto poderia ser aplicável a
Pedro, a quem o Senhor havia profetizado o tipo de morte (Jo 21.18-19).
Tertuliano diz: “Romae Petrus passioni Dominicae adaequatur” (De
Praescript. Haeret., c. 36; compare Adv. Marc., IV. 5; Scorpiace,
15). Conforme uma antiga tradição, a seu pedido, Pedro foi crucificado de
cabeça para baixo, porque não era digno de morrer como foi o seu Senhor. Tal
fato é primeiramente mencionado na Acta Pauli, c. 81, por Orígenes (in Eusébio. H. E., III. 1) e de
maneira mais clara por Jerônimo (Catal. 1); mas, existem dúvidas se este
tipo de crueldade era praticado ocasionalmente, ainda que tais crueldades eram,
geralmente praticadas. (Veja Josefo, Bell. Jud., V. 11, 1). A tradição
diz que a esposa de Pedro também foi martirizada, que foi incentivada pelo
apóstolo enquanto seguia para o lugar de sua execução. Pedro a exortava a que
se lembrasse do Senhor na cruz. Clemente de Alexandria, Strom. VII. 11, citado
por Eusébio, H. E., III. 30. A execução de Paulo por decapitação
indicava que fazia parte do processo legal e regular ou é mais provável que,
pelo menos um ano depois, a perseguição de Nero era tão severa que nem mesmo os
cidadãos romanos eram poupados.
[12] É o que escreveu Gibbon (ch. XVI.), e mais
recentemente Merivale, l.c. ch. 54 (vol. VI. 220, 4a. ed.), e Schiller, l.c.,
pp. 434, 585, seguidos por Hausrath e Stahr. Merivale e Schiller creem que
a perseguição foi dirigida aos judeus e aos cristãos indiscriminadamente. Guizot,
Milman, Neander, Gieseler, Renan, Lightfoot, Wieseler, e Keim defendem ou creem
como verdadeiro o que escreveram Tácito e Suetônio.
[14] Essa é a posição de Ewald. VI. 627, e de Renan, L’Antechist, pp.
159 ss. Renan ingenuamente conjectura de
que os judeus por “inveja” a Clemente de Roma (Ad Cor. 6) traçam a
perseguição a essa divisão entre os judeus e os cristãos.
[15] Orosio (cerca do ano 400), Hist., VII. 7: "Primus Romae
Christianos suppliciis et mortibus adferit [Nero],ac per omnes
provincias pari persecutione excruciari imperavit." Também Sulpício
Severo, Chron. II. 29. Dodwell (Dissert. Cypr. XI., De Paucitate
martyrum, Gibbon, Milman, Merivale, e Schiller (p. 438) negam este fato,
mas, Ewald (VI. 627, em seu Comentário no Apocalipse) e Renan (p. 183) decididamente afirmam que a
perseguição se estendeu às Províncias do império. "L’atrocité commandée par Néron,"
diz Renan, "dut avor des contre-coups dans les provinces et y exciter
une recrudescence de persécution." C. L. Roth (Werke des Tacitus, VI.
117) e Wieseler (Christenverfolgungen der Cäsaren, p. 11) assume que Nero
condenou e proibiu o cristianismo como perigoso para o Estado. Kiessling e De
Rossi encontraram uma inscrição em Pompéia que fala da perseguição sangrenta.
[16] Veja Ap 2.9, 10, 13; 16.6; 17.6; 18.24.
[18] “Os pesquisadores”, afirma Gibbon (Capítulo XVI), “que possuem um olho
nas revoluções da humanidade podem observar que os jardins e circos de Nero no
Vaticano, poluídos com o sangue dos primeiros cristãos, foram contemplados pelo
triunfo e abuso da religião perseguida. No mesmo ponto, um templo foi erigido
pelos cristãos que sobrepuja as glórias antigas da capital, que, por si mesmo
proclama o domínio de um simples pescador da Galileia, estabelecendo leis aos
bárbaros romanos e estendendo sua jurisdição espiritual da costa do mar Báltico
ao Oceano Pacífico”.
[19] Tertuliano menciona essa conexão com a crucifixão de Pedro e a
decapitação de Paulo como ocorrendo no mesmo período. De Praescript. Haer., c.36:
"Ista quam felix ecclesia (a igreja de Roma) cui totam doctrinam
apostoli sanguine suo profuderunt, ubi Petrus passioni Dominicae adaequatur,
ubi Paulus Joannis exitu coronatur, ubi Apostolus
Joannes, posteaquam in oleum
igneum demersus nihil passus est, in insulam relegatur." Compare
com Jerônimo, Adv. Jovin., 1, 26, e em Mat 22.23; e
Eusebéio, História Eclesiástica, VI.5., H. E., VI. 5. Renan (p 196)
conjectura que João estava destinado a iluminar os jardins de Nero, e já estava
coberto de óleo na estaca, mas que teria sido salvo por um acidente ou capricho.
Thiersch (Die Kirche im Apost. Zeitalter, p. 227, terceira edição, 1879)
também aceita a tradição de Tertuliano, mas afirma que ocorreu ali uma
libertação sobrenatural.
[20] Ap 11.7; 13.1; 17.1, 3, 5. Compare com a
descrição feita por Daniel da quarta besta (romana) "terrível, espantoso e
sobremodo forte”, com os “dez chifres”
(Dn 7.7 e ss.).
[21] Ap 17.6.
[22] Ap 18.2. Compare também Ap 6.9-11.
[23] Confessaram o quê? Possivelmente que eram cristãos, que eram tidos pelo
império como um tipo de crime. Se eles se declararam culpados pelo incêndio,
devem ter sido fracos e neófitos que não aguentavam a dor da tortura.
[24] Esta expressão deve ser entendida como
inimigos da humanidade que é a maneira como Tácito acusa os judeus nos mesmos
termos. (Adversus omnes alios hostile odium, Hist. V. 5). E se
cumpre a Escritura de “Sereis odiados de todos por causa do meu nome” (Veja Mt
10.22).
[26] As pessoas o chamavam de Amor et Deliciae
generis humani. Ele nasceu no dia 30 de dezembro do ano 40 d. C. e morreu
no dia 13 de setembro do ano 81. Subiu ao trono em 79, no mesmo ano em que as
cidades de Herculano e Pompéia foram destruídas. Seu reino foi marcado por
muitas calamidades, entre as quais a conflagração em Roma que durou três dias,
e uma praga que deixou milhares de vítimas. Fez o possível para reparar os
danos, e costumava dizer quando nada acontecia naquele dia, "Amici,
diem perdidi." Veja Suetonio, Titus.
[28] Josefo não é muito consistente neste ponto.
Primeiramente afirmou que Tito percebendo que a preservação do templo colocaria
em risco a vida de seus soldados, ordenou que os portões da cidade fossem
incendiados. (VI. 4, 1) e, então, no dia seguinte deu ordens para que apagassem
o fogo. (§ 3, 6, e 37). Sulpício Severo (II. 30) culpou Tito pela destruição,
que achou que fazendo assim poria fim a religião judaica e ao cristianismo. Este
ponto de vista é defendido por Stange, De Titi imperatoris vita, P. I.,
1870, pp. 39-43, e posto em dúvidas por Schürer, l.c. p. 346. Renan (511 ss.), seguido
por Bernays, Ueber die Chronik des Sulpicius Sev., 1861, p. 48, que crê
que Sulpicio escreveu usando uma parte da Histories de Tácito, e que Tito não
teria dado ordens proibindo que o templo fosse incendiado, e sim, que o deixou
à sua própria sorte, quem sabe por algum motivo. Veja também Thiersch, p. 224.
[33] Apocalipse 11.2; c/ com Lucas 21.24. Em Daniel 7.25; 9.27; 12.7, a
duração da opressão sobre o povo judeu é dada como três anos e meio (= 42 meses).
[34] B
Jud. VI. 9, 2-4. Milman (II.
388) faz uma somatória das declarações dispersas de Josefo e chega à cifra de
mortos, desde o começo até o fim da guerra a 1.356.460, e o número total de
prisioneiros de 101.700.
[35] O Templo da Paz mais tarde foi incendiado por
Comodus e não se sabe o que aconteceu com os objetos que foram para lá levados.
[36] B. Jud., VII. 5, 5-7. Josefo
foi ricamente recompensado por sua traição ao povo judeu. Vespasiano deu-lhe
uma casa em Roma, uma pensão anual, a cidadania romana e grandes possessões na Judéia.
Tito e Domiciano continuaram a favorecê-lo. No entanto, seus compatriotas
amaldiçoaram sua memória. Jost e outros historiadores judeus falam muito bem
dele. O rei Agripa, o último dos soberanos indumeus viveu e morreu como humilde
vassalo de Roma até o terceiro ano de Trajano, ao redor do ano 100. Sua irmã
Berenice, uma pervertida sexual por pouco escapou do destino de uma segunda Cleópatra.
O conquistador Tito foi conquistado por seu charme e sensualidade, e queria
elevá-la ao trono do império, mas a insatisfação do povo o forçou a desistir da
ideia. "invitus invitam." Suetônio, Tit. 7. C/ com Schürer,
l .c. 321, 322.
[37] Citado por Eusébio, H. E., III.
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[38] Menção deste fato pode ser vista na epístola
de Barnabé, capítulo 16.
[39] Compare 1 Co 7.18 ss.; At 21.26 ss.
[40] O Dr. Richard Rothe (Die Anfänge der
Christl. Kirche, p. 341 ss.). Thiersch (p. 225), Ewald (VII.
26), Renan (L’Antechr., p. 545), e Lightfoot (Gal., p. 301)
atribuem este mesmo sentido quanto a destruição de Jerusalém.
Excelente texto Pr. João, hoje estava lendo sobre a conversão de paulo e esse texto me ajudou muito para ampliar as informações que já tenho. Grande abraço Pr. João
ResponderExcluirExcelente texto Pr. João, hoje estava lendo sobre a conversão de paulo e esse texto me ajudou muito para ampliar as informações que já tenho. Grande abraço Pr. João
ResponderExcluirAleluia.
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